O Morro da Piedade, no Centro da Capital, tem estado no centro das atenções este ano com uma onda de violência desenfreada que resultou no assassinato de quatro jovens, incluindo inocentes sem passagem pela polícia como os irmãos Damião e Ruan Reis, brutalmente assassinados em março. A questão, no entanto, não está restrita à Piedade. Outros bairros periféricos da Capital sofrem com uma onda de violência e confrontos entre policiais e integrantes do tráfico, que têm gerado tiroteios intensos e deixado moradores acuados.
Nesta semana, os confrontos se desenrolam com intensidade nos morros de Caratoíra e Alagoano, na região da Grande Santo Antônio. Os relatos são de tiroteios intensos há, pelo menos, três dias, o que tem impedido a circulação dos moradores, tornando-os reféns em suas próprias casas.
Os fatos trazem à tona também, e principalmente, como o governo do Estado e a Prefeitura de Vitória resolveram encarar a questão da violência urbana nas periferias. A palavra escolhida é sempre a repressão, enquanto outra tem faltado: a prevenção. Também optaram por encolher os projetos sociais, de geração de emprego e renda e de assistência, mas não economizam no marketing e programas na área, que só têm servido, mesmo, de vitrine política.
Militantes de movimentos sociais relatam que a política de segurança pública do Estado para os bairros mais pobres é investir numa polícia altamente repressora e fortemente armada, o que tem resultado em mortes dos dois lados, tanto de civis quanto de militares. Já políticas para evitar que jovens se envolvam com o tráfico e ofereçam oportunidades reais para que possam melhorar os estudos e ingressar no mercado de trabalho com condições mais igualitárias, têm ficado para trás. Nesse caso, quando se junta o trabalho realizado pelo governo Paulo Hartung com a gestão de Luciano Rezende (PPS), o resultado é, no mínimo, desastroso.
O governo, com seu já conhecido austericismo, tem fechado vagas nas escolas estaduais, terceirizado a saúde pública e gasto muito mais em publicidade do que em políticas efetivas na área social e de direitos humanos. Já a Prefeitura de Vitória escolhe o lado nobre para os seus investimentos, para mostrar serviço, relegando os morros e periferias ao ostracismo. Projetos como o Centro de Referência da Juventude e o Projeto Caminhando Juntos (Cajun) estão quase que paralisados, à medida que o tráfico avança.
O Espírito Santo, que já foi modelo para o policiamento comunitário, tem como realidade um comando da Polícia Militar que ordena subidas ao morro para guerrear com jovens aliciados pelo tráfico.
Essa mesma polícia, no entanto, cede aos apelos do empresariado, como se fosse uma espécie de guarda patrimonial. Para isso, praticamente extingue o policiamento durante o dia para deslocá-lo para ronda noturna nas áreas comerciais dos bairros nobres. Na prática, é uma política de segurança que atende aos apelos midiáticos para proteger o patrimônio dos mais abastados e sobe o morro com aparato de guerra para os confrontos com os que têm menos oportunidade.
Em resumo, nunca se ataca os problemas em sua raiz, combatendo a pobreza, reduzindo as desigualdades sociais e oferecendo oportunidade mais igualitárias para todos os lados da Capital.
Nessa omissão generalizada do poder público, quem “paga” é toda a sociedade capixaba.