Segunda, 29 Abril 2024

Quem pertence a quem

Em março de 2011, a revista Isto É publicou uma reportagem sobre a divisão das bancadas no Congresso Nacional. Divisão essa que não se dava por interesses partidários, como deveria ser, mas por ideologias ou interesses econômicos. Com o título “Para quem o Congresso trabalha”, a reportagem trazia um fatiamento do Legislativo federal em 17 grupos de interesse.



Mas o que chama atenção nesse levantamento é que se destacavam com o maior número de adeptos os grupos que defendiam as empresas e as indústrias, com 273 parlamentares, e os ruralistas, com 160 congressistas.



Esse levantamento nos leva à reflexão sobre os motivos que levam uma construtora a empregar R$ 23 milhões em financiamento de campanha. É mais vantajoso para o projeto econômico comprar um agente político do que utilizar o dinheiro para adequar o empreendimento às normas de sustentabilidade, que envolvem a preservação do meio ambiente, a boa condição de trabalho e renda de seus empregados, a responsabilidade social, etc.



Este ano, para tentar moralizar ou, pelo menos, para tentar passar a ideia de que está tentando moralizar a coisa, a Justiça Eleitoral apertou o cerco nas doações de campanha. Vivendo, porém, no País do jeitinho, evidentemente, os grupos empresariais encontraram uma saída jeitosa para o aperto. Através das doações para os partidos, as empresas continuam colocando suas fichas nos agentes políticos que mais à frente vão atender a seus interesses.



Como na corrida de cavalos, eles apostam nos candidatos que mais se alinham com seu perfil. Mas para essa corrida, além das barbadas, para quem repassaram diretamente o financiamento tiveram a ajuda de alguns bookmakers.



Isso porque as Nacionais dos partidos se encarregaram de distribuir o dinheiro para os cavalos marcados. Isso com um detalhe: como os partidos não precisam declarar as fontes dos recursos, ninguém sabe quem pertence a quem. Ou seja, só com o desempenho do prefeito e vereador nas cidades em que grandes empresas funcionam em relação a esses empreendimentos e suas obrigações para com a comunidade é que saberemos, ou melhor, suspeitaremos da aposta.



Essa distorção é favorecida pela legislação eleitoral, cheia de brechas que políticos e empresários conhecem muito bem, usam e abusam para conseguir seus objetivos. É claro que se trata de utopia achar que o financiamento público de campanha vai resolver o problema, afinal, estamos falando aqui somente das doações ocultas. Não dá para saber o caminho percorrido pelo dinheiro, mas o montante, sim. O problema é o que não entra nos balancetes das prestações de contas. Mas isso é uma outra história.

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