O senador Magno Malta (PR), muito acostumado e fã dos holofotes, talvez tivesse pensado duas vezes antes de processar o padre Romário Hastenreitter, uma das importantes e reconhecidas lideranças da pequena cidade de Boa Esperança, no noroeste do Estado. Isso caso o senador soubesse o tamanho da repercussão que tal atitude dele fosse tomar… E parece que não tanto a seu favor…
Malta acionou o padre na Justiça pedindo indenização por danos morais por injúria, calúnia e difamação, depois de declarações públicas do pároco, que chamou o senador de “inimigo do povo”, quando Magno votou a favor da reforma Trabalhista. Revoltado, padre Romário usou palavras duras, não só na direção de Magno como dos demais senadores do Estado, Rose de Freitas (MDB) e Ricardo Ferraço (PSDB). Mas tal áudio com as declarações do religioso foi parar nas mãos do senador, que não hesitou em dar início ao processo. Mas no cargo que ocupa, Magno está imune a críticas? Mesmo que essas críticas sejam duras, não é direito que os cidadãos as façam? E por que se importar com a fala de um padre numa cidade sem tanta expressão política?
O caso de Magno nos fez lembrar o do prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), que resolveu processar o advogado capixaba Gustavo Varella por comentários feitos por ele em rede social endereçadas à administração da Capital. Rezende está processando o advogado na 1ª Vara Criminal de Vitória pelo crime de injúria, previsto no Artigo 140 do Código Penal, exigindo valor mínimo indenizatório e até prisão de Varella. Segundo quem defende Varella, o colega advogado Bruno Marques, não há nenhum crime nisso: “a acusação é indevida e atenta à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa.Imagine se todo prefeito, governador ou presidente processasse os cidadãos que lhe fazem críticas?”, ponderou Marques. De nada adiantou, Varella continua mais do que nunca crítico do prefeito nas redes sociais e, a cada dia, tendo mais adeptos.
E Magno Malta, também conhecido por duscursos duros e enfáticos, resolveu ir pelo caminho do prefeito da Capital. E parece que o tiro tem saído pela culatra. Após o processo judicial movido contra o padre Romário, noticiado por Século Diário no último sábado (10), houve tamanha repercussão que os moradores de Boa Esperança estão até se organizando para comparecer, em massa, ao Fórum local, no próximo dia 20, data da audiência. E haverá também protesto contra o senador na cidade.
Sem contar a quase sem tamanho repercussão nas redes sociais, que se tonou próxima a uma “guerra santa capixaba” entre apoiadores do ex-pastor evangélico e quem ficou ao lado do padre católico. Os centenas de comentários, além dos contornos religiosos, também tiveram a conotação da já conhecida queda de braço entre “coxinhas” e “petralhas”, como ficaram conhecidos, respectivamente, os que apoiaram a saída da presidente Dilma (PT) e defensores dos atos do governo Temer. Mas, em Boa Esperança e também em outros municípios da região noroeste, padre Romário parece ter bastante apoio.
Magno Malta talvez não soubesse, mas padre Romário tem histórico de luta na pequena cidade, e de luta coletiva. O religioso católico teve papel de protagonista contra a aplicação de agrotóxico por via aérea em lavouras locais, após presenciar um voo rasante de uma aeronave que aplicava o veneno próximo à comunidade de Quilômetro Vinte.
No mesmo dia, se reuniu com o prefeito, vereadores, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e outros atores sociais ligados à causa agroecológica e logo estava criada uma rede para repensar esse tipo de aplicação de agrotóxicos em Boa Esperança.
O movimento cresceu, houve coleta de assinaturas num abaixo-assinado, que alcançou quase dois mil nomes, mais do que o dobro do necessário, e tudo isso deu origem a um projeto de lei. Em dezembro do ano passado, a vitória. O projeto de iniciativa popular – o primeiro do município – para proibir a aplicação aérea de venenos agrícolas foi aprovado por unanimidade.
Padre Romário não é de se calar, nem de se intimidar. Em função do movimento contra a aplicação de agrotóxicos por vias aéreas, recebeu até ameaça de morte, mas manteve-se firme. Diante da medida de Magno, reagiu da mesma maneira, combativo.
Com tamanha repercussão do caso, o senador, pelo visto, já ponderou sobre o processo, tanto que tem falado em conciliação e até retirada do mesmo. Afinal, em ano eleitoral, qualquer arranhão à imagem é temerário.
Mas pemanece a pergunta: qual seria a intenção de Magno, ao iniciar uma ação com anos de trâmite na Justiça, a não ser intimidar o padre Romário?