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Eloá Puri expande horizontes da música indígena contemporânea

Em uma nova fase de seu movimento de retomada cultural, Eloá Puri se distancia da suavidade de seu primeiro disco de estúdio, Luare, e ressurge mais enérgica e radical em seu novo show, Orutuna, que estreou nesse domingo (29) no Teatro do Sesi, em Vitória. O repertório reúne canções inéditas e faixas do disco anterior em arranjos mais eletrônicos, executados pela nova banda que acompanha a artista, formada pelo saxofonista Vitor Lima, a baterista Nana Arrivabene e a tecladista Thaysa Pizzolato. 

A formação reduzida atende à proposta de trazer uma linguagem moderna para transmitir a mensagem de libertação e potência criativa representada em Orotuna, palavra que significa valentia, na língua Puri. Ao lado de projetos como Kaê Guajajara, Brisa Flow, e Cabokaji, Eloá se firma como uma voz representativa da música indígena contemporânea, ao incorporar com ousadia elementos modernos às linguagens rítmicas afro e indígenas diaspóricas. 

“O show foi feito para contar a trajetória da música indígena contemporânea sob minha ótica, minha vida. Todo e qualquer enredo dentro das minhas músicas dizem sobre minha cosmovisão, visão de homem e de mundo, e tudo isso não existiria sem respeitar minha ancestralidade, minha origem familiar e territorial. A demarcação territorial também consiste em ocupar os lugares de escuta onde ecoe não só a minha voz, mas a de muitos”, reflete a artista. 

Nascida na região do Caparaó Capixaba, Eloá se dedica à música há oito anos. Em 2022, adotou o nome étnico Puri, como um ato de apropriação da própria ancestralidade, trazendo a resistência anticolonial para o centro de sua expressão estética e militância indigenista.

No ano de 2023, foi a artista mais indicada ao Prêmio da Música Capixaba, vencedora da categoria de Melhor Composição com a música Você Não Me Conhece, segunda faixa de seu álbum de estreia Luare, que rendeu ainda o prêmio de melhor produção musical para Daniel Silva. A colaboração com o produtor continua no próximo EP em processo de finalização, intitulado Um Raio Não Cai Duas Vezes No Mesmo Lugar, que trará faixas presentes no setlist do novo show. 

Temas como a relação com a natureza, o devir animal e a liberdade de desejar e estar no mundo aparecem ao longo das composições, que  cobrem um longo período de criação, conectando diferentes momentos de sua trajetória criativa.

“Meu processo de composição não é muito linear ou segue uma metodologia fixa. Algumas músicas foram feitas em 2017, outras neste ano. Algumas foram rearranjadas e adaptadas de ideias mais antigas. Mas todas com um norte muito bem estabelecido: o respeito ao desejo e à liberdade”, descreve Eloá.

Bianca Meneghetti

Próximos passos

Ainda neste mês, a cantora levará o show Orutuna no palco do Mate Festival, em Coimbra, Portugal. Ela destacou que a experiência será importante para ecoar a música indígena contemporânea na Europa e diante de representantes do mercado musical global, que estarão presentes no evento. 

Eloá Puri também foi anunciada nesta semana entre os semifinalistas do 3º Prêmio da Música Capixaba, na categoria de Artista Solo ou Duo, refletindo seu crescente reconhecimento no cenário musical.

Após a apresentação em Portugal, ela planeja focar em diversos projetos, além de continuar a produção do novo EP e sua agenda de shows. “Ainda este ano pretendo lançar um single com videoclipe, ser artista independente muitas vezes exige tomar conta de mais de um projeto simultaneamente”, acrescenta a artista .

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