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Dossiê aponta oito mortes violentas de LGBTI+ no Estado em 2021

Número é questionado por Deborah Sabará, da Associação Gold, que alerta para subnotificação de casos 

O dossiê “Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil” aponta, no Espírito Santo, o registro de oito mortes em 2021, ocupando o 14º do ranking no País. Entretanto, o número é questionado pela coordenadora de Ações e Projetos da Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (Gold), Deborah Sabará. Ela alerta para a subnotificação de casos, em virtude de fatores como o preconceito das famílias das vítimas, despreparo no atendimento nas delegacias e problemas no Boletim de Ocorrência (BO) online.

O dossiê foi elaborado pelo Observatório de Mortes e Violência LGBTI+ no Brasil, Acontece Arte e Política LGBTI+, Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), com apoio do Fundo Brasil. 

A posição do Estado considera o índice de 1,95 mortes por um milhão de habitantes, atrás de São Paulo (42), Bahia (30), Minas Gerais (27), Rio de Janeiro (26), Ceará (20), Pernambuco (18), Paraná (18), Pará (17), Alagoas (16), Maranhão (15), Mato Grosso (12), Goiás (10) e Mato Grosso do Sul (9).

As oito mortes violentas ocorridas no Estado aconteceram nos municípios de Vitória (2), Viana (1) e Guarapari (1), na Grande Vitória; Linhares (1) e Colatina (1), no norte e noroeste; e Itapemirim (1) e Rio Novo do Sul (1), no sul. Em Guarapari, a vítima foi a do ex-presidente da Associação LGBT do município e organizador da parada gay na cidade, Jilson Santos, no bairro Santa Mônica, em setembro último.

Deborah Sabará relata que, em alguns casos, a família oculta a orientação sexual da vítima, o que contribui para subnotificações. Muitas vezes, apesar de não ocultar, solicita, em depoimento na delegacia, para que isso não seja registrado, o que em muitos casos é acatado, demonstrando, para ela, falta de preparo da polícia.
A coordenadora de Ações e Projetos da Gold também faz críticas ainda ao BO online, já que as perguntas sobre orientação sexual são mal formuladas, dificultando a compreensão das pessoas que não têm muito entendimento sobre o que é orientação sexual e identidade de gênero.

O dossiê não indica recorte de raça ou cor por unidade federativa, mas Deborah Sabará destaca que, entre as pessoas trans, as pretas e pardas estão em situação ainda maior de vulnerabilidade social. 

Ela exemplifica com o fato de, no último mês, três travestis foram mortas no Espírito Santo, todas negras. Os assassinatos ocorreram na Serra e Vila Velha, na Grande Vitória; e em Cachoeiro de Itapemirim, no sul. No crime ocorrido na Serra, a vítima estava a caminho do ponto de prostituição. Nos demais, já estavam no ponto.

Sabará salienta ainda que, quando se trata de mortes de pessoas da comunidade LGBTI+, muitos procuram encontrar uma justificativa para o ocorrido. “Há uma busca por culpabilizar a vítima. Em casos como o de ser assassinado por uma pessoa com quem saiu logo após conhecê-la, muitos dizem ‘ah, mas levou quem não conhece para casa’. É como fazem com as mulheres que são assediadas no ônibus e se justifica na roupa curta da vítima, por exemplo”, diz.

Em todo o Brasil, foram 316 mortes violentas de LGBTI+. Os grupos mais atingidos, com mais de 90% dos casos, são a população de homens gays, representando 45,89% do total, o que corresponde a 145 mortes; e as travestis e mulheres trans, com 44,62% dos casos, ou seja, 141 mortes. Foram encontrados ainda casos contra mulheres lésbicas, com 3,80% das mortes (12 casos).
Os homens trans e pessoas transmasculinas corresponderam a 2,53% dos casos (oito mortes). As pessoas bissexuais equivaleram a menos de um por cento (três mortes); e as identificadas como outros segmentos também corresponderam a menos de um por cento dos casos (três mortes). Houve, ainda, quatro pessoas cujo segmento (orientação sexual e/ou identidade de gênero) não foi identificado, representando 1,27% do total.

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