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Homicídios de jovens negros aumentaram mais de cinco vezes em 20 anos no Estado

Jussara Baptista e Caroline Kobi
 
Pesquisa divulgada pelo Observatório da Criança e do Adolescente da Fundação Abrinq revelou um dado alarmante. Num período aproximado de 20 anos, o número de jovens negros até 19 anos vítimas de homicídios cresceu mais de cinco vezes no Espírito Santo. De acordo com os dados do estudo, em 1997, em números absolutos, foram 52 assassinatos. Já em 2016, a impressionante soma de 253. Os dados incluem os números de pretos e pardos, classificação de recorte de cor/raça utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, juntos, formam a categoria de negros, amplamente reconhecida sociologicamente. 
 
O estudo indica que, no total, os homicídios de jovens (de 1997 a 2016) passaram, em números absolutos, de 170 para 298. Sendo que, no último ano pesquisado, 253 foram de negros, um percentual de 84,89%. Ou, em outras palavras, em cada 10 assassinatos de jovens capixabas no ano de 2016, oito foram de negros (pretos e pardos). 
 
Os dados demonstram também que, no geral, sem o recorte de raça/cor, o Estado é o segundo do País em mortes de jovens até 19 anos. Em 2016, do total de assassinatos, 23,8% atingiram essa faixa etária, um crescimento de 75,29% em relação a 1997. 
 
A pesquisa indica, ainda, que a morte de brancos aumentou quase duas vezes no período de 20 anos, passando de 12 (1997) para 21 (2016). 
 
Negros e Pardos  
 
O professor do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pesquisador das relações étnico-raciais, Gustavo Forde, explica que, quando se fala em categoria de negros, o termo automaticamente já engloba todas as estatísticas referentes a pretos e pardos, que são as classificações utilizadas pelo IBGE e também por outros pesquisadores/institutos. “Quando falamos que a população de negros no Espírito Santo gira em torno de 57%; estamos incluindo aí o percentual de pardos [em torno de 45%] e pretos [em torno de 7,9%]”, explicou. 
 
Segundo Gustavo Forde, os números da pesquisa da Fundação Abrinq confirmam indicadores de outros estudos revelando que o Brasil sofre um fenômeno de genocídio de sua população negra, o que tem atingido mais os jovens. Forde explica que, desde a abolição, no século XIX, o estado brasileiro adotou uma política de “branqueamento” ou “miscigenação” de sua população nos aspectos culturais e também no físico, de genótipo. 
 
“Isso se deu de várias formas e uma delas foi pela morte sumária de negros, o que tem se perpetuado. Quando o Estado torna vulnerável uma parcela da sociedade, que é moradora de áreas com maior população negra, por ausência de políticas públicas nas áreas de lazer, educação, saúde, geração de emprego e renda, habitação, esporte, por exemplo, isso se reflete no crescimento da taxa de homicídio dessas pessoas. Então, essas taxas são de responsabilidade do Estado brasileiro e é reflexo do racismo institucional”.   
 
Gilberto Campo, o Gilbertinho, que integra a entidade capixaba do movimento negro Círculo Palmarino-ES, afirma que, ao longo dos 20 anos, mesmo com oscilações para mais ou menos, as mortes de jovens negros segue numa crescente. “Esses dados só reforçam a denúncia que temos feito de que o genocídio da juventude negra nunca cessou. São dados gritantes e assustadores, reflexo da falta de políticas públicas e ausência do Estado, que atua mais na repressão, nessas comunidades. São dados que devem nos envergonhar, envergonhar a sociedade”.   
 
Metodologia
 
De acordo com a administradora-executiva da Fundação Abrinq, Heloísa Oliveira, os dados utilizados na pesquisa são do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e também do Mapa da Violência. Heloísa Oliveira afirma que o estudo monta o cenário com as principais estatísticas sobre criança e adolescente disponibilizadas pelas fontes oficiais. “O ano de 2016 é a última informação disponível com indicadores principais por região e até por município”, explicou.
 
Para a representante da Fundação Abrinq, “as pesquisas não atendem a algumas situações. Por exemplo, como falam muito sobre áreas urbanas, acabam não tendo dados reais sobre crianças e adolescente que não têm acesso à saneamento básico”.  Para ela, “em ano eleitoral, é importante sabermos a situação dos jovens brasileiros”. 

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