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Estudantes liberam portões da Ufes em Goiabeiras

Diretório Central estabeleceu acordo com a Reitoria; greve de professores e servidores continua

Foto Leitor

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) decidiu desbloquear os portões do campus de Goiabeiras, em Vitória, nesta segunda-feira (22). A decisão se deu em acordo com a Administração Central, que convocou uma sessão extraordinária do Conselho Universitário para o próximo dia 2 de maio, para tratar das pautas estudantis.

A Associação dos Docentes da Ufes (Adufes) deu início ao bloqueio dos portões na segunda-feira passada (15), marcando o começo da greve dos professores. Após uma notificação extrajudicial da Reitoria, a Adufes chegou a anunciar que liberaria os acessos na última quinta-feira (18), mas o DCE decidiu assumir a responsabilidade de manter as barricadas, engrossando o movimento com pautas próprias.

Em comunicado nas redes sociais, o DCE afirma que as revindicações vêm sendo colocadas há algum tempo pelo movimento estudantil, mas sem uma sinalização de acolhimento. Apesar disso, os estudantes entenderam como uma vitória o fato de ter sido marcada a sessão do Conselho Universitário.

“Será construída uma agenda de lutas dos estudantes da Ufes e reiteramos que a retirada das barricadas neste momento não encerra as mobilizações feitas pelo movimento estudantil; só a luta muda a vida e a universidade que queremos”, diz o comunicado.

Entretanto, a Reitoria queria que o desbloqueio fosse realizado já na sexta-feira (19), e chegou a publicar uma nota oficial ameaçadora: “A Administração Central da Ufes manifesta que reconhece a legitimidade das pautas apresentadas e a luta do movimento estudantil, se colocando à disposição para a escuta e o diálogo, mas afirma que será impelida a adotar as medidas necessárias para a abertura imediata dos portões de acesso ao campus de Goiabeiras, a fim de garantir o direito ao trabalho e o direito constitucional de ir e vir a toda a comunidade interna e externa à Universidade”.

A Administração Central afirmou ainda que “apesar das inverdades (fake news) que estão circulando nas redes sociais, a gestão da Ufes vem tratando a greve com seriedade e responsabilidade, cuidando para que a comunidade seja minimamente afetada pelos atos cometidos pelo movimento grevista docente e pelo movimento estudantil, como a violação de direitos transindividuais”.

A principal polêmica relacionada ao bloqueio dos portões no início da greve foi o não funcionamento do Restaurante Universitário (RU) e da Escola Experimental, da Prefeitura de Vitória. A Adufes alegou que havia comunicado à Reitoria que permitiria a entrada pelo Portão Norte visando o funcionamento dessas duas instituições, e chegou a comprar marmitas para os estudantes. No segundo dia de greve, com os ruídos desfeitos, e o RU e a escola voltaram a funcionar.

Para esta segunda-feira, às 18h30, está prevista a realização de uma reunião do Conselho de Entidades de Base (CEB) do DCE, que reúne representantes dos centros e diretórios acadêmicos dos diversos cursos da Ufes. Em pauta, está a possibilidade de deflagração de greve estudantil; organização de indicações para um grupo de trabalho institucional; e a organização do Congresso dos Estudantes da Ufes (Coneufes).

A Adufes, por sua vez, preparou uma programação mais descontraída para o início de uma nova semana em greve. Pela manhã, acontecem rodas de conversa sobre o movimento grevista e uma apresentação sobre pesquisa, políticas de escrita e lutas, com a docente Janaína Madeira Brito. Às 14h, haverá um novo debate sobre direitos para neurodivergentes, com a presença do vereador André Moreira (Psol). Às 16h30, está prevista uma apresentação musical de Gaspar Paz. A tenda da associação está montada no Portão Norte.

Nesta quarta-feira (24), a Adufes realizará ação do movimento grevista no campus de Alegre, no sul do Estado. Na última quinta-feira, atividade semelhante foi realizada no campus de São Mateus, no norte, com discussões e esclarecimentos e produção de cartazes. Nesses dois campi e no de Maruípe, em Vitória, não foram feitos bloqueios em portões de acesso.

Sem acordo

Na última sexta-feira (19), em Brasília, foi realizada a quarta rodada da Mesa Específica e Temporária da Carreira com os representantes da greve em nível nacional. O Governo Federal apresentou como proposta reajuste de 9% a partir de 2025 e de 3,5% em 2026, sem nenhum valor para 2024, o que foi recusado pelo movimento.

Os docentes da Ufes cobram 22,71% de reajuste salarial em três parcelas iguais de 7,06%, nos meses de maio de 2024, 2025 e 2026. 

No Brasil, a greve dos docentes atinge mais de 24 universidades, institutos federais e Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefets) e deverá contar com mais nove adesões nos próximos dias, como aponta o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN). O movimento é por tempo indeterminado.

Na última quinta-feira, em Brasília, foi realizada a Marcha dos Servidores Públicos Federais, incluindo outras categorias fora do âmbito educacional que também realizam movimentos de paralisação. Uma caravana saiu do Espírito Santo para participar da mobilização.

Já os técnico-administrativos da Ufes, que deflagraram greve no mês passado, reivindicam reajuste salarial de 34,32%, divididos em cerca de 10% nos anos de 2024, 2025 e 2026. O Governo Federal também não acenou para essa possibilidade em 2024, jogando a questão para os próximos dois anos, com índices de 4,5%. Os servidores também reivindicam reestruturação da carreira, já que vários cargos foram extintos, o que impossibilita a realização de concurso público.

Os docentes e profissionais técnico-administrativos do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) também estão em greve por recomposição salarial, reestruturação de carreira para os técnico-administrativos e recomposição orçamentária e de pessoal.

As pautas do DCE da Ufes, por sua vez, incluem: revogação da resolução que associa assistência estudantil ao calendário letivo; jantar no campus de Maruípe; revogação de portaria que restringe manifestações culturais; melhoria na iluminação do campus; implementação de cotas trans e unificação do sistema quanto ao nome social; aumento da assistência para estudantes com deficiência; criação de comissão de avaliação de inclusão e acessibilidade; ampliação de acessibilidade no Restaurante Universitário (RU); e reabertura do “RUzinho” de Goiabeiras.

Outras pautas

Além do reajuste, os docentes cobram o “revogaço” das medidas do Governo Bolsonaro, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 32, que trata da reforma administrativa, que ainda tramita no Congresso Nacional.

Soma-se a esse cenário, segundo a Adufes, a precarização das condições de trabalho e o subfinanciamento das universidades federais, institutos federais e centros federais de educação tecnológica. Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que 100% das universidades federais receberam, entre 2010 e 2022, valores inferiores ao necessário para manter o patamar de despesas por matrículas.


Portões da Ufes permanecem bloqueados em mais um dia de greve

Reitoria fez notificação à Adufes, mas o Diretório dos Estudantes decidiu manter bloqueio por mais um dia


https://www.seculodiario.com.br/educacao/portoes-da-ufes-permanecem-bloqueados-em-mais-um-dia-de-greve

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