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​Audiência do caso Luisa Lopes está marcada para 1º de julho

Expectativa da mãe da vítima é que as testemunhas compareçam, ao contrário do que ocorreu na primeira audiência

Está marcada para o dia 1º de julho, a segunda audiência de instrução do caso Luisa da Silva Lopes, modelo que morreu em frente ao Clube dos Oficiais, em Camburi, Vitória, após ser atropelada por Adriana Felisberto Pereira, corretora de imóveis que dirigia embriagada. A proximidade da data, segundo a professora Adriani Luiza da Silva, mãe da vítima, tem causado muita ansiedade, já que sua expectativa é de que as três testemunhas do caso compareçam, ao contrário do ocorrido na primeira audiência, em outubro do ano passado.

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“Espero que estejam lá para que a justiça seja feita”, diz Adriani, destacando que as testemunhas foram convocadas para ambas audiências. Adriani se queixa da morosidade da justiça no caso, que, acredita, “não é exceção, é regra”.

A ansiedade, afirma, não é somente por causa da expectativa diante da presença ou não das testemunhas, mas porque a audiência a faz reviver a perda da filha. “Luisa era uma pessoa que tinha um futuro pela frente, interrompido por uma motorista embriagada que tem que pagar pelo que fez. Se não pagar, a gente não vai mais acreditar na justiça terrena”, destaca.

Apesar de cada passo do processo fazer Adriani relembrar o momento da perda, hoje ela afirma conseguir lembrar de Luisa com felicidade, não somente com dor. Entretanto, ainda assim, considera difícil conviver com a morte da filha. “Tento não deixar a ansiedade tomar conta. Estamos tentando levar adiante. Tenho que aprender a lidar com isso, eu sei, mas é complicado. O gatilho sempre vem com uma audiência, com uma lembrança qualquer”, relata a professora, que continua licenciada, pois ainda não conseguiu retornar ao trabalho.

O crime ocorreu em abril de 2022. Em dezembro do mesmo ano, Adriana Felisberto foi denunciada à Justiça pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES). Entretanto, não foi pedida sua prisão, o que foi contestado pela mãe da vítima. “Diante de tantas provas, meu sentimento é de indignação”, desabafou na ocasião.

Além das provas de que a corretora foi responsável pelo atropelamento, Adriani recordou as palavras ditas pela mulher que atropelou sua filha, que se preocupou muito mais com o estado em que se encontrava seu carro do que com a vítima, inclusive, referindo-se a Luisa com frieza e discriminação, ao proferir frases como “ela provavelmente era uma empregada doméstica sem importância” e “não quero saber dela, não”.

A promotoria ratificou os argumentos levantados na investigação policial, quando a Polícia Civil (PC) chegou à conclusão de homicídio doloso duplamente qualificado, levando em consideração questões como o estado de embriaguez da motorista, o fato de dirigir em alta velocidade, a frieza em torno da morte causada, e o clamor social diante da morte da vítima, uma vez que houve protestos, sinalizando, entre outros pontos, que ela era uma “pessoa de bem”.
A PC representou pela prisão preventiva da indiciada e suspensão de seu direito de dirigir. A conclusão do inquérito e a representação foram enviadas para o MPES. A motorista, pela investigação, pode pegar de 12 a 30 anos de prisão. A Promotoria alega que não pediu a prisão “porque a liberdade dela não oferece riscos, além de levar em consideração que a mulher que cometeu o crime tem residência, emprego, é ré primária, genitora de criança em tenra idade, e faltam evidências de que não esteja cumprindo as medidas cautelares definidas em audiência de custódia no dia seguinte ao crime”.
Como o crime aconteceu
Segundo a Polícia Civil, Adriana saiu da Serra rumo a um bar em Jardim Camburi. A pessoa que a acompanhava e que era sua carona no carro afirmou, durante as oitivas, que elas beberam água e comeram caranguejo. O estabelecimento não conta com câmeras de videomonitoramento, mas esse relato pôde ser desmentido por meio de imagens postadas nas redes sociais e da comanda. No Instagram, Adriana postou uma foto no local onde é possível ver caranguejos e um copo de cerveja. Na comanda, consta a consumação de cerveja, e não de água.
Em seguida, elas foram para um bar no Triângulo, na Praia do Canto. Novamente, a pessoa que a acompanhava conta uma versão inverídica, afirmando durante as investigações que Adriana tomou somente dois goles de cerveja e parou, por não estar se sentindo bem. Entretanto, as câmeras de videomonitoramento mostram que ela levou o copo de cerveja à boca 23 vezes em cerca de 30 minutos. O consumo da cerveja é comprovado também por meio da comanda.
Ainda é possível verificar, por meio das imagens fornecidas pelo estabelecimento, que Adriana e a pessoa que a acompanhava começaram a interagir com a mesa ao lado. Em um certo momento, um homem que estava nessa mesa levanta e oferece vodka para a corretora de imóveis. Ela não somente toma quando ele a oferece pela primeira vez, mas também em outras ocasiões, pois ele ofereceu mais de uma vez, e ela também solicitou a bebida algumas vezes. Ao todo, segundo a PC, ela levou o copo de vodka à boca 24 vezes durante o período em que este no bar. Inclusive, o último gole foi cerca de 10 minutos antes do atropelamento.
Na cena do crime, a Avenida Dante Michelini, constatou-se, de acordo com a PC, que a motorista estava em alta velocidade, dirigindo a 72 km/h em um local cuja velocidade máxima é de 60 km/h. Luisa foi projetada a uma distância de 40m, e sua bicicleta, a 51m. Foi constatado, ainda, que a vítima, no início da travessia na faixa de pedestre, tentou desviar do veículo, que vinha em alta velocidade, mas não obteve êxito.

Quando o crime aconteceu, foi ventilada a possibilidade de um terceiro veículo envolvido, que teria atropelado Luisa e, depois, colidido no carro de Adriana, uma vez que a lateral do automóvel da corretora estava amassada. Entretanto, foi descartada essa hipótese, sendo o amassado na lateral resultado de algum outro acidente.

A causadora do atropelamento estava com sua capacidade psicomotora alterada não somente por causa das bebidas alcoólicas que havia ingerido, mas também por ter tomado alguns remédios controlados, como Prebictal, cuja bula alerta para o fato de que pode ocasionar alteração na capacidade de dirigir, e Zolpidem, que pode causar sonolência e insônia. Embora o sinal estivesse aberto para a motorista e fechado para a ciclista, diante dos fatores como embriaguez e alta velocidade, a responsabilidade da motorista não pode ser eximida.
Comoção
A morte da modelo causou grande comoção. Uma manifestação em frente ao Clube dos Oficiais foi feita cinco dias após o atropelamento. O ato contou com cortejo de bicicleta desde a Universidade Federal do Estado (Ufes), onde a jovem estudava Oceanografia, até o local do crime, e bateria de carnaval, capoeira, dança, todos projetos dos quais Luisa participava.
Leonardo Sá

Em dezembro de 2022, foi inaugurado, no Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN) da Ufes, o prédio Luisa da Silva Lopes, dedicado ao Módulo III da Pós-Graduação, no campus de Goiabeiras. O nome foi uma escolha da própria comunidade universitária, por meio de edital cultural. Ao completar um ano do crime, foi realizada em frente ao Clube dos Oficiais uma nova manifestação pela memória de Luisa e por justiça. A mobilização foi organizada pela frente Justiça por Luisa Lopes, formada por familiares e amigos, além de coletivos de cicloativismo.


‘Diante de tantas provas, meu sentimento é de indignação’

Mãe da modelo Luisa Lopes contesta MPES por denunciar à Justiça corretora que atropelou sua filha, mas não pedir prisão


https://www.seculodiario.com.br/justica/diante-de-tantas-provas-meu-sentimento-e-de-indignacao

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