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‘A saída é continuar resistindo e denunciando os crimes’

A fusão entre a Aracruz Celulose (Fibria) e a Suzano, anunciada oficialmente nesta sexta-feira (16), tende a intensificar os crimes socioambientais praticados pelas duas gigantes do mercado de celulose nos territórios onde se instalam, promovendo desertificação e empobrecimento das comunidades rurais e desvitalizando toda a economia dos municípios afetados.

A avaliação é do Movimento dos Pequenos Agricultores no Estado (MPA), uma das organizações sociais do campo que lutam para sobreviver e manter a dignidade em meio aos desertos verdes das papeleiras, juntamente com quilombolas e indígenas. “A única saída é continuar resistindo”, afirma Aloisio Souza da Silva, técnico em agropecuária, geógrafo e membro da coordenação do MPA em Pinheiros.

“A saída não é a curto prazo. Se não fizermos nada hoje, vão se passar 50 anos e não teremos saído do lugar. É preciso ter consciência da escala e do tamanho desse projeto do grande capital”, adverte.

Aloísio conta que tem crescido o número de fusões, incorporações e associações entre empresas ligadas ao agronegócio e ao setor de silvicultura, principalmente na América Latina. Ao contrário dos anos 1960 a 1990, quando houve uma intensa industrialização, o século XXI trouxe um movimento de reprimarização, com presença cada vez maior dos setores de economia primária, como o agropecuário, de celulose e mineração.

Essa onda reprimarização intensifica os oligopólios (poucos vendedores) e os oligopsônios (poucos compradores) ao redor do mundo. É quando o capital deixa de ter uma localização específica e os estados nacionais perdem sua função, seu poder. “As fronteiras nacionais são diluídas”, diz.

Hoje, explica, “o agro é pop, o agro é tudo”, porque ele que tem produzido o superávit da balança comercial brasileira. “São Paulo tem déficit na balança, porque é o estado mais industrializado”, exemplifica.

No campo, no dia a dia da produção agrícola familiar, os pequenos proprietários rurais – assim como os médios e mesmo os grandes – deixam de ser os comandantes dos preços dos produtos que eles mesmos produzem, pois são matéria-prima para os negócios das grandes corporações mundiais.

Monopólio pelo uso, não mais pela posse

“O poder fica na mão do grande capital”, diz Aloísio. Os setores agroflorestal e alcooleiro, diz, não compram mais terras, trabalham agora com a lógica do arrendamento e da inserção do proprietário no mercado. “O monopólio da terra pelo capital não é mais pela posse, mas sim pelo uso”, conta.

E quanto maiores as corporações do capital, por meio das fusões, incorporações e associações, como a que aconteceu entre Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano, mais empobrecido ficam os proprietários das terras, seus vizinhos e seus municípios e regiões como um todo.

“Só vai piorar porque o proprietário da terra perde a autonomia sobre o processo produtivo, fica sob o comando da empresa. E o interesse dela é lucrar. Ela fica lá enquanto está lucrando. Depois, quando o solo se exaure, ela migra de atividade ou de região”, explica. “Não tem compromisso com o desenvolvimento das regiões, com as populações locais, com a vitalidade dos municípios”, denuncia, lembrando o litoral norte capixaba, com terras abandonadas pela Aracruz Celulose (Fibria), depois de décadas de exploração insustentável. “O custo com fertilizante inviabiliza a continuidade da produção”, diz.

A saída, reafirma o líder camponês, é denunciaros crimes ambientais e trabalhistas cometidos. O empobrecimento das populações locais e dos municípios pode ser verificado pelos indicadores sociais e econômicos, orienta. “Conceição da Barra tem os piores índices de toda a região norte. Se o eucalipto trouxesse mesmo desenvolvimento, seria um dos municípios mais ricos do Estado”, argumenta.

E continuar com o trabalho de resistência, para manter as famílias no campo, produzindo alimento saudável para o campo e a cidade, produzindo água, cuidando do solo, da biodiversidade, do clima. É organizar as populações atingidas por meio de cooperativas, movimentos, sindicatos, e por meio da diversificação da produção, da descoberta de novos locais de comercialização, da organização da juventude.

“Não tem mais pra onde migrar. Vamos para as grandes cidades? Vamos pro norte do país? Não! Temos de ficar, resistir, lutar”, afirma.

Gigantes em números

A Aracruz Celulose (Fibria) é líder mundial na produção de celulose de eucalipto. Com capacidade produtiva de 7,25 milhões de toneladas de celulose por ano, a companhia conta com unidades industriais localizadas em Aracruz (ES), Jacareí (SP) e Três Lagoas (MS), além de Eunápolis (BA), onde mantém a Veracel em joint-operation com a Stora Enso.

A companhia possui 1,056 milhão de hectares de terra sob sua propriedade, 633 mil hectares de plantações de eucaliptos. A celulose produzida é exportada para mais de 35 países.

A Suzano é a segunda maior produtora global de celulose de eucalipto, comercializada em 31 países, e papel, vendido em mais de 60 países. No Brasil, a sede administrativa fica em São Paulo (SP), havendo mais cinco unidades industriais, sendo três paulistas (uma em Limeira e duas em Suzano), uma na Bahia (Mucuri) e uma no Maranhão (Imperatriz).

Os plantios de eucaliptos somam 562 mil hectares – em áreas próprias, arrendadas e fomentadas – concentrados na Bahia, no Espírito Santo, em São Paulo, em Minas Gerais, no Maranhão, no Tocantins, no Pará e no Piauí.

No exterior, o escritório comercial é na China e as subsidiárias estão nos Estados Unidos, Suíça, Inglaterra e Argentina. Já a FuturaGene – a primeira empresa do mundo a conseguir aprovação para o uso comercial de uma variedade de eucalipto geneticamente modificado – conta com laboratórios de pesquisa no Brasil, em Israel e na China.

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