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Emissões de pó preto aumentam na Grande Vitória durante a pandemia, aponta ONG

Sobre os demais poluentes, o próprio Iema mostra que Vale e ArcelorMittal são as maiores emissoras da Grande Vitória

Leonardo Sá

A concentração de pó preto aumentou em oito das dez estações de monitoramento da Grande Vitória, quando comparado os meses de abril de 2020, 2019 e 2018. A constatação é de uma análise feita pela ONG Juntos SOS ES Ambiental, a partir de dados disponibilizados– de forma pouco visível, é verdade – pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) em seu site.

Na estação do Hospital Dório Silva, em Vitória, os números de abril de 2018, abril de 2019 e abril de 2020 são, respectivamente: 3,3; 3,4; e 4,5. Na estação da ArceloMittal Tubarão, na Serra: 4,7; 3,0; e 2,7. Em Jardim Camburi/Vitória: 5,6; 2,5; e 2,9. Enseada do Suá/Vitória: 9,2; 5,6; e 6,3. Centro/Vitória: 3,0; 3,0; e 2,9. Ibes/Vila Velha: 2,1; 2,2; e 2,5. Centro/Vila Velha: 1,5; 1,5; e 1,9. Vila Capixaba/Cariacica: 5,3; 4,5; e 7,5. Hotel Senac/Ilha do Boi/Vitória: 1,6; 2,2; 4,1; Clube Ítalo Brasileiro/Ilha do Boi/Vitória: 2,7; 2,6; e 4,1. Os dados de maio deste ano ainda não foram divulgados pelo Iema. 


“A poeira sedimentável na RMGV, mesmo com pandemia, isolamento social e redução do fluxo veicular, continua firme e forte em 80% das estações de monitoramento. Outra comprovação de que os inventários de fonte não traduzem a realidade das emissões veiculares e da ressuspensão de vias”, publicou a ONG suas redes sociais.

Já o monitoramento dos demais poluentes do ar na região metropolitana foi alvo de um relatório publicado na última quinta-feira (18) pelo Iema, que avaliou as concentrações horárias de seis poluentes registradas na estação de monitoramento Enseada do Suá, em Vitória, além dos dados meteorológicos registrados na estação Carapina, na Serra.

A estação Enseada do Suá, argumenta o Iema, “localiza-se em ponto central da RGV, sendo diretamente impactada por fontes de emissão veiculares e industriais oriundas, principalmente, do complexo de tubarão”. Dela foram obtidos ainda dados sobre direção e velocidade dos ventos. Já os dados de temperatura, precipitação pluviométrica umidade relativa e radiação solar foram obtidos da estação Carapina.

As concentrações de poluentes medidsa na Enseada do Suá entre 24 de março e 30 de abril de 2020 foram comparadas com as registradas no mesmo período de 2019.

No relatório, o Instituto enfatiza a redução de três dos seis poluentes analisados: óxido de nitrogênio (NO), dióxido de nitrogênio (NO2) e monóxido de carbono (CO), de 65%, 24% e 34%, respectivamente.

As partículas inaláveis (MP10) tiveram redução de 23%, número que está “dentro da incerteza admitida para operação do analisador do poluente”, sendo observada também uma “atenuação dos picos horários registrados (…), provavelmente causado pela redução na circulação de veículos”.

O dióxido de enxofre (SO2) teve aumento nas concentrações de 31%, mas que, à semelhança das partículas inaláveis, “estão muito próximas e dentro da incerteza admitida para operação do analisador de SO2”. O relatório também destaca a “atenuação dos picos horários registrados para dióxido de enxofre”, mas o relaciona à “redução das atividades industriais”.

O ozônio (O3), segundo o relatório, não apresentou variação significativa durante o período analisado.

Vale e Arcelor são as maiores poluidoras

Em suas conclusões, o Iema atribui as citadas reduções às medidas de isolamento social, numa tendência já demonstrada em muitos países de várias partes do mundo e estados brasileiros. Mas enfatiza, de forma canhestra, que a menor concentração de poluentes deve-se, provavelmente, à redução da circulação de veículos.

Na apresentação dos números sobre cada poluente, esse aspecto é ressaltado seguidamente, com base no dado da Rodosol, concessionária que administra a Terceira Ponte e que informa a redução de 50% na contagem de veículos na praça de pedágio da ponte, localizada nas proximidades da estação estudada.

A redução da produção industrial da Vale e da ArcelorMittal, no Complexo de Tubarão, é informada apenas complementarmente, com citações das principais unidades onde a atividade industrial teve retração no período.

Curioso é destacar os números do próprio relatório sobre a produção industrial, o que, logicamente deveria fazer com que a ênfase na causa mais provável das reduções de poluentes seja resultado do que aconteceu na Ponta de Tubarão no período.

Sobre o óxido e o dióxido de nitrogênio (NO e o NO2), o Iema informa que “cerca de 73% das emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) na Região da Grande Vitória têm origem nas fontes localizadas no Complexo de Tubarão”, onde houve “redução na produção de unidades com significativa emissão de óxidos de nitrogênio”, destacando-se as usinas de pelotização (23% menos), unidade “responsável por aproximadamente 69% das emissões de óxidos de nitrogênio no complexo de tubarão”.

Para o monóxido de carbono (CO), o relatório afirma que “cerca de 96% das emissões na Região da Grande Vitória têm origem nas fontes localizadas no Complexo de Tubarão”, principalmente na Sinterização, “responsável por aproximadamente 55% das emissões de monóxido de carbono no complexo de tubarão”, e que teve redução de 21% de suas atividades entre março e abril de 2020.

No tocante ao dióxido de enxofre (SO2), “as fontes industriais são a principal fonte de emissão de dióxido de enxofre na atmosfera” da Grande Vitória, sendo que “as fontes localizadas no Complexo de Tubarão são responsáveis por 88% das emissões de SO2 de origem industrial”.

Quanto às partículas inaláveis (MP10), “cerca de 68% das emissões industriais de partículas inaláveis (MP10) na Região da Grande Vitória têm origem nas fontes localizadas no Complexo de Tubarão”.

Em suas conclusões, o Iema afirma, com propriedade, que “a gestão da qualidade do ar em determinada região deve ser realizada utilizando as ferramentas disponíveis tais como os Inventários de Fontes Atmosféricas, a Modelagem Matemática da Dispersão de Poluentes, o Monitoramento Continuo da Qualidade do Ar e as Ações de Controle em Fontes Poluidoras, de forma complementar e sistemática”. Que assim seja!

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