Está marcado para este sábado (3), um protesto na altura do bairro Maria Ortiz, em Vitória, em defesa do manguezal da Ilha do Lameirão e do Canal dos Escravos. Os organizadores prometem bloquear o canal para a passagem de barcos a motor e jet skys, como uma forma de chamar a atenção das autoridades ambientais a respeito da especulação imobiliária que ameaça o local. O principal empreendimento apontado por eles como uma ameaça ao manguezal é o condomínio Alphaville, que quer abrir uma passagem pelo Canal dos Escravos para a passagem de pequenas embarcações. O protesto foi marcado pelo Facebook.
O manguezal a ser protegido está dentro da Estação Ecológica Municipal Ilha do Lameirão (Emil). Em quase 30 anos de existência, a Estação nunca teve um plano de manejo. A Secretaria de Administração de Vitória (Semad) abriu recentemente o processo licitatório para a elaboração do plano. A entrega dos envelopes com as propostas poderá ser feita até a data e horário da abertura dos mesmos, dia 23 de janeiro próximo, às 9h30.
A Estação é ameaçada pelas pequenas embarcações que circulam sem autorização dentro da unidade de conservação, sobretudo aquelas que têm ligação com o condomínio Alphaville Jacuhy, na Serra, apontado como ameaça à conservação do bioma. O empreendimento pretende abrir uma passagem pelo Canal dos Escravos que é Área de Proteção Permanente, o que seria, segundo ambientalistas, o último suspiro do manguezal do Lameirão. O Estudo de Impacto Ambiental do empreendimento Alphaville confirmou a abertura de um acesso náutico que ligará o condomínio à baía de Vitória.
A Estação foi criada para preservar o remanescente da intensa ocupação urbana que acontecia na época na Grande Vitória, reflexo da chegada dos grandes empreendimentos desenvolvimentistas no Estado. A estação possui cerca de 92% de sua extensão coberta por manguezais que constituem, junto a vários outros, um dos maiores manguezais urbanos do mundo. Além dos mangues, cerca de 5 mil m² são de terra firma, coberta por restinga, denominada Ilha do Apicum, com vegetação predominante de orquídeas e bromeliáceas e, ainda, remanescentes de Mata Atlântica.
A Estação Ecológica Ilha do Lameirão também sofre, desde o começo do ano, com a extração irregular do molusco lambreta. O trabalho, que degrada o solo e a vegetação, é feito por marisqueiros da Bahia, que vêm para o Estado somente para realizar a extração dos moluscos, muito apreciados na culinária baiana e que, por não terem tanta aceitação entre os capixabas, são abundantes nos manguezais daqui. A extração praticada pelos baianos, que inclusive ensinam o ofício aos capixabas, é intensiva e prejudica o desenvolvimento de outras espécies animais e vegetais do mangue.Há, também, uso sustentável na área da Emil. Várias famílias de pescadores sobrevivem por conta da extração de mariscos e pela pesca. Esses possuem a autonomia de entrar na reserva e extrair o sururu, molusco muito apreciado na culinária capixaba, de forma sustentável. Também há a atuação das Paneleiras de Goiabeiras, que dependem das cascas das árvores do mangue para que as panelas de barro, produto artesanal capixaba internacionalmente conhecido, sejam coloridas.
Na última semana, a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura da Serra comunicou que o Canal dos Escravos será dragado. Os encaminhamentos foram tratados em uma reunião entre representantes das Prefeituras da Serra e de Vitória, do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema), do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), e do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A prefeitura informou que a intervenção é necessária para dar vazão ao grande volume de água que o canal acumulou devido às fortes chuvas da última semana, das cheias do Rio Santa Maria e da encosta do Mestre Álvaro, e resultou no alagamento de 2 mil casas, aproximadamente. O trabalho começará pelo município da Serra e terminará na baía Vitória, onde o canal deságua.