Horas depois de o Plenário da Câmara dos Deputados aprovar por 367 X 137 o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff para o Senado, o vice-presidente Michel Temer passou a estudar os nomes que podem integrar seu ministério num possível governo.
O impedimento da presidente ainda precisa ser aprovado pelo Senado, mas o mercado político já considera que o processo é irreversível. Ao mesmo tempo em que pressiona o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB) para apressar a tramitação do processo na Casa, Temer começa a discutir os nomes que devem integrar sua equipe.
A prioridade de Temer é definir o nome que irá comandar a Fazenda. Pela segunda vez, Paulo Hartung é cotado no noticiário nacional para ocupar a pasta. O governador do Espírito Santo aparece ao lado de outros dois nomes: Armínio Fraga e Henrique Meirelles. Temer tem pressa em definir o comandante da Fazenda porque pretende preparar um conjunto de medidas e anunciá-las, de preferência, na sua posse.
Nos bastidores, a cotação do nome do governador é vista com cautela, mas considerada viável. Embora o governador venha trabalhando fortemente sua imagem para fora do Estado desde a sua posse, o mercado econômico vê com reservas o nome de Hartung.
A crise aguda que o País atravessa não permite erros neste momento. Pelo retrospecto, Fraga e Meirelles são nomes que passam mais segurança ao mercado. Ex-presidente do Banco Central no governo FHC, Fraga é considerado os dos economistas mais influentes do País. Já Meirelles esteve à frente do BC durante todo o governo Lula e também tem boa reputação junto ao mercado.
Ante esse contexto, tudo leva a crer que a cotação de Hartung para a pasta é mais uma jogada política do governador. O fato de estar na seleta lista dos nomes cotados para “salvar” o País da crise já é um lucro extraordinário para o governador.
Na semana passada, logo após a Comissão Especial da Câmara aprovar o relatório do impeachment da presidente Dilma — o que tornou o governo Temer uma possibilidade concreta —, o nome de Hartung já fora ventilado na imprensa nacional. À ocasião, Hartung se disse lisonjeado com a lembrança. Isso confirmava que ele estava fazendo uma gestão exemplar no Espírito Santo, que poderia servir de modelo para o resto do País. Esse reconhecimento, destacou, era bom para o Estado — nem precisou dizer que era principalmente positivo para o seu projeto de construir uma imagem para fora do Espírito Santo. Hartung também fez questão de “tranquilizar” o povo capixaba e reafirmar seu compromisso de cumprir o mandato de governador até o fim.
Esse ponto reforça que o nome de Hartung para comandar a equipe econômica num possível governo Temer está mais para “balão de ensaio”. Se Hartung fosse, de fato, o primeiro nome da lista de Temer para chefiar a Fazenda, o governador não pensaria duas vezes. Seria uma chance única para se consagrar como homem púbico além das divisas do Espírito Santo.
Hartung sabe que um governo Temer não é sinônimo de dias melhores na economia. Ele e seus colegas governadores sabem como assumiram seus estados em 2015, mas não sabem se vão sobreviver à crise e quão chamuscadas estarão suas imagens em 2018. Caixas vazios, servidores públicos aumentando a pressão por reposições salariais, movimentos sociais nas ruas e queda de arrecadação. Combinação que causa pesadelo em qualquer gestor.

