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Luciano exalta gestão, promete reinventar Vitória, mas ouve apelo para governar pelos mais pobres

“Trago o abraço do senhor Arcebispo, vim para representá-lo, mas eu não sirvo muito para o script de fazer papel institucional da Arquidiocese. Por isso, senhor prefeito, eu trago também o abraço do povo da Grande São Pedro. Uma paróquia de periferia onde a gente atua e que tem muito carinho e apreço pelo senhor. O pastor [João David] acabou de falar da sabedoria que vem de Deus como uma dádiva para se governar bem uma cidade. E essa sabedoria esta lá na periferia, no meio dos pobres, dos humildes, das pessoas simples. Ontem eu estava conversando e falávamos assim: ‘A vida na cidade pulsa na periferia, porque a periferia que mantém a cidade funcionando’. Toda a mão de obra de obra de uma cidade está na periferia. E é olhando com carinho, com zelo, com respeito para esse povo, que se mantém uma cidade funcionando, que uma administração pode ter êxito, pode ter sucesso. Mas eu não vou ensinar a missa pro vigário, porque o senhor sabe bem disso, depois de tantos anos de experiência”.
 
A solenidade de posse do prefeito reeleito de Vitória Luciano Rezende (PPS), realizada na tarde desse domingo (1), na sede da prefeitura, em Bento Ferreira, seguia um roteiro previsível de risos e entusiasmo até o microfone pousar na mão do autor da mensagem acima, padre Kelder Brandão, pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo, na Grande São Pedro, e figura reconhecida pela sensibilidade com as mazelas sociais, com as quais convive diariamente na região mais pobre de Vitória. 
 
Mesmo emitida no tom sereno e pausado do padre, como um pastor que fala às ovelhas, a mensagem carrega forte potência simbólica. Se um arrebatado Luciano estava ali, impecavelmente alinhado, gravata salmão e lenço azul-claro no bolso do paletó a se destacarem na composição geral do terno escuro, não foi pelos votos da região da Grande São Pedro e demais áreas de baixa renda da capital capixaba, mas, antes, graças aos votos da orla – onde vivem as classes mais abastadas. 
 
Representando o arcebispo de Vitória Dom Luiz Mancilha, padre Kelder Brandão finalizou a breve fala sublinhando o apoio da Arquidiocese de Vitória “a todos os projetos que visem a transformar a cidade em um espaço mais humano e acolhedor para todas as pessoas, principalmente para as mais sofridas”.
 
Luciano Rezende e o vice Sérgio Sá (PSB) chegaram pouco depois das 17h na Câmara de Vitória para fazer o juramento. Luciano acompanhado da esposa Marina e dos filhos Artur e Davi. Logo atrás, vinha um séquito de apoiadores: o ex-governador Renato Casagrande (PSB), o ex-secretário da Casa Civil da gestão Casagrande, Tyago Hoffmann, o deputado estadual e pai de Sérgio Sá, José Esmerado (PMDB), e o deputado federal Marcus Vicente (PP).
 
Vereadores mais votados, Fabrício Gandini (PPS) e Denninho Silva (PPS) foram convocados para conduzir os trabalhos em plenário. Além dos dois, compuseram a mesa Luciano, Sérgio e o Casagrande O governador Paulo Hartung (PMDB) não compareceu, mas enviou representante: o secretário de Transportes e Obras Públicas Paulo Ruy Carnelli, a quem foi reservado lugar na fileira atrás da mesa, junto à parede. Ao lado de Carnelli ficaram Vicente, Esmeraldo e o deputado estadual Esmael Almeida.
 
O plenário, por sua vez, estava ocupado por pelos vereadores e familiares. Max da Mata (PDT) e Mazinho dos Anjos (PSD) traziam os filhos no colo. Celulares estavam a postos para registrar um momento inesquecível para muitos ali.
 
Convidado e fazer um pronunciamento, Gandini fez uma exortação à quebra de paradigmas. Citou o Bike Vitória, sistema municipal de compartilhamento de bicicletas, como exemplo de projeto fadado ao fracasso no plano das ideias, mas, uma vez implantado, virou sucesso. “Precisamos inventar já um caminho para que Vitória seja reinventada”, proferiu.
 
Logo a seguir, Luciano foi também convocado a se pronunciar. Mas foi breve, justificando que faria o discurso da posse no auditório da prefeitura. Apenas relembrou o início de sua trajetória política na Câmara em 1995 e destacou a importância de um Poder Legislativo “forte, atuante e independente”.
 
Por fim, vereadores, prefeito e vice fizeram o juramento. Cada vereador era chamado à tribuna, dizer “Eu prometo” e assinar o termo de posse, momento em que cumprimentava todos na mesa com fortes abraços e apertos de mão. No entanto, não passou despercebido o protocolar cumprimento entre Max da Mata e Luciano Rezende, adversários durante as eleições. Crítico de Luciano mesmo antes do pleito, Max foi um dos auxiliares mais próximos do deputado estadual Amaro Neto (PSD), adversário do prefeito na disputa.
 
Gandini suspendeu a sessão para o prefeito seguir para a cerimônia de posse no auditório. Antes, já no prédio da sede da prefeitura, concedeu uma rápida entrevista à imprensa, em que destacar que quer “refundar Vitória pós-Fundap”, capacitando as pessoas para geração de emprego e renda, repisou que, hoje considera Vitória “uma cidade mais segura, ocupada pelas famílias”, que vai enviar um projeto de reforma administrativa à Câmara ainda em janeiro.
 
Luciano adentrou o auditório ao som de uma versão para saxofone de Tempos Modernos que saía do sistema de som ambiente. Sentou ao lado da esposa, filhos e de Sérgio Sá na primeira fileira; ao lado, estava Casagrande e Esmeraldo. O secretariado ocupou as cadeiras do lado esquerdo do local. Após anunciar a presença de todas as autoridades, o cerimonialista convidou Luciano e Sérgio para tomar assento nas duas poltronas sobre o palco. Em seguida, leu uma breve carta: nela, o subscritor lamentava estar ausente, cumprimentava o prefeito e desejava-lhe boa sorte. Era o deputado federal Lelo Coimbra (PMDB), que também disputou a Prefeitura de Vitória.
 
A seguir, o pastor João David e padre Kelder Brandão foram chamados para o momento religioso da solenidade. O pastor disse palavras pias e amenas; o padre, como já vimos, deixou palavras pias, amenas e algo espinhosas. 
 
Finalmente a palavra foi dada a Luciano Rezende. O prefeito reeleito iniciou o discurso agradecendo a três pessoas: primeiro, o ex-governador Renato Casagrande (“meu querido amigo”), o deputado estadual José Esmeraldo e o deputado federal Marcus Vicente. “Três políticos que me acompanharam na primeira hora. Sem a ajuda de vocês, certamente esse momento aqui não seria possível”, disse, seguido de aplausos. Também agradeceu outras duas figuras, que, porém, foram esquecidas pelo cerimonial: o porta-voz da Rede no Espírito Santo, Gustavo De Biase, e Luiz Fiorott, representando o PV.
 
“Quero cumprimentar de forma muito carinhosa essas pessoas que eu mencionei, porque esse projeto, que culmina, aqui, com a nossa reeleição, foi uma construção longa contra muitos fatores, contra muita força que foi feita e nós atravessamos esse período com o apoio dessas pessoas. Eu quero aqui agradecê-las e honrá-las”, disse Luciano. 
 
Luciano também agradeceu especialmente a dois amigos: o jornalista Luiz Carlos Azedo (“responsável pela estratégia da minha movimentação política”) e o marqueteiro da campanha Paulo Pestana (“foi o responsável por aquela invenção maravilhosa ‘Luciano prometeu, Luciano cumpriu’, que fez a arrancada da campanha”). 
 
Findo os cumprimentos, Luciano passou propriamente ao discurso. Classificou seus quatro anos de mandato como os mais desafiadores do município em toda a sua história, demarcados a partir do fim do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap), a partir de janeiro de 2013, e agravados pela crise econômica e política do que tomou país a partir de 2014. “Nós governamos quatro anos com orçamento de três anos”, disse, para a seguir, citar uma matéria do jornal Folha de S. Paulo de sábado (31), segundo a qual Vitória é a capital brasileira com maior perda de receita, porém a com maior redução de custeio nos últimos quatro anos. Foi aplaudido.
 
A seguir, repetiu um dos motes de sua campanha – citou as áreas em que Vitória, segundo ele, alcançou o primeiro lugar – e garantiu que Vitória está com as contas equilibradas, com o pagamento dos servidores em dia e cumpre a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Destacou, especialmente, a notícia que recebera um dia antes do secretário da Fazenda Davi Diniz: que Vitória vai fechar o ano com um pequeno superávit, mas não deu números.
 
Destacou a queda do número de homicídios, celebrando que assumiu Vitória como a capital mais violenta do país e que fechou 2016 com Vitória entre as capitais mais seguras do país, junto com Florianópolis (SC). 
 
Concluído esse resumo dos desafios e êxitos do primeiro mandato, Luciano passou a destacar os desafios dos próximos quatro anos: gerar emprego e renda, também mote de campanha, e reinventar o modelo econômico da cidade na era pós-Fundap. “Recentemente, é o que mais a gente ouve, pedido de trabalho e de emprego. Nós vamos conseguir isso através da capacitação de pessoas. Vitória terá e está sendo reinventada após o Fundap. Essa cidade vai ter que investir no seu potencial humano, no turismo, no comércio, nos serviços, na inovação e na tecnologia”, disse.
 
Exaltou também a gestão compartilhada, que, segundo ele, pode ser exemplo para uma nova lógica política no país. Destacou também as recentes movimentações com os demais prefeitos da Região Metropolitana da Grande Vitória (RGMV) para iniciar a implantação de medidas para a busca de soluções conjuntas para problemas comuns à região.

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