Terça, 21 Mai 2024

Mágoas do passado, desavenças do presente e incertezas do futuro

Mágoas do passado, desavenças do presente e incertezas do futuro
Nerter Samora e Renata Oliveira



Papo de Repórter analisa os espaços ocupados pelos principais atores da disputa deste ano, mostrando suas relações com 201 0 e 2014 no cenário político do Estado





Nerter – Essa foto do governador Renato Casagrande no dia da eleição, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em meio aos senadores eleitos em sua chapa, Ricardo Ferraço (PMDB) e Magno Malta (PR), em nada refletem o cenário da disputa deste ano. Menos de quatro anos depois a discussão é completamente diferente. Os atores novamente estão em cena, mas cada um desempenhando um papel bem diferente de 2010. Casagrande que esteve isolado em um primeiro momento e deu um golpe na unanimidade costurando por cima a aliança com o PMDB e PT  agora tenta manter esses partidos a todo custo em seu palanque. Ricardo Ferraço que engoliu a seco uma candidatura ao Senado depois de ser trocado por Casagrande na cabeça de chapa, hoje tenta ser candidato a governador. Magno Malta, por sua vez, quer ir mais longe. Almeja disputar o Palácio do Planalto. 
 
Renata – Não há dúvidas de que o que aconteceu nos bastidores da costura da aliança de 2010 deixou marcas em todos. Casagrande engoliu o vice do PT, mas não era exatamente esse seu objetivo, não Givaldo Vieira, é o que dizem. Magno Malta pediu o segundo voto para Ricardo Ferraço e Ferraço pediu o segundo voto para Rita Camata (PSDB) -  então candidata a senadora. Ricardo Ferraço queria ser governador, não senador. A foto de felicidade na porta do TRE escondia uma campanha de magoas. E a coisa não melhorou no início do governo Casagrande. Malta não ficou muito feliz com o espaço dado ao PR no governo, queria mais e Ricardo também nunca escondeu o descontentamento pelo abril sangrento, pelo fogo amigo. 
 
Nerter – O tempo passou e hoje há um cenário confuso para distribuir essas lideranças. Casagrande é candidato à reeleição. Tem o apoio da maioria das forças políticas do Estado, tenta fortalecer os prefeitos e sonha em manter a unanimidade. Ricardo, segundo ranking de Veja, é o segundo melhor senador do ano e tenta fazer essa imagem render alguma coisa no Estado, mas não tem convencido a classe política de que tem fôlego para enfrentar Casagrande. E Magno Malta faz uma jogada para ampliar sua imagem. Diz que é candidato a presidente, mas todo mundo sabe que o PR não está interessado desembarcar do governo Dilma, aí Magno desce para estadual com a imagem de um cara que tinha tamanho para disputar a Presidência. Bom, se isso funciona, não sei. 
 
Renata – Pois é. A dificuldade de Casagrande hoje é dar aos prefeitos tudo aquilo que prometeu e enfrentar o tucano Guerino Balestrassi no discurso municipalista. Também luta para manter PSB, PT e PMDB no mesmo palanque e para isso oferece uma quase impossível neutralidade presidencial e um helicóptero espaçoso. A dificuldade de Ricardo Ferraço está na indefinição do PMDB. O governador Paulo Hartung pode disputar o governo, o que o colocaria no banco novamente ou pode disputar o Senado, o que reforçaria sua candidatura. Mas Hartung não se decide antecipadamente e resta ao senador esperar. Já Magno Malta é alijado do palácio e tem discurso e popularidade para construir um palanque de oposição, mas está isolado. Embora viva dizendo que só precisa de Deus para disputar a eleição, sabe que esse isolamento pesa. 
 
Nerter – Por isso Balestrassi se sai bem no discurso. Não tem problema nenhum nesta amarra. Não está no palanque de Casagrande, não tem compromisso em se eleger e tem como enfrentar o debate municipalista. Mas aí não sabemos exatamente qual é o papel dele nesta eleição. Quando ele vem para a entrevista e bate no Casagrande, poupando o Paulo Hartung, deixa a impressão de que há um serviço sendo prestado aí. Mas isso não garante que Hartung entra na disputa. Ele também tem problemas, e não são poucos. 
 
Renata – Mas, como em toda eleição, um pleito termina deixando as brechas para o próximo, em 2014 não será diferente. Os movimentos deste período pré-convenções com muita movimentação das lideranças pode ter um sentido bem mais amplo que a disputa deste ano. O cenário de disputa também é incerto. Não se sabe se os movimentos de rua de 2013 vão esvaziar a eleição, se vão voltar na Copa, se vão derrubar novamente o prestígio político dos gestores. Em 2013 Casagrande e Dilma precisaram de quatro meses para recuperar 20 pontos de aprovação, este ano, não terão esse tempo. 
 
Nerter – Mesmo que não consigam êxito em seu enfrentamento ao governador Casagrande, Magno Malta e Ricardo Ferraço ganham com essa movimentações. Mesmo que não consigam viabilizar suas candidaturas, ou que sucumbam no primeiro turno. Eles estão se movimentando, conversando com lideranças, articulando possíveis alianças. Isso os credencia para a disputa de 2018, quando vão brigar pela reeleição para o Senado. A disputa deste ano é um excelente exercício e uma forma de se fazer presente no Estado, afinal o mandato em Brasília afasta o político do eleitorado capixaba. Daí os outdoors do Ricardo Ferraço que não me deixam mentir. A escolha por uma revista de circulação nacional não garantiu a visibilidade para dentro do Estado. Foi preciso recorrer à propaganda. 
 
Renata – Verdade. Magno Malta conta com a popularidade. É cantor gospel, conta com os programas populares de TV para difundir sua imagem. Mas precisa se estabelecer como líder político. Malta tem problemas para se movimentar na classe política. Sua forma nada flexível de negociar com lideranças partidárias, muitas vezes complica suas movimentações. São problemas diferentes, mas que acabam colocando as duas lideranças na berlinda. Daí o exercício. Se Ricardo terminar com menos votos que Magno, fortalece seu adversário em 2018. 

 
Nerter – Mas a preocupação dos dois senadores não é apenas de um com o outro, afinal estamos falando de uma eleição com duas vagas. Tudo estaria lindo se em 2018 não terminasse o segundo mandato de Renato Casagrande, se ele se reeleger este ano. Aí o socialista também entra no páreo para o Senado complicando o meio de campo. Afinal, teoricamente, serão três candidatos para duas vagas.

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