Não faz duas semanas que o governador Paulo Hartung (PMDB) voltou de Paris — ele escolheu a Cidade Luz para se recuperar da cirurgia à qual foi submetido, em fevereiro, para extirpar um câncer na bexiga. Os ares europeus parecem ter feito muito bem ao governador. Como se diz popularmente, ele parece estar na ponta dos cascos.
A intensa agenda pós-Paris, pelo menos, confirma a boa recuperação do chefe do Executivo estadual. Desde que reassumiu o comando do Estado, Hartung, praticamente, não tirou o pé da estrada. Sacou o personagem “Abraça o Paulo” do armário, da campanha vitoriosa de 2014 ao governo, para se jogar nos braços do povo. Hartung tem pegado crianças no colo, tirado selfies com populares, plantado árvores, andado de bicicleta. Até discurso improvisado sobre banco de praça ele tem feito.
Esse vigor impressionante, porém, surpreende, ao mesmo tempo que representa um alívio para todos aqueles que temiam pela saúde do governador. Afinal, quando Hartung se afastou, no dia 16 de maio, e escalou de última hora o vice César Colnago (PSDB) para prestar contas na Assembleia Legislativa no seu lugar, soou um alerta no mercado político: estaria o governador com a saúde fragilizada?
Esse temor, no entanto, foi afastado com a informação, não oficial, de que o governador, na companhia da primeira-dama, estava flanando faceiro pelas ruas de Paris. Dias depois da notícia, a foto de Hartung em frente a uma loja num ponto turístico da capital francesa foi o conforto que faltava para os mais apreensivos com o quadro de saúde do governador.
Desse episódio envolvendo a saúde do governador, que começou em fevereiro com a detecção do tumor e a cirurgia de urgência em São Paulo, resta evidente que, de forma premeditada ou mesmo casual, Hartung acabou usando a doença no jogo político em pelo menos dois momentos. Primeiro, quando se escondeu atrás do tratamento e da convalescência para se ausentar do governo na véspera da prestação de contas, que acabou sendo delegada às pressas ao vice, mas que poderia ser adiada após o seu retorno da Europa. Ficou patente, até pelo tamanho do abacaxi que Colnago teve que descascar, que Hartung queria evitar a exposição após a recente delação de Benedicto Júnior, que o revelou como “Baianinho” no esquema de “caixa 2” da Odebrecht.
Segundo, a omissão da viagem a Paris foi consequência da ausência do governador na prestação de contas. Não há dúvida que Hartung planejou a saída estratégica na véspera da prestação de contas, mas não queria que vazasse que esse retiro seria na Europa, justamente para não soar como uma manobra premeditada para evitar encarar alguns deputados, sobretudo o tucano Sérgio Majeski, que contava os dias para ficar frente a frente com Hartung.
A agenda intensa pelo interior, além de servir para esclarecer de vez o episódio, traz também a boa notícia: a saúde do governador está tinindo. Santé, governador!