Quem foi ao Centro de Convenções Vitória, nessa terça-feira (29), na ocasião do lançamento da campanha do presidenciável socialista no Estado, pode ver a animação do candidato ao Senado, o ex-prefeito de Vila Velha, Neucimar Fraga (PV), que demonstrou estar muito à vontade ao lado do candidato à reeleição, o governador Renato Casagrande. Muita gente deve ter se surpreendido com a desenvoltura de Neucimar. Afinal, ele foi convocado de última hora para substituir o então candidato do PR, delegado Fabiano Contarato, que renunciou. Até o dia 14, Neucimar era novamente candidato a deputado federal, cargo que ocupou entre 2003 e 2008. Só que a desistência de Contarato provocou uma reviravolta na chapa socialista e o ex-prefeito acabou se tornando uma saída para o grupo.
Naquela ocasião, Neucimar afirmou que “aceitaria a missão” ao abrir mão de uma eleição bem encaminhada para a Câmara para assumir o papel de parceiro na chapa de Casagrande. Em seu discurso nessa terça, o ex-prefeito chegou a brincar com o presidenciável socialista, Eduardo Campos, de que “precisaria de 80 mil votos para se eleger deputado federal e agora precisa de mais de 800 mil”. Entretanto, de um mero estranho no ninho – já que a candidatura de Contarato era saudada por setores da sociedade civil e até dentro da militância –, o ex-prefeito passou a ter peso e voz no palanque de Casagrande.
Durante o lançamento das candidaturas do palanque de Casagrande, Neucimar era um dos mais animados no pequeno palco montado no Centro de Convenções de Vitória. O ex-prefeito gesticulava, puxava aplausos e até ensaiava passos embalado pelo jingle de campanha. Essa descontração chamou a atenção de Campos e da vice Marina Silva, que comentaram a animação do verde – e era para tanto. Pela primeira vez, o ex-prefeito foi “incorporado” ao palanque – tanto que o candidato a vice-governador, Fabrício Gandini (PPS) fez questão de citar o nome de Neucimar após brincar que o companheiro de chapa havia “puxado sua orelha” por já ter esquecido de mencioná-lo em eventos anteriores.
Desde que foi anunciado como substituto de Contarato, o ex-prefeito de Vila Velha passou a cumprir agenda diária de campanha junto com Casagrande. Chama atenção que, no mesmo dia da troca, Neucimar já participou do evento de lançamento do material de campanha, quando havia mais incertezas do que conclusões sobre as eventuais perdas ou ganhos com a substituição. Hoje, a impressão nos meios políticos é de que Neucimar é o candidato mais afinado com o tipo de eleição que se apresenta – baseada na comparação entre as gestões de Casagrande e Paulo Hartung (PMDB), ex-governador e principal adversário do socialista.
Nessa terça-feira, Neucimar mostrou que esta com o discurso do governo na ponta da língua. Citou dados como a redução da pobreza e iniciativas na área social, como os projetos Rede Abraço, que faz o acolhimento de usuários de drogas, e a CNH Social, que já distribuiu mais de 25 mil carteiras de motoristas para pessoas sem condições financeiras no Estado. Esse apelo social é uma das tônicas do discurso de Casagrande, que tenta diferenciar-se do antecessor pela quitação do “passivo social” deixado pelo governo Hartung.
Além dessa afinidade com o discurso da chapa socialista, Neucimar também garante a ampliação da base política de Casagrande – hipótese descartada no caso de Contarato, que apostava nas redes sociais contra o modelo de política pautado pelo apoio de lideranças comunitárias. Já o ex-prefeito tem origem no movimento comunitário, o que lhe garante uma boa circulação nesse setor. Outro dado é a ampliação da base da candidatura de Casagrande nos grandes municípios do Estado.
Hoje, o governador conta com aliados em quatro das cinco prefeituras da Grande Vitória: Luciano Rezende (PPS), da Capital; Audifax Barcelos (PSB), Serra; Juninho (PPS), Cariacica; e Gilson Daniel (PV), Viana. O único município da região que ele não tem o apoio do chefe do Executivo é justamente Vila Velha, que hoje é comandado por Rodney Miranda (DEM), aliado de Hartung. Neste caso, Neucimar desponta com o principal adversário capaz de dividir votos com Rodney, cuja atuação é alvo de uma enxurrada de críticas dos vila-velhenses.