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Policiais Antifascismo participam de audiência pública em Vitória

Liderança nacional do movimento, Orlando Zaccone é convidado para ações que criticam perseguições políticas a policiais

Organizado no Espírito Santo desde 2018, o movimento Policiais Antifascismo (PAF) terá uma jornada de atividades públicas na próxima sexta-feira (29). Durante a tarde, às 15h, acontece uma audiência pública da Comissão de Cidadania na Assembleia Legislativa sobre o tema “Policiais Antifascistas e a Perseguição Política: Paz Sem Voz é Medo”, tendo convidado o delegado Orlando Zaccone, um dos coordenadores nacionais do movimento. Às 19h30, o delegado também estará na roda de conversa organizada pelo PAF-ES no auditório do IC-2, no campus da Universidade Federal do Estado (Ufes) em Goiabeiras.

“Esses eventos são gestos de solidariedade e mais um sinal de que a gente não está sozinho na luta, de que existem outros atores e protagonistas organizados com a gente que nos fortalecem e nos tem fortalecido nesse momento de perseguição política”, afirma Vinícius Querzone, um dos organizadores do PAF no Espírito Santo, que foi considerado culpado pela Corregedoria num processo administrativo da Polícia Militar por ter se manifestado politicamente.

Delegado Orlando Zaccone é uma das lideranças nacionais do Policiais Antifascismo. Foto: Ana Volpe/ Agência Senado. Foto: Agência Senado

“Ter conseguido essa audiência pública é fundamental para problematizar esse fato, mostrar o que está acontecendo com a gente e o que tem acontecido com o movimento, que se coloca numa perspectiva antifascismo e não antifascista, pois é um movimento antissistêmico e não contra uma pessoa”. Por conta de manifestarem publicamente suas opiniões políticas, tanto Vinícius Querzone como seu colega de farda e de movimento Vinícius Sousa, respondem processo administrativos na Polícia Militar.

Ele destaca a importância da presença de Orlando Zaccone, que além de ter experiência como delegado e ser uma liderança nacional do movimento, é professor de Direito e doutor em Ciência Política, tendo estudado várias questões relacionadas com a segurança pública. “É fundamental que a gente discuta essas temáticas com rigor científico, não como algo que se resolva com slogans. O trabalho do Zaccone tem grande importância para esse debate”, considera.

Organizado a partir de 2016 e lançado oficialmente a nível nacional em 2017, o Policiais Antifascismo surgiu da articulação e união de agentes de segurança que já participavam de outras entidades, como a Leap, organização internacional a favor da legalização das drogas. No ano seguinte de aparecer no cenário nacional, o movimento teve seu primeiro encontro a nível estadual, sendo que o Espírito Santo esteve presente nos três encontros nacionais dos PAF, o último deles em março passado em Natal (RN).

Para Vinícius Querzone, o movimento quer quebrar os preconceitos recíprocos que existem entre as esquerdas e as forças de segurança. “Por um lado, mostramos aos operadores de segurança pública que a esquerda têm as melhores percepções sobre o tema. Por outro lado, para as esquerdas, temos o desafio de demonstrar que dentro das instituições de segurança não há apenas um blocão monolítico, em que todos são conservadores e reacionários. É tão plural quanto qualquer profissão”, diz ele, lembrando que hoje a esquerda consegue fazer uma leitura mais crítica em relação às pessoas evangélicas, entendendo essa diversidade presente. “Precisamos observar o policial como um trabalhador digno de direitos e que precisa de políticas de direitos humanos”, ressalta.

O capitão da Polícia Militar Vinícius Querzone foi condenado em processo administrativo por manifestar suas opiniões políticas. Foto: Arquivo Pessoal

Entre as pautas discutidas pelo PAF estão temas que dialogam para dentro e também para fora das corporações, pois são temas de interesse da sociedade. Além da legalização e regulamentação das drogas, apontando a ineficácia do proibicionismo como política, são levantados temas como a desmilitarização da Polícia Militar, a criação de uma carreira única para as polícias e o ciclo completo na carreira das polícias, medidas que o movimento entende que beneficiam os agentes de segurança pública e suas carreiras, assim como trariam melhorias para a política de segurança aplicada na sociedade como um todo.

“É claro que não adianta promover medidas na arquitetura da polícia e não mexer nas causas da violência, que no nosso entendimento tem muito a ver com a desigualdade social e a forma como a sociedade está organizada política e economicamente”, afirma Querzone.

Até o momento, porém, a maior parte dos debates ocorreu de maneira interna dentro do grupo, que vem se organizando ao longo dos anos no Estado, mantendo reuniões mensais, fortalecendo sua estrutura interna e também dialogando com outras forças políticas, como movimentos sociais e sindicato. Em 2020, um manifesto nacional do Policiais Antifascismo, assinado também por integrantes do movimento no Espírito Santo, divulgou na mídia a atuação local.

O movimento, ressalta, é suprapartidário e tem autonomia em relação a partidos, sendo que a posição ideológica de seus membros é diversa, desde o progressismo até o comunismo. Também investigado pela Corregedoria e integrante do Policiais Antifascimo no Estado, o Capitão Sousa, por exemplo, anunciou recentemente sua pré-candidatura ao governo do Espírito Santo pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), o que não significa que seja apoiado pelo grupo.

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