A renúncia do delegado Fabiano Contarato (PR) à disputa ao Senado deixou um espólio significativo de eleitores sem candidato. Uma parte do eleitorado, ainda influenciada pelos movimentos de rua de junho do ano passado, vislumbrava a candidatura do delegado como algo realmente novo. O que atraía esses eleitores? O candidato do PR não tinha o traquejo do político “tradicional” e se balizava pela ética e moral – valores tão ecoado pelas ruas nos protestos de 2013.
A saída inesperada de Contarato, porém, frustrou esses eleitores. Ao mesmo tempo, abriu a oportunidade para dois candidatos alternativos que acreditam que podem oferecer algo de novo aos eleitores que não têm candidato ao Senado, mas sabem que não querem “mais do mesmo”.
André Moreira (PSOL) e o professor Raphael Furtado (PSTU) se enquadram no perfil dos “alternativos”. Em comum com Contarato, os dois também têm os currículos em branco no campo “cargo político”,ao contrário dos adversários Neucimar Fraga (PV), João Coser (PT) e Rose de Freitas (PMDB), figurinhas marcadas na política capixaba com longa carreira na vida pública.
O candidato do PSOL André Moreira acha que é possível conquistar parte do eleitorado de Contarato que está procurando algo novo. Ele também destaca que há uma grande parte de eleitores indecisos que continua sem candidato. O desafio, porém, reconhece Moreira, é fazer a interlocução com esses eleitores. “Precisamos conquistar esse eleitor a partir do nosso programa, buscar o diálogo com ele e não tentar fazer isso a partir de uma flexibilização das nossas propostas e ideias para chegar a ele e conquistá-lo. Para não cair na mesma dinâmica da velha política”.
Raphael Furtado sabe que o desafio de atrair os eleitores de Contarato é ainda mais complexo para o PSTU, que é identificado como um partido “radical”, que abertamente critica as grandes empresas e as elites. O professor supõe que parte do eleitorado de Contarato é de perfil mais conservador. Um eleitor que, a priori, não se identifica com as propostas, digamos, mais “radicais” do PSTU. Mas ele acredita que uma parcela desse eleitorado esteja mais aberta ao novo.
Furtado analisa que muitos eleitores ainda estão sob os efeitos das manifestações de junho de 2013. “As manifestações de junho mudaram a relação de forças. Muita gente vinha dizendo que aquele movimento acabou. Não acabou. O processo está em curso. A diferença é que aquele movimento tinha massa, mas não tinha organização. Agora está começando a se organizar”.
Para o candidato do PSTU isso é sinal de que as pessoas querem mudança. “A possibilidade de avançarmos na luta está colocada”, assinala Furtado.
Fosso da desigualdade
Se os alternativos veem essa aspiração por mudança como uma oportunidade, sabem também que mais desafiador do que convencer o eleitor a apostar seu voto no novo e simplesmente conseguir chegar até esse eleitor.
Moreira e Furtado terão menos de um minuto para transmitir as mensagens ao eleitorado na propaganda gratuito de TV, contra cerca de três ou quatro minutos dos adversários. A estrutura de campanha montado para os candidatos “tradicionais” deixa patente o tamanho do fosso da desigualdade.
Furtado confidenciou que ele e Filipe Skiter, candidato a deputado estadual pelo PSTU, ao todo, pretendem gastar R$ 10 mil. A campanha de André Moreira também é bem modesta. Os dois partidos não aceitam doações da iniciativa privada e contam apenas com as doações de pessoas físicas.
Realidade bem diferente de Coser, Rose e Neucimar, que aceitam doação de quem estiver disposto a bancar suas milionárias campanhas que, oficialmente, não devem custar menos do que R$ 4 milhões cada.
Criatividade
Outra característica obrigatória nos alternativos é a criatividade. Quando o dinheiro é curto, é preciso se “virar nos trinta” para buscar a interlocução com o eleitorado. “Hoje temos mais de 70% dos brasileiros conectados às redes sociais. Esse índice deve ser ainda maior se considerarmos somente a zona urbana. Essa, sem dúvida, é uma ferramenta importantíssima para compartilharmos nosso projeto de governo”, analisa Furtado.
Moreira também aposta na força das redes sociais como alternativa para o orçamento apertado do PSOL. “As redes sociais realmente devem e vão ser usadas”. O candidato do PSOL também destaca os debates como outro espaço crucial para expor ideias mais de igual para igual. “O debate é um momento interessante porque ali todos os candidatos têm uma situação um pouco mais equilibrada para fazer o enfrentamento das ideias. Queremos fazer a diferença nos debates também para trazer temas que costumam ficar em segundo plano durante as eleições, como os direitos das minorias”, pontua Moreira.
O candidato Raphael Furtado também vê nos debates um ambiente mais equilibrado para defender ideias, mas lembra que o PSTU não vai ser chamado para todos os debates. “Quando formos convidados, será uma boa oportunidade”.
O professor ponderou que, apesar da força das redes sociais, a discussão não pode ficar somente no ambiente virtual. Ele defende a conversa olho no olho. Furtado reconhece que as pessoas evitam as abordagens de rua porque criaram uma espécie de aversão a políticos. Mas diz apostar muito neste contato presencial com o eleitor. “Sempre vai ter alguém com vontade de dialogar”.