O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa a julgar nesta terça-feira (6) as contas da chapa Dilma-Temer. Para o mundo jurídico, esse é o processo mais importante da história da Justiça Eleitoral. Com um mandato presidencial em jogo, o alvoroço do mercado político em torno da decisão dos ministros, que não deve sair de bate-pronto, é natural.
Os dois principais jornais do Estado repercutiram nas edições desta terça a opinião da bancada capixaba sobre os impactos que causariam ao País a saída de Temer. Tirando os dois deputados petistas (Givaldo e Helder Salomão), que por motivos óbvios pedem abertamente a saída do “presidente golpista”, o restante da bancada é reticente. As declarações passam uma mensagem na linha: “ruim com ele, pior sem ele”.
O senador Ricardo Ferraço (PSDB) talvez sintetize melhor a narrativa dos colegas de bancada. Relator da Reforma Trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Ricardo aceitou a missão inglória do PSDB de fazer o papel de “garoto propaganda” da reforma. Quando topou encarar o desafio, é verdade, o senador procurava criar um “fato novo” para tentar esmaecer a mácula deixada na esteira das delações que lançaram o seu nome na “lista negra” da Lava Jato. O tucano não imaginava, àquela altura, que o mundo desabaria sobre Temer, agravando a crise política e arrastando as reformas e seus prepostos para um buraco sem fim.
Como a ação empreendida por Ricardo Ferraço não tem volta, o senador se esforça para separar a reforma da crise política que solapa o governo Temer. Na entrevista que deu ao Bom Dia ES nessa segunda-feira (5), fica clara a estratégia do senador. Ele admite que a crise no governo Temer é insustentável, mas pondera que o “Brasil não pode parar”.
A missão de se desvincular do governo Temer parece até simples para o senador ante a dificuldade de “vender” uma reforma patrocinada por um governo com a popularidade em queda livre (se que ainda é possível cair mais), e que sente, a cada dia, a base de apoio político escorrendo pelos vãos dos seus dedos. Sem contar as prisões de figuras ligadas ao seu núcleo duro. No fim de semana, o ex-assessor do presidente, Rodrigo Rocha Loures, foi preso. Na manhã desta terça foi a vez do seu ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, ir para o xilindró.
Essa saraivada de notícias negativas assusta a classe política, provocando cisões na base do governo. Por isso predomina entre os deputados e senadores da bancada capixaba, exceção aos petistas, essa narrativa reticente em relação a Temer.
O senador Magno Malta (PR), que vinha defendendo o “exorcismo” irrestrito dos corruptos da política, amenizou o tom do discurso em relação a uma iminente queda de Temer. Ele disse que o país não suportaria a deposição de mais um presidente. “Vai acabar sobrando para nós, mais desemprego, mais descrédito”. Em poucas palavras, Malta pede: “Fica, Temer”.
Em resumo, a maioria da bancada se sente mais confortável em cima do muro — quer as reformas, mas não quer vincular a imagem a Temer. Fora do muro, além dos petistas que apóiam explicitamente a saída do presidente, a senadora Rose de Freitas e o deputado Lelo Coimbra (ambos do PMDB) são os únicos que estendem a mão para o presidente neste momento de crise. Lelo, líder da maioria na Câmara, por ofício, faz a defesa do chefe. Ele pede prudência e afirma que o processo do TSE será favorável a Temer.
Rose de Freitas, que mesmo com a crise tem conseguido tirar recursos do governo federal, mostra que não é ingrata ao benfeitor. Ao jornal A Gazeta (06/06/17), a senadora faz um discurso otimista. “Torço que Temer consiga enfrentar isso [o julgamento no TSE] e se sair bem”.
Otimismo à parte, o fato é que se o TSE condenar a chapa Dilma-Temer, quem está colado ao presidente ou mesmo próximo acaba sendo arrastado pelo turbilhão inexorável de uma queda do presidente. Esses que estão se equilibrando em cima do muro podem até se salvar, mas ainda assim saem com as imagens arranhadas. Os petistas saem ilesos, mas também não se sabe até quando. Ficam na expectativa do torcedor que tem receio de comemorar vitória antes do apito final e acabar frustrado. É essa a expectativa hoje dos petistas com ralação à maior estrela do partido, o ex-presidente Lula, que transita na berlinda da Lava Jato.