terça-feira, fevereiro 18, 2025
31.9 C
Vitória
terça-feira, fevereiro 18, 2025
terça-feira, fevereiro 18, 2025

Leia Também:

Roberto Carlos faz debate burocrático e não cumpre metas do PT

Como afirmamos recentemente neste jornal, os debates mostrariam se a candidatura de Roberto Carlos ao governo do Estado é pra valer ou é de araque. O primeiro debate promovido pela Rede Gazeta, na manhã desta segunda-feira (28), comprovou que o deputado do PT é de fato “candidato laranja”. 
 
A participação de Roberto Carlos no debate foi burocrática e não cumpriu os objetivos do PT ou tampouco os do próprio candidato. Se um dos desafios do petista era convencer a militância de que sua candidatura é pra valer, fracassou. Tornar sua candidatura “verdadeira” é estratégico para Roberto Carlos ganhar votos e, consequentemente,  musculatura para uma possível disputa à Prefeitura da Serra em 2016. Entretanto, as perguntas endereçadas aos candidatos Casagrande e Hartung mostraram que o deputado estava muito mais interessado em não se envolver em polêmica com os dois principais candidatos. Dentro da lógica: “quero ficar bem com todos”. 
 
Para o debate, Roberto Carlos adotou a estratégia “bumerangue”. Fazia as perguntas com a intenção de que elas voltassem para ele mesmo responder. Basicamente, ele recorreu à sua trajetória de professor para tentar se consolidar como o candidato da Educação. Seu discurso nessa área, porém, se resumiu à defesa do projeto da universidade estadual. 
 
A primeira pergunta que fez a Paulo Hartung foi sobre mobilidade urbana. Ele retomou o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), promessa de campanha do ex-prefeito de Vitória João Coser que não foi cumprida e passou a ser um fiasco da gestão petista. A ideia era dar uma levantada na bola em Coser. Roberto Carlos disse que o projeto do VLT aparecia no plano de governo de Hartung, e quis saber do ex-governador o que mudou da gestão do colega do PT para cá. Delicadamente, insinuou que o projeto não recebeu apoio do então governador à época e agora ressurgia no seu plano de governo. 
 
A pergunta teve efeito reverso para o candidato petista. Hartung aproveitou para cutucar o governo do PT, alegando que o projeto dependia de verbas federias para ser executado. Roberto Carlos, obrigado a defender o governo federal, pediu gratidão Lula, que tirou o Espírito Santo do buraco em 2003. O petista defendeu Lula, mas evitou retrucar diretamente o ex-governador pelos ataques ao PT.
 
Hartung, por sua vez, fuzilou o governo petista mas livrou a cara do candidato ao Senado João Coser, dando a entender que o então prefeito de Vitória não teve responsabilidade sobre o fracasso do projeto. A culpa, na leitura de Hartung, seria da inércia do governo federal, que isolou o Espírito Santo nos seus oito anos de governo.
 
Essa deferência aberta a Coser evidencia que os dois nunca desfizeram a comunhão selada no início do primeiro mandato de Hartung. Ratifica também a tese defendida por este jornal de que Hartung apoia (de fato) o candidato Coser, e não a candidata genuína do PMDB, a deputada federal Rose de Freitas.
 
No conjunto da obra, Roberto Carlos se recusou a exercer o papel de candidato da oposição. O que seria o caminho natural a se esperar de um candidato do PT, já que Hartung faz palanque no Estado para o principal candidato de Dilma, o presidenciável tucano Aécio Neves, e Casagrande é candidato do partido que rompeu com o PT, e também apoia outro rival da presidente, o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos. É oportuno lembrar que a principal tarefa do PT e de Roberto Carlos capixaba é construir um palanque sólido para Dilma no Estado. E não se edifica um palanque parrudo com candidatura laranja.
 
A candidata ao governo pelo Psol, Camila Valadão, acabou ocupando o vazio deixado por Roberto Carlos. Ao contrário do candidato do PT, Camila fez perguntas efetivas aos candidatos Renato Casagrande (PSB) e Paulo Hartung (PMDB), e ensinou ao professor como deve ser o papel da oposição. 
 
Começando de trás pra frente, as considerações finais de Roberto Carlos deixaram claro qual é o seu papel nestas eleições. “Nossa candidatura pode unir o Estado sem rancor”. A frase do petista faz menção a quebra da unanimidade, e a polarização hostil que opõe hoje Casagrande e Hartung. Num rompante de nostalgia, ele destaca que tem amigos aliados em ambos os lados, e se coloca, veladamente, como o candidato que poderia restaurar a unanimidade, ou seja, um discurso de quem está completamente desconectado da disputa, que está fervendo. 

Mais Lidas