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Sesa garante tratamento para cadeirante com osteomielite e risco de amputação

Liminar judicial determina internação hospitalar desde agosto, mas tratativas no Estado se iniciaram nesta quinta

Arquivo pessoal

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) garantiu, nesta quinta-feira (23), o tratamento de osteomielite crônica [inflamação dos ossos persistente por longo prazo] para a cadeirante Viviane Rangel, que desde o início de agosto tem liminar judicial determinando internação hospitalar imediata, devido à gravidade do caso e risco de amputação das duas pernas. 

A consulta para dar entrada na rede de saúde estadual está agendada para a próxima terça-feira (27), na Associação dos Funcionários Públicos, em Vitória. “A paciente passará por avaliação médica, e a partir da análise do quadro clínico atual, os encaminhamentos e procedimentos necessários serão adotados com a garantia da assistência”, informa a Sesa, em nota. 

Segundo a secretaria, a “garantia da assistência” refere-se a todo e qualquer serviço médico e hospitalar de que ela necessitar para seu efetivo tratamento”.

O último encaminhamento que Viviane recebeu veio do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), o Hospital Universitário da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no dia 17 de agosto, e indicava “internação para novo desbridamento [remoção de tecidos desvitalizados, no caso dela, pela osteomielite]”, bem como “avaliação conjunta das equipes de ortopedia e infectologia”. 

Assinado pela infectologia Fabiola Assad Antunes, o documento afirma que “a paciente precisa ser encaminhada para serviço de referência em osteomielite [mas] no Hucam não dispomos de ortopedia atuante” e acentua que “a paciente tem mandado judicial ordenando internação imediata”. Traz ainda, como “orientação ao paciente”, que é “necessária abordagem de infectologia e ortopedia. O mandado a que se refere o Hucam consta na liminar assinada pela juiz Ilaceia Novaes, no dia oito de agosto. 

Diante da ausência de condições de tratamento do Hucam, a orientação dada pelo juízo, conta Viviane, foi para que ela desse entrada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima de sua residência, para que a rede estadual de Saúde fosse formalmente acionada e os encaminhamentos necessários fossem iniciados. Porém, com o agravamento do quadro devido à fratura do fêmur e a interrupção dos medicamentos para combate da infecção que ela vinha tomado – antibióticos via oral –, Viviane não conseguiu acionar UPA nem PA. 

“A minha advogada que vem me ajudando explicou que um familiar meu poderia pedir essa internação, para eu não ter que me deslocar com o fêmur quebrado, mas a minha mãe foi no PA da Glória e a atendente disse que não poderia fazer, nem quis ouvir a orientação da advogada, por telefone. Minha mãe pediu para falar com a assistência social do PA, mas a atendente disse que naquele horário não tinha ninguém. Minha mãe está operada, é idosa, se sentiu destratada, e voltou para casa sem conseguir resolver”, relata. 

“Eu choro o tempo todo, eu coloquei no Facebook, no Instagram, no WhatsApp, pedindo para as pessoas respeitarem minha decisão, porque eu estava desistindo. Porque eu bato de porta em porta e não tenho atendimento. Estou me sentindo um ninguém. Eu sei que sou muito amada, muitas amigas vêm aqui, o pessoal da Igreja, meus amigos, mas eu sinto que o governo não está se preocupando com a minha vida”, desabafou. 

Sua súplica, reafirma, é pela internação e tratamento adequado. “Eu estava pagando consulta para infectologista! Mas R$ 350 por mês é pesado, eu tenho que comprar remédio, pagar luz, moro sozinha, só tenho BPC. Nem antibiótico estou tomando, porque está sem receita médica. É urgente”, clama. 

Com a marcação da consulta, ela afirma que suas esperanças foram renovadas e voltou a confiar na sua cura. “Graças a Deus. Não sei como vou fazer para ir nessa consulta em Vitória, com fêmur quebrado, mas vou conseguir. E vou sair de lá com internação, exame, medicamento, tudo que eu preciso para evitar de perder minhas pernas. Não desisti, não”. 

Fortalecer o SUS 

A dificuldade de conseguir as informações adequadas sobre os procedimentos burocráticos necessários para o atendimento adequado, a demora em conseguir consultas e exames…todo calvário vivido por Viviane, é um contexto abordado no Manifesto Fortalecer o SUS, publicado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)

A segunda das oito propostas elaboradas pelos pesquisadores associados, com base nas melhores experiências de saúde pública do mundo, fala em “Adequar o modelo de atenção do SUS às necessidades de saúde”, reconhecendo que “as relações entre hospitais, serviços especializados, urgência, vigilância à saúde e atenção primária estão fragmentadas”, sendo necessário “diminuir os vazios assistenciais, organizando ações e serviços de saúde por meio da de redes de atenção, garantindo acesso qualificado e resolutivo com ênfase nas necessidades de saúde da população”. 

Para isso, prossegue o Manifesto, é necessário a implementação de medidas como: “Implementação de dispositivos de integração de rede: NASF; prontuário único e função gatekeeper; estabelecer o cuidado compartilhado entre APS e especialidades; e ampliação das ações de Saúde Coletiva: fortalecer ações de vigilância à saúde como busca ativa de casos de notificação, rastreamento de contatos e cuidado familiar, monitoramento de situações graves como sentinelas do coletivo (valorizando a prevenção para além da prontidão)”.


‘Uma coisa que não quero, de coração, é que tirem minha perna’

Viviane Rangel luta desde dezembro por uma internação hospitalar para tratar osteomielite e evitar amputação


https://www.seculodiario.com.br/direitos/uma-coisa-que-nao-quero-de-coracao-e-que-tirem-minha-perna

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