Sábado, 27 Abril 2024

Corretora que matou ciclista é indiciada por homicídio duplamente qualificado

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A Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (DDT) concluiu as investigações sobre o atropelamento da modelo Luísa da Silva Lopes, ocorrido em abril deste ano, na Avenida Dante Michelini, em Vitória, que culminou na morte da vítima. O delegado responsável pelo caso representou pela prisão preventiva da indiciada, a corretora de imóveis Adriana Felisberto, e pela suspensão de seu direito de dirigir. A conclusão do inquérito e a representação foram enviadas nessa quarta-feira (5) para o Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A motorista pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.

As informações foram divulgadas em coletiva de imprensa realizada nesta quinta, onde foi detalhado todo o processo de investigação. Para chegar à conclusão de homicídio doloso duplamente qualificado, a Polícia Civil (PC) levou em consideração questões como o estado de embriaguez da motorista, o fato de dirigir em alta velocidade, a frieza em torno da morte causada e o clamor social diante do falecimento da vítima, uma vez que houve protestos, sinalizando, entre outros pontos, que ela era uma "pessoa de bem".
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A tipificação como homicídio doloso se deu porque a condutora do veículo demonstrou frieza diante do ocorrido, já que mostrou preocupação com o seu carro, e não com a vítima. Adriana também se referiu a Luísa com frases como "ela provavelmente era uma empregada doméstica sem importância" e "não quero saber dela, não".

Segundo a Polícia Civil (PC), Adriana saiu da Serra rumo a um bar em Jardim Camburi. A pessoa que a acompanhava e que era sua carona no carro, afirmou durante as oitivas, que elas beberam água e comeram caranguejo. O estabelecimento não conta com câmeras de videomonitoramento, mas esse relato pôde ser desmentido por meio de imagens postadas nas redes sociais e da comanda. No Instagram, Adriana postou uma foto no local onde é possível ver caranguejos e um copo de cerveja. Na comanda, consta a consumação de cerveja, e não de água.

Em seguida, elas foram para um bar no Triângulo, na Praia do Canto. Novamente, a pessoa que a acompanhava conta uma versão inverídica, afirmando durante as investigações que Adriana tomou somente dois goles de cerveja e parou, por não estar se sentindo bem. Entretanto, as câmeras de videomonitoramento mostram que ela levou o copo de cerveja à boca 23 vezes em cerca de 30 minutos. O consumo da cerveja é comprovado também por meio da comanda.

Também é possível verificar, por meio das imagens fornecidas pelo estabelecimento, que Adriana e a pessoa que a acompanhava começaram a interagir com a mesa ao lado. Em um certo momento, um homem que estava nessa mesa levanta e oferece vodka para a corretora de imóveis. Ela não somente toma quando ele a oferece pela primeira vez, mas também em outras ocasiões, pois ele ofereceu mais de uma vez, e ela também solicitou a bebida algumas vezes. Ao todo, segundo a PC, ela levou o copo de vodka à boca 24 vezes durante o período em que este no bar. Inclusive, o último gole foi cerca de 10 minutos antes do atropelamento.

Na cena do crime, a Avenida Dante Michelini, constatou-se, de acordo com a PC, que a motorista estava em alta velocidade, dirigindo a 72 km/h em um local cuja velocidade máxima é de 60 km/h. Luísa foi projetada a uma distância de 40m, e sua bicicleta, a 51m. Foi constatado, ainda, que a vítima, no início da travessia na faixa de pedestre, tentou desviar do veículo, que vinha em alta velocidade, mas não obteve êxito.

Quando o crime aconteceu, foi ventilada a possibilidade de um terceiro veículo envolvido, que teria atropelado Luísa e, depois, colidido no carro de Adriana, uma vez que a lateral do automóvel da corretora estava amassada. Entretanto, foi descartada essa hipótese, sendo o amassado na lateral resultado de algum outro acidente.

A causadora do atropelamento estava com sua capacidade psicomotora alterada não somente por causa das bebidas alcoólicas que havia ingerido, mas também por ter tomado alguns remédios controlados, como Prebictal, cuja bula alerta para o fato de que pode ocasionar alteração na capacidade de dirigir, e Zolpidem, que pode causar sonolência e insônia.

Embora o sinal estivesse aberto para a motorista e fechado para a ciclista, diante dos fatores como embriaguez e alta velocidade, a responsabilidade da motorista não pode ser eximida. O que pode acontecer, segundo a PC, é o juiz levar em consideração esse fato na fixação da pena, podendo reduzi-la.

Pedido de Justiça

Em setembro, quando o crime completou cinco meses, a mãe de Luísa Lopes, a professora Adriani da Silva, fez um desabafo nas redes sociais devido à falta de esclarecimentos da Justiça diante do caso. "É uma coisa que não gostaria de estar lembrando, mas, como mãe, tenho que lembrar sempre. Não posso deixar que um assassinato, que esse crime que foi cometido, caia no esquecimento, apesar da dor que sinto até hoje", desabafou.

Adriani também recordou em sua postagem a frieza da mulher que atropelou sua filha. "A preocupação dela era com o carro, não sabia o que fazer na segunda, com o carro na situação que estava", aponta. A professora destacou que a mulher que cometeu o crime estava embriagada e que sua luta por justiça não é somente por Luísa e seus familiares, mas também por outras vítimas de acidente de trânsito e suas famílias.

Pouco mais de um mês após o atropelamento, Adriani lamentou a falta de assistência por parte do poder público. "Em nenhum momento, fui chamada por ninguém, nem pelo Detran [Departamento Estadual de Trânsito]. Ninguém me perguntou se eu precisava de alguma coisa, se eu precisava de um atendimento psicológico. Nós, familiares, ficamos desamparados, desorientados", ressaltou.

A afirmação foi feita em 30 de maio, em audiência pública realizada na Câmara de Vitória para debater o trânsito na Capital. Durante a sessão, Adriani lembrou que Luisa faria 25 anos em junho, enfatizando que a jovem era cheia de sonhos. "A última frase dela, me ligou e disse: 'quando eu voltar, a gente termina a conversa', e essa conversa não foi terminada, porque houve um assassinato, porque aquilo que aconteceu ali na Dante Michelini não foi um acidente, foi um crime", denunciou.

Em 19 de abril, uma manifestação pediu justiça para Luisa, no mesmo local onde o atropelamento ocorreu, com cerca de 500 pessoas e mais de uma centena de bicicletas. Não fosse ela a vítima, Luisa estaria ali, protestando por justiça, confirmou sem hesitar, sua mãe, durante o protesto.
Leonardo Sá

Foram muitos os grupos e pessoas que se mobilizaram. O ato contou com cortejo de bicicleta desde a Universidade Federal do Estado (Ufes), onde a jovem estudava Oceanografia, até o local do atropelamento. Bateria de carnaval, capoeira, dança, todos projetos dos quais Luisa participava de alguma maneira. Também participaram da manifestação outras famílias que perderam seus filhos para violência do trânsito.

Muitos levaram nas camisas o rosto de seus entes perdidos, com mensagens de saudades e luta por justiça. Os parentes de Luisa Lopes levaram junto com a sua imagem estampada, um trecho da canção O Leãozinho, de Caetano Veloso, considerada uma marca dela, pois era leonina, de longos cabelos afro e loiros.

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