Sábado, 18 Mai 2024

Governo escolhe local para base da PM sem consultar moradores da Piedade

Governo escolhe local para base da PM sem consultar moradores da Piedade

Representantes de ONGs que atuam no Morro da Piedade, no Centro de Vitória, e moradores foram surpreendidos, na manhã dessa segunda-feira (18), com uma coletiva de imprensa convocada pela Secretaria de Estado da Segurança (Sesp). O motivo: anunciar um suposto local para implantação da base da Polícia Militar na comunidade. Vestido a caráter, com colete a prova de balas, o representante da pasta, coronel Ilton Borges, só se esqueceu de um detalhe: consultar e ouvir a comunidade, que também tem suas sugestões a dar sobre o local.  


O Instituto Raízes, ONG que realiza trabalhos sociais no bairro, considerou a coletiva de imprensa um espetáculo midiático, além de total falta de respeito com a comunidade. “Na ultima sexta (15) , em reunião, a Prefeitura de Vitória garantiu que o Centro de Vivência da comunidade seria potencializado com atividades socioculturais, mas hoje [segunda], de forma espetacularizada e sorrateira, o secretário de Segurança anunciou, que este mesmo Centro de Vivência, único lugar que a comunidade tem para acessar internet, elaborar trabalhos escolares e se socializar, pode virar a base da PM. É fácil, tirar pirulito da mão de criança. E é justamente isso que o Estado tenta fazer. Além da falta de diálogo, e nos parece de sensibilidade, a comunidade é vítima da intervenção estatal autoritária e da ausência de políticas públicas eficazes”, disse por meio de nota publicada em suas redes sociais.


A nota completa: “Como é de conhecimento de todos, estamos acompanhando e vivendo tudo o que tem ocorrido no morro, apoiando as famílias, dialogando com as pessoas, estando junto nos momentos mais difíceis. No entanto, a maior surpresa foi devido ao não diálogo com a comunidade e instituições da região sobre o local de instalação da base. Os moradores têm sugestões, mas sequer foram consultados e ouvidos”.


Moradores deixam a comunidade


Desde o ano de 2010, quando os conflitos do tráfico se intensificaram no bairro da Piedade, no Centro de Vitória, 203 pessoas deixaram a comunidade, o que corresponde a 60 residências desocupadas. Os dados são do Grupo Raízes da Piedade, que divulgou mais uma nota na tarde dessa sexta-feira (15). Apenas neste ano, segundo a organização, 128 pessoas se mudaram do bairro, o que representam 40 casas vazias desde janeiro; dados atualizados nesta segunda-feira (18). 


Depois da reunião realizada com a Prefeitura de Vitória na última sexta, foi realizado um mutirão de limpeza, recolhimento de entulhos, pintura de corrimões e vias do Morro da Piedade nesse sábado (16).


Além dessas intervenções imediatas, serão avaliadas e planejadas outras medidas de melhorias para o bairro e equipamentos que atendem à comunidade, como a ampliação e funcionamento do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Carlita, com a ideia de ampliar o horário para tempo integral; reorganização dos atendimentos na unidade de saúde do bairro; articulação do CRAS com ações coletivas e sociais; início de práticas esportivas na quadra poliesportiva do bairro e reuniões periódicas para acompanhamento da situação do bairro.


 


Diante do medo que se instaurou no bairro, a comunidade tem utilizado a fanpage do Instituto Raízes para se posicionar.  “Durante toda a semana vimos cenas tristes, emocionantes e estarrecedoras com famílias deixando histórias e a casa própria para trás. Os membros do Raízes, em sua maioria, são frutos da Piedade e viram muitas das casas serem construídas, noites carregando materiais, festas coletivas, brincadeiras e a liberdade que se tinha em circular no Morro, agora tudo pode se tornar ruína e as histórias esquecidas. A alegria e o samba que aqui sempre ecoou, deram espaço para crianças com semblantes entristecidos, idosos lamentando deixar seus lugares que nasceram e criaram seus filhos e netos. Hoje uma família preferiu destruir toda casa a marretada com medo de que ela seja invadida por terceiros. Vivemos uma triste realidade e que nos choca a cada andada pelo morro. O sentimento de destruição que vimos em Mariana - MG, é o mesmo da Piedade”, relataram.


Neste ano, pelo menos, quatro jovens foram assassinados no morro, incluindo os irmãos Damião, 22 anos, e Ruan, 20, crimes que alcançaram grande repercussão no final de março deste ano. Neste mês, Walace de Jesus Santana, 26 anos, foi a vítima mais recente. Foi assassinado próximo ao projeto social Raízes da Piedade, cancelando uma festa junina prevista para o domingo (10). Além do assassinato, os criminosos invadiram a casa da mãe do jovem, onde também morava sua avó de 93 anos, e colocaram fogo nos cômodos. Além dos três jovens, Lucas Teixeira Verli, de 19 anos, por sua vez, foi assassinado no dia 28 de maio. 

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