Campanha para construir WikiHouse entra nos últimos dias

Ex-ajudante de marinheiro, Seu Manoel, de 60 anos perdeu o emprego após um acidente que o incapacitou e vivia de favores na casa de outros até conseguir construir seu barraco de madeira, com 9 metros quadrados, apresentando frestas nas paredes e tetos que o deixam mais exposto às intempéries. Sem banheiro, água nem energia elétrica, sua situação gerou ainda mais comoção em moradores da região por conta da situação de pandemia, quando realizam entregas de cestas básicas, já que Seu Manoel sequer tinha acesso a condições de higiene adequadas. O barraco acabou sendo interditado pela Defesa Civil e o morador está vivendo provisoriamente em um abrigo.

A mobilização de moradores buscando apoio do Coletivo Beco e do grupo BR Cidades, fez com que a história e a situação de Seu Manoel chegassem a professores de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Vendo a condição precária do imóvel, perceberam que não era caso de reformar mas de construir uma nova habitação, que desse condições dignas para o morador.

Foi então que alunos e professores se engajaram para implantar o modelo de WikiHouse inspirado na experiência do grupo argentino Creativa de Avanzada Útil Humano (CAUH). A estrutura de imóvel, que utiliza madeira compensada e materiais reciclados, privilegia materiais leves, que possam ser facilmente transportados para morros e locais de acesso dificultado, e utiliza encaixe para conectar as estruturas, não necessitando parafusos ou cimento. A proposta desenhada inclui dois cômodos, com quarto e cozinha integradas e banheiro, além de área de serviço e varanda.

Além disso, o modelo pré-moldado do projeto possui facilidade de implantação e pode ser feito por pessoas sem treinamento formal em construção, com orientação da equipe de arquitetos que elaborou o projeto e já está realizando os primeiros testes de protótipos com uma máquina de corte controlada por computador.

"O apoio ao projeto ajuda a desenvolver um modelo replicável para construir habitações ou equipamentos públicos na Grande Vitória com mesmo grau de desgaste e necessidade de substituição completa", diz o chamado no portal Benfeitoria, que lembra que no Espírito Santo 8% dos domicílios existentes são classificados dentro do cálculo de déficit habitacional, por não incluírem condições adequadas e terem como orientação a provisão de uma nova moradia. Um relatório de 2015 do Instituto Jones dos Santos Neves indica que o déficit habitacional atinge 225 mil pessoas no Estado, sobretudo nos grandes centros urbanos.

O caso de Seu Manoel é um entre tantos que precisa de soluções que sejam práticas e adequadas, aliadas a políticas públicas amplas e consistentes para moradia popular, como é defendido por grupos como o BR Cidades.