Área crônica e com problemas multifacetados, a pasta estadual de Segurança Pública sempre gera desgastes para os governos, que ficam entre a cruz e a espada para apresentar soluções imediatistas que atendam, ao mesmo tempo, parcelas distintas e antagônicas da sociedade, cada uma puxando farinha pro seu saco. E também para dar respostas imediatistas à mídia sensacionalista, que abarrota seu noticiário com a escalada do crime.
Ingredientes que deixam o gestor da pasta num cerco de “ter que mostrar trabalho” em curto tempo. O resultado nem sempre é animador ou resolutivo, pois tendem a fórmulas mágicas para enfrentar o problema.
Pois a bomba, no final do último mandato do governador Paulo Hartung, caiu no colo do coronel Nylton Rodrigues, que já foi comandante da Polícia Militar. A mesma que ainda parece divorciada do governo desde a paralisação de fevereiro de 2017.
Já conhecido pelo inseparável colete à prova de bala ou então dos ternos bem-cortados que o acompanham em quase toda entrevista, coronel Nylton tem sido alvo de inúmeras críticas e também por declarações polêmicas e contraditórias (não necessariamente nessa ordem), enquanto a violência urbana segue em sua escalada pela Grande Vitória e no interior do Estado.
Outro dia, o secretário de Segurança Pública do Estado repetiu, por exemplo, que não havia nenhuma área controlada pelo tráfico de drogas no Estado. Por outro lado, tem se tornado cada vez mais comum o relato de moradores que vivenciam as ordens impostas por traficantes na Grande Vitória, deixando até suas casas, como o casso do Morro da Piedade, em Vitória, que registrou neste ano o assassinato de seis jovens e uma evasão de mais de 120 moradores.
A Piedade, no entanto, não é o único caso na Capital. Conflitos intensos também foram relatados, este mês, por moradores dos morros do Alagoano e de Caratoíra.
Já em Vila Velha, no último dia 18, o assassinato da jovem Thaís Oliveira Rodrigues, de 22 anos, por traficantes no bairro Morada da Barra, próximo à região de Terra Vermelha, foi chocante. Acompanhada da família, ela tinha ido ao local buscar um bolo de aniversário para a irmã. Detalhe: conforme denúncia do Sindicato dos Policiais Civis, a Região Cinco, mais populosa de Vila Velha, não possui sequer uma delegacia de Polícia.
Coronel Nylton disse ainda que a Polícia Militar iria usar helicóptero para combater arrombamentos, que ocorrem à noite e de madrugada, o que motivou mais questionamentos e até piadas nas redes sociais.
As mais recentes críticas dão conta que o coronel Nylton exclui completamente as entidades da sociedade civil de participar com sugestões para a construção de uma política estadual de segurança. Na verdade, exclui até mesmo de apenas serem ouvidos.
Organizações que militam nas periferias capixabas contestaram, recentemente, os investimentos anunciados pelo secretário. De acordo com o coronel, serão R$ 411 milhões para um pacote de reestruturação das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros. Mas, como de costume, as decisões excluem a participação da sociedade civil organizada.
“É inadmissível o governo seguir com essa política de segurança pública reativa, sem planejamento e participação social na sua construção. Precisamos envolver toda a sociedade neste debate tão caro para a população capixaba. Não serão em gabinetes que resolveremos nossos problemas. Por isso, propomos novamente a abertura de um canal de diálogo com participação de amplos setores para que possamos realmente avançarmos na consolidação de um Estado seguro para todos e todas viverem”, disse por meio de nota representantes do Círculo Palmarino.
Ao que se vê, os meses finais de mandato de Paulo Hartung ficarão na história como os mais violentos, deixando o próximo governo com uma batata quente nas mãos. É esperar pra acompanhar as cenas dos próximos capítulos…