Entre as várias lideranças que estiveram na linha de frente da reeleição de Luciano Rezende (PPS) já há uma convicção de que os apoiadores do prefeito estarão fora da partilha do poder. Os movimentos do prefeito têm sido sempre na direção do seu grupo político. O caso mais emblemático é o do vereador Fabrício Gandini (PPS), que deve receber de Luciano uma secretaria estratégica. Mais um sinal de que o prefeito o prepara para ser seu sucessor à prefeitura.
Incluí-se a isso a maneira com que conduz Gandini à Câmara de Vereadores. Fica claro que ele já se articula para fazer um vereador do seu partido o próximo presidente da Casa. Luciano faz barba cabelo e bigode. Dos que embarcaram na candidatura de Luciano, exceções a José Esmeraldo (PMDB) e do seu filho, o vice-prefeito Sérgio Sá (PSB), o restante vai ficar a ver navios. Na lista dos que não lucraram nada com a reeleição do prefeito está o seu principal apoiador: o ex-governador Renato Casagrande (PSB).
Havendo ainda o caso especial do ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB). O tucano era o favorito na disputa à prefeitura da Capital, quando decidiu sair do páreo e apoiar, surpreendentemente, a candidatura de Luciano. Os votos puxados por Luiz Paulo, como das outras lideranças, acabaram ajudando Luciano a bater Amaro Neto (SD), num pleito apertadíssimo. O tipo de vitória com gosto de derrota, contra um perdedor que saiu da disputa com sabor de vitória na boca.
Luciano sabe que só ganhou essa disputa graças aos votos dos seus apoiadores. Pois se tivesse seguido isolado, como no início da disputa, não teria ido, talvez, nem para o segundo turno. Mas acabou vencendo e saiu fortalecido da disputa. Ele pode agora, inclusive, sonhar com o governo do Estado. Sonho que também pode ser compartilhado por Max Filho (Vila Velha) e Audifax Barcelos (Serra).
Contudo, não diria que eles já estão de posse dos passaportes para empreender essa viagem agora, mas só em 2022. É verdade também que eles podem muito bem encontrar um PH saindo fortalecido nas eleições de 2018. Não faria a mesma projeção para o ex-governador Renato Casagrande. Pois ele vai ter que fazer uma verdadeira reconstrução de forças, além de saber lidar com as ambições de Luciano.
Esse cenário é claro para demonstrar como Luiz Paulo embarcou errado. Além da sua inegável condição eleitoral, é ainda um dos mais preparados quadros da política capixaba. Diria também que o deputado Sérgio Majeski (PSDB) foi outro que embarcou errado no barco de Luciano. Um parlamentar que constrói na Assembleia Legislativa um mandato de altíssima qualidade não deveria (ou não precisaria) misturar-se a essa fuzarca de Luciano.
Ainda mais após o quadro político capixaba ter sido sacudido por uma figura de alto potencial eleitoral. Amaro Neto disputou uma eleição contra Luciano armado para ser um massacre e, no entanto, venceu no sufoco, voto a voto. Velho de estrada, eu diria que assisti pouca vezes algo como essa disputa na Capital. E também não lembro de ter visto um candidato como Amaro Neto, levantando uma extraordinária votação com apenas meia dúzia de apoiadores. Numa disputa, inclusive, em que as elites se comportaram como mensageiros do apocalipse que se reservava para Vitória, caso Amaro vencesse as eleições.
Mas ele segue por aí assustando as elites e a classe política. Já que em matéria de voto, por ora, a não ser que passem o laço nele, como querem alguns, caso de PH, Amaro tem tudo para entrar na eleição de 2018 como favorito. Ele poderia encarar a disputa ao Senado ou à Câmara dos Deputados. Se optar pela Câmara, poderá muito bem fazer uns 300 mil votos, impulsionando os candidatos ao Senado – leia-se, o próprio PH, como também o senador Ricardo Ferraço (PSDB) e até o senador Magno Malta (PR).
Para quem ouviu, como eu ouvi do lado de Amaro, que deputado federal não é sua praia, convencido de que perdeu ganhando a disputa em Vitória, ele poderá alçar voos mais latos na próxima eleição. Sem, contudo, submeter-se aos interesses dos que tratam a política como propriedade própria.