Se o casamento por interesse migratório pode custar 15 mil dólares, quanto custa um divórcio? Nesse tipo de casamento, fica implícito que o divórcio está incluído no preço, com a condição de só acontecer depois de dois anos – prazo que o serviço de imigração determina para conceder os documentos definitivos de residência legal. Dois anos passam depressa, em muitos casos, mas às vezes pode ser tempo demais.
É fácil entender o motivo de pagarem tão caro a quem queira participar porque, nas outras opções legais disponíveis, o processo é complicado e demorado. Cerca de 40 mil pedidos são rejeitados todo ano, apenas por erro na documentação. Madalena vivia feliz com sua solteirice, mas pressionada por irresistível quantia, casou com Rui, desesperado pela legalidade. Houve festa com direito a vestido de noiva, bolo e convidados.
A parte chata foi beijar o noivo para a foto oficial, mas pelo valor embolsado, valeu a pena. Tudo certo, assinado e sacramentado, cada um foi cuidar da própria vida, “Nos vemos daqui a dois anos para sacramentar o divórcio”. A vida, porém, tem essa mania de desbaratar nossos planos. Madalena conheceu Josias e foi amor ao primeiro esbarro. Pois aconteceu assim mesmo – um esbarro, e caíram de amores.
Josias queria se casar, mas aceitou a situação, afinal irreversível. De qualquer forma, não custava esperar alguns meses até pôr fim ao nefando contrato. Na data prevista Madalena vai procurar o falso marido, e qual não é sua surpresa quando ele lhe informa que não quer o divórcio. “Como assim? Trato é trato, e você já tem seus documentos, não precisamos manter a farsa”, insiste Madalena, e explica que pretende se casar de verdade, espera apenas ficar livre dessa situação embaraçosa. Aliás, para ambos.
A forma mais fácil de obter o visto de residência é se casando com um americano. De acordo com estimativas do governo americano, cerca de 200.000 casamentos que dão o visto a imigrantes são fraudulentos, mas tem condições de investigar menos de 1% dessas uniões. Tem problemas mais graves nas fronteiras. Nas raras ocasiões em que descobre a trama, geralmente por denúncia, o estrangeiro é sumariamente deportado, mas o cidadão co-autor da farsa poucas vezes sofre consequências.
Rui sabe disto, mas aposta na sorte, “Paguei caro por esse casamento, e se você quiser se ver livre de mim, vai ter que me pagar pelo divórcio”. Madalena tenta argumentar, que já gastou todo o dinheiro que dele recebeu e não tem onde arranjar mais. E ameaça denunciar a trama, sabendo que Rui tem muito mais a perder do que ela. E estava certa. Madalena pede o divórcio, mas antes que seja concedido o Rui morre em um acidente de carro e Madalena ainda recebe uma gorda herança.
The end.
