A prisão do jardineiro Cristiano Rodrigues, na manhã desta sexta-feira (28), trouxe à tona mais um capítulo do “Crime da Ilha”, que já se arrasta por mais de uma década.
Em janeiro de 2003, Cláudia Soneghetti, de apenas 28 anos, foi morta juntamente com a sua empregada, Mauricéia Rodrigues, de 20 anos. As duas foram assassinadas por asfixia e tiveram os corpos parcialmente carbonizados. Na época, o empresário Jorge Donati, hoje prefeito de Conceição da Barra, foi apontado como mandante do crime.
Os irmãos Cristiano e Renato dos Santos Rodrigues foram apontados como executores. Em 2012, os irmãos foram a julgamento. Renato acabou sendo condenado apenas por receptação e está em liberdade. Já Cristiano foi condenado a 41 anos de prisão pela autoria do crime.
Apesar da condenação, Cristiano só foi preso na madrugada desta sexta-feira (28). Muita gente deve estar se perguntando: nossa, que estranho! O acusado vai a júri popular, é condenado. O juiz o sentencia a 41 anos de prisão, diga-se, uma senhora pena em face à gravidade do crime, mas, mesmo assim, o condenado sai do júri e em vez de ir direto para a prisão vai para casa.
O advogado recorreu da decisão e rogou que o seu cliente aguardasse o julgamento do recurso em liberdade. Estranhamente, considerando a gravidade do crime e a enorme repercussão, o juiz acatou o pedido da defesa que permitiu que o jardineiro permanecesse livre até hoje.
Como a Justiça é morosa por natureza, o vai e vem do processo se arrastou de maio de 2012 até março de 2013, quando o Tribunal de Justiça do Espírito Santo ratificou a decisão de primeiro grau e o processo transitou em julgado. Depois de quase um ano, o processo retornou novamente para o juiz que o sentenciou. Desta vez, o juiz expediu o mandado para prender o condenado.
Isso significa que o réu, após ser condenado a 41 anos de prisão, ficou quase dois anos em liberdade, sabe-se diabos fazendo o quê. Sem contar que o crime ocorreu em janeiro de 2003. Um lapso temporal de mais de uma década. Só a partir desta sexta é que o assassino vai começar a pagar pelo crime que cometeu há mais de uma década.
Mas os enigmas do Crime da Ilha não param por ai. Ao ser preso, Cristiano voltou a acusar Donati de ter sido o mandante do crime. Ao ser perguntado quem teria encomendado o crime, Cristiano declarou na delegacia à reportagem da TV Vitória, com todas as letras: “Foi Jorge”. Ele ainda acrescentou que o crime foi motivado por problemas relacionado aos bens do casal. “Negócio de herança”, explicou.
No processo, Jorge Donati é formalmente acusado de ser o mandante do crime. Em janeiro deste ano, Donati foi intimado pelas Câmaras Criminais Reunidas do TJES para designação de audiências com testemunhas do processo. Ele deve ser ouvido a partir de maio próximo.
Já passou da hora de a Justiça dar um ponto final neste caso. Não é razoável que as famílias de Cláudia e Mauricéia tenham que esperar outros dez anos para saber se Jorge Donati é ou não responsável pelo mando do duplo homicídio.