Sábado, 27 Abril 2024

IA e o câncer de mama

Uma pesquisa recente, publicada na renomada Lancet Digital Health, revelou que a colaboração entre a inteligência artificial e um radiologista resultou na detecção de um número superior de casos de câncer de mama em comparação com a análise individual de dois especialistas em radiologia. Além disso, os resultados demonstraram que a IA, por si só, identificou quase a mesma quantidade de cânceres que dois radiologistas trabalhando de forma independente.

Esses achados sinalizam a possibilidade de que, em breve, os relatórios de mamografias possam ostentar a aprovação da inteligência artificial, em contrapartida à tradicional assinatura de um radiologista. Pesquisadores do Departamento de Oncologia-Patologia do Instituto Karolinska, uma universidade estatal pública na cidade de Estocolmo, Suécia, ressaltam que tanto a IA quanto os seres humanos interpretam as imagens de maneira ligeiramente distinta, estabelecendo uma sinergia que amplia consideravelmente as chances de detecção precoce do câncer de mama.

Durante décadas, a mamografia tem desempenhado um papel fundamental na detecção precoce do câncer de mama. Contudo, o cenário atual aponta para uma transformação tecnológica que pode redefinir os métodos tradicionais de diagnóstico. Nos tempos atuais, o câncer de mama apresenta maiores índices de sobrevivência entre as mulheres, em contraste com décadas passadas, atribuído, em grande parte, à eficácia dos exames de rastreio, em particular, a mamografia. De fato, a mamografia demonstrou elevar as taxas de sobrevivência em um notável percentual de 20%.

Entretanto, mesmo com os benefícios oferecidos por esse método, surgem desafios consideráveis, relacionados aos chamados "falsos positivos" - a identificação errônea de câncer onde ele não está presente, e "falsos negativos" - a omissão de cânceres reais. Mesmo contando com a perícia dos radiologistas, as interpretações das mamografias são inerentemente imperfeitas. Especialistas destacam que a interpretação é, em sua essência, uma habilidade altamente subjetiva, suscetível à variabilidade entre os próprios radiologistas.

No panorama geral, estatísticas indicam que as mamografias de rastreio falham em detectar aproximadamente 20% dos casos de câncer de mama. Nesse contexto, a busca por tecnologias capazes de aprimorar a análise das mamografias e elevar os níveis de precisão representa um significativo passo na contínua luta contra o câncer de mama.

Estudos anteriores mostraram que o uso da IA é seguro e eficaz e tem precisão diagnóstica suficiente como leitor independente, mas as investigações tiveram problemas de viés. Esta pesquisa marca a primeira vez que a IA foi integrada ao fluxo de trabalho de um consultório de radiologia. "Com o estudo ScreenTrustCAD, queríamos examinar o desempenho de dois radiologistas em comparação com um radiologista e IA, e apenas IA em nossa clínica de radiologia", disse Dembrower. Os resultados revelaram que um radiologista mais IA resultou num aumento de 4% na detecção de cancro em comparação com dois radiologistas.

Está claro que, para a mamografia de rastreamento, um radiologista apoiado por IA é uma alternativa melhor do que dois radiologistas sem IA. Em um teste em Estocolmo, por exemplo, a IA mais dois radiologistas detectaram o maior número de casos de câncer – 269. Um radiologista e a IA encontraram 261 tipos de câncer, e dois radiologistas detectaram 250 tipos de câncer. Somente a IA diagnosticou 246, o que foi estatisticamente não inferior a dois radiologistas.

Segundo especialistas, a mamografia ainda não está pronta para ser 100% IA e mesmo que assuma grande parte do exame inicial, ainda é necessário um radiologista para fazer o julgamento antes de qualquer paciente ser chamado de volta para investigação adicional e, se necessário, para realizar biópsias de áreas suspeitas. Os radiologistas fazem muito mais do que diagnosticar o câncer, e só porque a IA é usada para melhorar a detecção e acelerar o processo, esperançosamente, não significa que o toque pessoal será esquecido.


Flávia Fernandes é jornalista, professora e autêntica "navegadora do conhecimento IA"
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