A disputa ao governo do Espírito Santo em 2014, além de pôr fim ao pacto da unanimidade entre Paulo Hartung (PMDB) e Renato Casagrande (PSB), provocou uma cisão que dividiu o Estado em dois grupos políticos bem definidos. A campanha acirrada extrapolou a divergência de ideias e transformou as duas principais lideranças do Estado em verdadeiros inimigos. Trocando em miúdos, o Espírito Santo ficou pequeno para Hartung e Casagrande.
À ocasião da disputa, Século Diário assumiu editorialmente a candidatura do socialista por entender que o projeto do PSB era melhor para o Espírito Santo. De outro lado, a volta de Hartung, na interpretação do jornal, significaria um retrocesso.
O jornal tomou essa decisão de forma independente. Não houve um conchavo para celebrar uma parceria, uma frente de luta contra o palanque adversário ou algo que o valha. Houve simplesmente um posicionamento público para não inebriar o leitor de que não existe jornalismo imparcial. Afinal, o leitor tem o direito de saber o que está lendo para não ser enganado.
Ao assumir esse posicionamento, não havia tampouco expectativa de contrapartida, como, por exemplo, ser contemplado, mais à frente, com uma fatia da publicidade pública, caso o então candidato do PSB fosse eleito. Mesmo porque, se o jornal foi embargado do bolo da publicidade durante os oito anos do governo Hartung (2003 – 2010), seguiu sendo preterido no governo de Casagrande, que teve de honrar o compromisso com o antecessor de manter o plano de asfixia financeira a Século Diário.
Ao assumir um posicionamento na eleição, Século Diário tinha plena consciência de que, em caso de vitória do peemedebista, a represália ao jornal seria mais truculenta. O que se confirmou tão logo Hartung ocupou o comando do Estado já governado por Muniz Freire, Constante Sodré, Jerônimo Monteiro entre tantos outros.
O embargo, como esperado, rompeu os limites do Palácio Anchieta e se alastrou para os municípios que costumavam anunciar com o jornal. Não bastassem as ações para desidratar financeiramente a empresa, Hartung fortaleceu o cerco jurídico ao jornal, com processos civis e criminais cujo autor é o próprio governador — expediente ao qual ele não recorrera nos mandatos anteriores.
A estratégia de asfixiar financeira e juridicamente o jornal, até agora inócua, só tem um objetivo: fechar Século Diário e calar uma história de mais de 16 anos de jornalismo independente no Espírito Santo.
É justamente essa independência editorial que fortalece essa amalgama de credibilidade conquistada por Século Diário e que tem assegurado sua sobrevivência até hoje, mesmo neste ambiente cada vez mais inóspito criado para liquidar publicações alternativas como a nossa, que dão voz a causas que nunca são contempladas pela chamada imprensa tradicional, como a questão dos índios, quilombolas, dos crimes ambientais praticados pelas grandes empresas poluidoras e o combate à violação dos direitos humanos.
Nessa eleição, o cenário polarizado entre Casagrande e Hartung ergue um muro cada vez mais alto que divide esses dois grupos políticos, especialmente em Vitória, que é o principal palco da disputa eleitoral.
Século Diário esclarece aos seus leitores que se manterá independente nesse processo. Não neutro, porque comunicação imparcial só existe nas aulas de Jornalismo da academia e nos manuais de redação com seus conceitos protocolares. Mas, na vida real, se manter independente é fazer jornalismo livre, como sempre fizemos, mesmo quando fazemos escolhas e as assumimos.
Século Diário não vai ocupar nenhum dos lados do muro que divide hoje a política capixaba. Vai simplesmente se manter do lado dos fatos.