Foi dada a largada para a maratona dessa quarta-feira: tenho duas horas para escrever uma coluna. Cenário pouco propício: local de trabalho, início do ano letivo, estudantes novatos na porta precisando de assistência em assuntos já amplamente esclarecidos, tarefas já devidamente estabelecidas, perguntas já respondidas por emails, informações sobre locais e horários das classes disponíveis nos sites. Que fazer? O mundo de hoje é dos jovens e quem se adapta somos nós.
Einstein já provou que o tempo é relativo. Se tiro duas horas para o horário de almoço estou extrapolando meus direitos, se levo duas horas esperando alguém da tecnologia vir consertar meu computador, faz parte do ofício. Estudante Sunita, da Arábia Saudita, quer saber onde fica o toalete feminino, embora tenha um sinal luminoso indicando o corredor da direita. A mantilha azul que ela usa cobrindo a cabeça – versão moderna e simplificada da tenebrosa burca – combina com seus olhos também azuis.
Antigamente os estudantes tinham nomes e sobrenomes que a gente conhecia dos filmes, como John e Melissa, Smith e Cooper. Sinal dos tempos, os nomes agora soam estranhos, como Meshaal e Alkahtan, Madjesz, Tsolatis e Ogbadulah. As faculdades americanas continuam atraindo estudantes de todas as raças e credos, tornando-se uma pequena amostragem do que vai pelo mundo. E como o governo tem cortado verbas para a educação, não demora muito os estrangeiros serão maioria. O governo de Dubai, por exemplo, paga todas as despesas para quem quiser frequentar faculdades no exterior. A escolher.
Parada obrigatória porque um professor não consegue entrar em seu email.edu. Como sempre acontece nas férias, eles esquecem das datas em que as senhas expiram. Conseguir falar com a pessoa certa no departamento correto nesse rush toma exatamente 25 minutos. E meu texto parado. Em 25 minutos você pode: quebrar uma perna, adquirir um virus gripal que pode se tornar uma pneumonia, conhecer alguém que vai ser importante na sua vida, perder massa corporal, desidratar. Ou uma ligação importante.
Aliyad, de longos cabelos vermelhos, me toma 13 minutos para reclamar que o cabelo está caindo, e me passa as informações que não pedi: Uma pessoa com cabelo castanho tem 110.000 fios; 140.000 fios quem tem cabelo louro, 108.000 fios com o cabelo preto, e 90.000 fios se o cabelo é vermelho. Todos eles perdem de 50 a 100 fios diariamente, portanto, se o cabelo dela é vermelho, a perda é maior. Tento consolá-la lembrando o fato comprovado cientificamente de que cabelos vermelhos (naturais, claro) são raros, portanto, mesmo com uma perda maior de fios, ela é uma privilegiada.
O tempo é curto quando dele precisamos, e longo quando não há nada para se fazer. Comer um hambúrguer pode levar apenas 5 minutos, se estamos vendo um jogo na TV, ou 25 minutos, dependendo do local, da companhia, da programação posterior, etc. Paro para conferir no site da TAM se o voo Vitória-Brasília-Miami chegará no horário previsto. Nesse final de férias do verão americano vamos mais ao aeroporto que ao supermercado. Se você estiver lendo essa coluna nessa quarta nobre, significa que superei os obstáculos e venci a maratona.
