O secretário de Segurança Pública, André Garcia, pode se considerar hoje um privilegiado. Há uma semana ele e sua família se locomovem pra cima e pra baixo pela Grande Vitória em veículos blindados.
Os veículos especiais, que não podem ser perfurados por tiros de revólver, pistola e mesmo de submetralhadora, vão custar aos cofres públicos mais de R$ 200 mil/ano. Sem contar as despesas com combustível e pessoal – não se tem a informação oficial de quantos policiais trabalham atualmente na segurança da família Garcia, mas não devem ser poucos.
Benefício invejável em um Estado que registrou nos três primeiros meses deste ano 403 homicídios. O número projeta um índice de 40 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Com taxa de guerra civil, andar de blindado deve ser um sonho de consumo de toda a população capixaba. Mas quem tem hoje R$ 50 ou 70 mil para blindar o próprio carro ou locar um, como fez o Estado para Garcia? Só blindar o carro também não resolve. E os seguranças armados? Ou seja, o sonho de se sentir mais seguro, que deveria ser um direito garantido ao cidadão pelo Estado, custa caro. Um serviço para poucos. A realidade da população é encarar a violência das ruas, torcendo para voltar vivo para casa todos os dias.
A preocupação do secretário com sua segurança pessoal e familiar surgiu durante a paralisação da PM, em fevereiro. À ocasião, Garcia admitiu publicamente que ele e seus familiares estavam sendo ameaçados supostamente por policiais. Ele não quis comentar os motivos da locação dos veículos à prova de bala, mas os acontecimentos recentes apontam que a precaução está relacionada à paralisação da Polícia Militar, que acabou há mais de dois meses.
A decisão de André Garcia de andar de carro blindado suscita a seguinte conclusão: ou ele está com medo da própria PM ou não confia na sua política de segurança ou as duas coisas.
A greve da PM e todo o caos causado nos 22 dias em que a população ficou ao deus-dará mostraram que o secretário André Garcia não tem comando sobre a Polícia Militar, o que justificaria seu temor de estar vulnerável a um suposto atentado, que estaria sendo urdido dentro da própria PM.
A segunda tese põe a população na berlinda, já que o secretário não confia no seu taco. Garcia e família não se sentem seguros, ironicamente, com a política de segurança empreendida pelo próprio secretário. Por dedução lógica, o secretário não confia na sua polícia nem em si mesmo.