O ex-governador Paulo Hartung vem correndo o Estado e disseminando um discurso de excelência na gestão pública, que também vem sendo colocado em seu artigo semanal no jornal A Gazeta, às sextas-feiras. Quem lê o discurso e ouve suas palestras percebe muito bem qual a mensagem expressa nas entrelinhas.
Hartung passa a imagem de um gestor que investiu nos quatro anos de planície em especialização na área da administração pública. Independentemente de quem esteja à frente do palanque do grupo, ele ou o senador Ricardo Ferraço (PMDB), estará incumbido de transmitir ao eleitorado a ideia de que podem fazer muito mais pelo Estado, aplicando essa excelência acumulada nas áreas de saúde, educação e segurança pública.
Paralelamente, seus emissários se incumbem da missão de desidratar o governo sucessor de Renato Casagrande (PSB), dizendo que ele não correspondeu à expectativa do grupo. Mas, será que esse discurso vai colar? Será que o eleitorado tem mesmo uma memória tão curta assim?
Renato Casagrande foi eleito no palanque governista, com a bandeira da continuidade. Deu sequência aos contratos, aos incentivos fiscais, enfim a toda as garantias que o empresariado teve no governo Paulo Hartung. Além disso, como a coluna mostrou nessa quarta-feira (16), seus aliados permaneceram dentro da estrutura do governo em posições estratégicas.
No que diz respeito à excelência, o grupo trabalha com a ideia de “olhar para frente”. Também pudera, na saúde, o governo Paulo Hartung passou oito anos reformando dois hospitais e não entregou. Entregou um hospital que não é pronto atendimento e fechou as portas para a imprensa não falar sobre o que acontecia nos corredores.
Na educação, os índices do exame do ensino médio mostram o quanto o Espírito Santo não evoluiu em oito anos. Os tais quadros digitais ou são mal utilizados ou enfeitam paredes de depósitos nas escolas, porque sem treinamento e estrutura se transformaram em gasto de dinheiro público. A defasagem no número de matrículas é outra dificuldade de se explicar.
Na segurança, bom, na segurança, aliada à pasta da Justiça, é só lembrar da defasagem de policiais militares, no acúmulo de inquéritos na Civil e nas famigeradas masmorras. Realmente, o grupo não tem motivos para olhar para trás. Se olhar, vai ver os inúmeros gargalos deixados em sua gestão e assumidos pelo novo governo.
Casagrande tem mesmo muitos problemas em sua gestão. Faltou habilidade de lidar com a população em alguns momentos e muitos problemas de relacionamento com a classe política. Mas parte das dificuldades é herdadas, mas como foi eleito no palanque palaciano, assumiu a conta. E agora, quem fez a dívida vai cobrar de Casagrande? Vai ficar estranho.
Fragmentos:
1 – O senador Ricardo Ferraço (PMDB) votou contra a proposta de criação de novos municípios. Já o presidente da Assembleia Legislativa, Theodorico Ferraço (DEM), não vê a hora de deflagrar os processos de emancipação no Estado.
2 – Pelo menos neste ponto pai e filho não estão afinados. É que os interesses são diferentes. Possível candidato a governador, Ricardo Ferraço deve entender os prejuízos para o Estado caso os 12 processos de emancipação se efetivem.
3 – Já Ferraço está de olho na emancipação de Itaóca, em Cachoeiro de Itapemirim, e já demonstrou interesse na separação de Itaipava, em Itapemirim, que nem pedido tem. O interesse? Mais dois colégios eleitorais e o enfraquecimento dos adversários que estão à frente dos municípios-mãe.