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Vendedor de ilusões

A edição desse fim de semana da revista Época traz uma entrevista com o governador Paulo Hartung. Mais uma que o peemedebista conseguiu emplacar num importante veículo de comunicação nacional. Na mesma batida da recente entrevista publicada no Valor Econômico, Época enaltece Hartung como o governador que encontrou a fórmula mágica para enfrentar e vencer a crise econômica. 
 
A abertura da entrevista apresenta o governador como um homem público abnegado, que pega voos de carreira para viajar a trabalho para economizar o dinheiro público. Convenhamos, uma demonstração prosaica de mostrar que gasta o dinheiro do contribuinte com parcimônia. Tomar um voo de linha não é exclusividade do governador capixaba, outros tantos homens públicos fazem o mesmo. Mas, no contexto da entrevista, a maneira “franciscana” de voar quer evidenciar que a austeridade para o governador é quase um modo de vida. 
 
Em seguida, a revista toca num ponto delicado. Lembra que Hartung apareceu na delação da Odebrecht como destinatário de R$ 1 milhão em propina. Mas imediatamente acalma os leitores, ao ponderar que a denúncia já foi enterrada e sepultada pela Justiça. Em outras palavras, o entrevistado está “limpo”. 
 
Mesmo assim, se o leitor ainda ficou com a pulga atrás da orelha, a dúvida se dissipará na frase seguinte. O jornalista lembra que recentemente Hartung foi citado pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa como o companheiro ideal para compor uma eventual chapa à Presidência da República. Hartung passa a ser imaculado pelo manto da honestidade de Barbosa, reconhecidamente, uma das raras reservas morais do País. 
 
A partir daí, o perfil do entrevistado está criado: um agente público abnegado, que não pensa duas vezes na hora de cortar na própria carne. Um gestor à frente do seu tempo, que está preparado para empreender ideias modernas dentro de uma nova visão de gestão da máquina pública. A cereja do bolo. Não bastasse, ainda leva o selo de honestidade de Joaquim Barbosa. Pronto. Agora o leitor pode ler a entrevista e conhecer melhor quem é este espécime em extinção da política nacional. Talvez, ao final, o leitor fique com a sensação de que ainda há esperança na desacreditada política brasileira. 
 
Quem já leu outras reportagens sobre o “milagre capixaba” de Hartung, talvez ache a entrevista de Época enfadonha. Como num almanaque de gestão, o governador repete frases feitas. Basta dar um “google”,por exemplo, na expressão: “avesso do avesso do avesso Hartung”. O leitor poderá contar quantos vezes o governador já usou a frase para exemplificar disparates que vão na contramão da sua doutrina econômica, que tem a austeridade fiscal como princípio. Em Época, ele fala a frase no seguinte contexto. Diz que toda vez que o governo federal “se mete a besta de achar que pode tudo, cria uma crise fiscal. Daí vem a frase eternizada na música “Sampa”, de Caetano Veloso.
 
Além das frases de efeito, o  Rio de Janeiro volta a aparecer como seu sparring favorito. O estado relapso que não fez a lição de casa. A propósito, desde que adotou o modelo da austeridade, no início do seu governo, o Rio vem sendo seu saco de pancada. Ele adora comparar sua gestão com a do vizinho em desgraça. Esse exemplo já serviu para ameaçar os servidores públicos estaduais que reivindicavam reajuste salarial. Na linha: “aqui os salários são pagos em dia. Não adianta dar aumento e não conseguir pagar os salários lá na frente, como está acontecendo no Rio”. Ele gosta de repetir que a “falência do Rio é pedagógica”. Não para ele, que já havia previsto o desastre há muito tempo. Mas para todas aqueles que resistem à política de austeridade. 
 
O Rio, aliás, voltaria a ser associado a Hartung em outro veículo. O colunista Lauro Jardim de O Globo, noticiou que há um movimento em curso no Rio, capitaneado pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, para lançar Hartung candidato a governador do Rio. Piada à parte do Jardim, porque é óbvio e ululante que o peemedebista não vai governar o Rio, a nota quer na verdade reforçar que Hartung é a bola da vez. O homem capaz de solucionar o caso mais agudo de crise fiscal do País. O supergestor que tem a receita infalível para recuperar estados quebrados como o Rio. 
 
A exemplo do seu “cabo eleitoral” carioca, que costuma dizer que uma guinada para o populismo jogaria tudo para o brejo, Hartung também faz advertências apocalípticas sobre o risco de a crise jogar o País nos braços de “aventureiros, de pescadores de águas turvas”. Ele faz o alerta sobre os “vendedores de terrenos na Lua”. Outra frase clichê que faz que faz parte do almanaque deste terceiro mandato. 
 
Faltou dizer que é ele quem vem vendendo ilusões aos brasileiros, que estão conhecendo sua gestão pelas matérias “cavadas” pela sua competente assessoria na grande imprensa. Quem se propor a conhecer o Espírito Santo de perto, poderá comprovar que o Estado está longe da Dinamarca vendida pelo governador. 

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