O Censo do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) é nacionalmente famoso por atualizar as informações sobre a população brasileira em vários aspectos. Além de monitorar o crescimento populacional, a pesquisa, ao logo dos anos, foi acrescentando uma série de dados socioeconômicos, como os sobre trabalho, educação, saúde, habitação, renda, despesas, consumo, justiça, segurança e proteção social.
Um detalhe, no entanto, ainda passa despercebido da maior parte dos brasileiros: o Instituto recolhe os dados apenas daqueles que têm domicílio fixo, seja alugado ou próprio.
Essa questão tem deixado de fora uma parcela considerável dos brasileiros, que, de acordo com Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do ano passado, chegam a mais de cem mil, a população de rua. Literalmente cidadãos invisíveis.
No Brasil e também no Espírito Santo, uma série de protestos simultâneos pede que o IBGE inclua os que moram na rua ou em abrigos no Censo 2020, por uma série de motivos. O principal deles é a carência de dados confiáveis sobre o perfil dessa população vulnerável socialmente, o que é indispensável para construção de políticas públicas, sobretudo na área da assistencial social, geração de emprego e renda e habitação.
Um exemplo local é um estudo realizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), que indicou apenas 350 moradores de rua em toda a região da Grande Vitória. Números totalmente fora da realidade. De acordo com os movimentos que representam a população de rua, como o Movimento dos Trabalhadores em Situação de Rua (MTSR) e o Movimento Nacional da População em Situação de Rua, apenas na Capital são cerca de mil pessoas, incluindo aquelas que, de fato, estão nas ruas e também que vivem em abrigos por falta de uma residência fixa.
Dados que vêm crescendo exponencialmente desde o ano de 2008, com a crise econômica mundial. E que nos últimos dois anos vêm se agravando em função dos cortes do governo federal nos programas sociais e de assistência.
Sem os dados não se sabe, por exemplo, o quantitativo exato de crianças e adolescentes que vivem nas ruas. Nem tão pouco qual o perfil dos adultos sem residência fixa, quantos deles têm problema com dependência química, faixa etária, sexo, grau de escolaridade e outros dados que auxiliariam a traçar políticas públicas mais específicas.
Em Vitória, o ato promete reunir moradores de rua e seus representantes. Além da ocupação da área em frente à sede do IBGE, na Enseada do Suá, o grupo pretende entregar um manifesto ao chefe do Instituto.
O que se espera é sensibilidade do IBGE para dar visibilidade aos que sempre são invisíveis, desde que não esbarrem nos interesses dos “cidadãos de bem”.

