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‘Noites Proibidas’ abraça diversidade sexual em Cachoeiro

Festa com show de drag queens e atrações musicais acontece bimestralmente no município do sul capixaba

João Ceccon

No meio da noite do dia 16 de dezembro de 2023, um sábado, uma grande fila se formou na porta do bar Cervejinha, localizado no bairro Ibitiquara, em Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado. Dezenas de pessoas, boa parte delas vestindo roupas com alusões às festividades natalinas, esperavam a vez de entrar para curtir a 13ª edição da “Noites Proibidas”, a principal – e talvez a única, atualmente – festa voltada para o público LGBTQIA+ do município do sul capixaba.

Tem sido assim desde 28 de junho de 2022, data da primeira edição da festa, que costuma incluir na programação shows e desfiles de drag queens, apresentações de dança, concursos de fantasia e look e muita música, com DJs ou artistas convidados.

“É uma galera que sai de casa já sabendo que vai ser aceita do jeito que é e vai se divertir, que vai ser uma noite agradável”, comenta Tainan Gratival, idealizador do projeto e intérprete da drag queen Claudia Voltz, que costuma “dar pinta” no “Noites Proibidas”.

O projeto é uma reformulação de outra festa, a “Quintas Proibidas”, que acontecia em 2017 no pub Deck Som, de propriedade de Renata Cordeiro – que, atualmente, está na produção do “Noites Proibidas” junto a Tainan e Clarice Monteiro. Com o fechamento do Deck Som, a festa ficou sem um lugar para acontecer. 

Renata Cordeiro, Claudia Voltz e Clarice Monteiro. Foto: João Ceccon

Nos últimos anos, frequentando o Cervejinha, Tainan e outras pessoas que conheciam o “Quintas Proibidas” vislumbraram a oportunidade de retomar a iniciativa. “A gente começou a ver que o movimento no bar estava bacana, que era um movimento da nossa arte, da nossa galera, e propomos ao Theo (proprietário do bar) fazer uma festa com uma cara mais nova, celebrando a diversidade de gênero e sexualidade, com tudo aquilo que convida corpos que são constantemente marginalizados em Cachoeiro”, explica.

O bar topou a proposta, que tem feito bastante sucesso. Inicialmente, a festa era realizada uma vez por mês, mas a periodicidade se tornou bimestral. “Existiram outras festas que eram referência para o público LGBTQIA+ no passado em Cachoeiro, mas que acabaram ficando mais restritas”, relata Tainan.

Cada edição da “Noites Proibidas” tem um tema e um dress code (código de vestimenta) diferente. A edição deste mês de dezembro, por exemplo, teve como título “Peru Peitudo”, um trocadilho com a famosa comida da ceia natalina, e foi indicado no material de divulgação que as pessoas vestissem roupas verdes ou vermelhas.

“É uma festa diferenciada, porque cada noite é diferente. Com o tempo, a galera foi abraçando mais essa coisa de se fantasiar e vestir o dress code”, explica o intérprete de Claudia Voltz.

João Ceccon

O ingresso para entrar na festa costuma variar de R$ 20 a R$ 25, e artistas e profissionais ganham uma “remuneração simbólica”, de acordo com o idealizador do projeto. Para pessoas trans, a entrada é gratuita, mediante inscrição em uma lista online. “O intuito é justamente abrir espaço para esses corpes que não acessam outros lugares”, reforça Tainan.

Uma das metas futuras do projeto é encontrar um espaço maior para a realização da festa. “O Cervejinha nos abraçou, mas o espaço já está pequeno. Nosso público é grande, e a gente quer alcançar mais pessoas. Hoje, a festa tem desde gerações como a minha, de 30 e poucos anos, mais velhas que a minha e, principalmente, mais novas, que surgem com uma outra mentalidade”, afirma.

Trabalho

Além das atividades com o “Noites Proibidas”, Tainan Gratival trabalha com artes cênicas em geral, inclusive animação de festas infantis. Ele afirma que nunca teve nenhum tipo de imprevisto profissional por conta de LGBTfobia, mas busca ser cauteloso.

“A gente sabe que Cachoeiro é uma cidade mais fechada e existe muita gente preconceituosa. Mas eu, enquanto artista, posso dizer que consigo transitar em vários lugares sem nenhum tipo de problema. Nas minhas redes sociais, eu posto tudo sobre os meus trabalhos, só tomando o cuidado de separar cada perfil de cada trabalho”, explica.

“Por enquanto, graças ao universo, na verdade tenho recebido muitos elogios ao meu trabalho, principalmente sobre essa versatilidade, de ser um ‘cabide da arte’ – um dia estou de um jeito, no outro estou de outro jeito, e por aí vai”, completa. 

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