Poderia ser só mais uma sala ociosa, mas a produtora audiovisual Pique Bandeira decidiu dar uma nova vida a um dos espaços do seu escritório no Centro de Vitória. A Sala ao Lado surge de um desejo de criar um espaço de arte experimental e autoral. A ideia começou quando Vitor Graize convidou a artista Polliana Dalla para ocupar a sala como seu ateliê e a arquiteta Clara Sampaio para produzir eventos e exposições na sala.
Nesta segunda-feira (19), às 20h, a Sala ao Lado terá a sua estreia com a exposição Formas de Voltar para Casa, com obras inéditas que criam diálogos sobre viagens, memória e retorno. Para a mostra, além de Polliana, foram convidados mais três artistas radicados em São Paulo, a capixaba Thais Graciotti e dois cearenses, Haroldo Saboia e Fernanda Porto.
“Todo o conceito da mostra foi pensado de forma coletiva. As conversas começaram a distância pelo Skype. Nessas conversas percebemos alguns pontos em comuns nos nossos trabalhos e surgiu o tema da viagem, que de alguma forma envolve todos nós”, explica Polliana. Os quatro se conheceram em São Paulo, quando fizeram um curso sobre arte em situação de viagem.
Além do deslocamento, Polliana conta que o que caracteriza o conjunto das obras é o caráter multimídia, nenhum trabalho tem apenas uma linguagem, mas sim uma mistura de fotografia, literatura, instalações. Outra questão interessante é que os artistas trouxeram os trabalhos para Vitória ainda em processo de criação. “Todos os artistas trouxeram os trabalhos para serem montados e finalizados aqui, as obras foram sendo construídas especificamente para o espaço da sala”.
Assim como uma viagem sem planejamento que vai se revelando aos poucos, a exposição Formas de Voltar para Casa foi ganhando forma nas paredes da Sala ao Lado. Cada artista vai contar suas experiências em locais diferentes da cidade natal. Polliana explica que seu trabalho consiste em registros de viagens que ela já fez, “é a minha forma de criar um narrativa e contar como foi uma viagem”.

Já Haroldo, que visita Vitória pela primeira vez, vai expor o trabalho Como construir um diagrama. “Não é sobre uma viagem em específica, mas sim sobre a ideia de caminho e de percurso, que está presente em qualquer deslocamento”, conta. Fernanda, que também é de Fortaleza como Haroldo, vai abordar a criação de memórias e de universos a partir desses trânsitos.
Intitulado Casas que morei com minha mãe, Fernanda conta que o projeto está em constante produção. “A partir de viagens, eu fui acumulando imagem de casas que eu morei ou que eu moraria. Tem um pouco de ficção, mas qualquer memória envolve imaginação e criação”, revela. Essas memórias serão apresentadas em forma de micro contos.
A capixaba Thais vai expor um projeto que começou há 10 anos, quando ela saiu do Espírito Santo e foi morar em São Paulo. “O projeto se chama Ilha e completou 10 anos quando eu viajei para a Islândia, onde produzi a maior parte do trabalho”. Ela também conta que voltar ao Centro de Vitória para expor é muito importante, porque foi o local que ela morou na infância.
“Quando recebi o convite, achei incrível o conceito do local. Acho que é uma alternativa boa de descentralização, de sair das instituições. Eu percebo isso acontecendo em são Paulo e fico feliz que esteja começando aqui também. Nós artistas acabamos que tentamos expor nos mesmos locais e passar nos mesmos editais, então nossas opções acabam ficando limitadas”, diz Thais.
Polliana também ressalta que o espaço não é de fato uma galeria e que inclusive pretende ir na contramão dos espaços institucionalizados, que possuem sistemas burocráticos para a criação de eventos e exposições. “É um espaço completamente experimental, é claro que queremos construir uma estrutura bacana, mas não queremos virar um cubo branco. Além disso, aqui também funciona o meu ateliê enquanto acontece as exposições eu continuo trabalhando”, explica a artista.
O objetivo é abrir um local para conversas, debates e encontros O futuro da Sala ao Lado vai se construindo a partir desses diálogos e das exposições. Depois de inaugurado a ideia é criar uma periodicidade de ações pontuais como cursos, bates-papos, feiras, bazar, para conseguir uma verba para manter o local.
“Não há muito disso por aqui, o MAES e a Homero Massena até promovem alguns seminários, mas é mais um conteúdo educativo, voltado especificamente pra professores ou artistas. Queremos que a Sala ao Lado se torne um espaço aberto para discussão de arte contemporânea”, finaliza Polliana.
Serviço
A exposição Formas de voltar pra Casa será aberta nesta segunda-feira (19), às 20h, na Sala ao Lado. Prédio comercial em frente à Praça Ubaldo Ramalhete Maia, sala 402, Centro de Vitória. Visitação das 10h as 17h por agendamento nos tel: 33760878 ou 981282965