Sexta, 26 Abril 2024

Ecoporanga vai ganhar Universidade Livre de Cotaxé e das Lutas Sociais

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O distrito de Cotaxé, em Ecoporanga, noroeste do Espírito Santo, vai ganhar a Universidade Livre de Cotaxé e das Lutas Sociais. Para isso, foi adquirido um imóvel na região, que também servirá de abrigo para o Memorial Cotaxé e um museu sobre as disputas entre camponeses e latifundiários que marcaram a história da localidade. A inauguração da universidade e do museu ainda não tem previsão de data, mas as articulações para tirar o projeto do papel já tiveram início.

O Memorial, em homenagem às lutas camponesas, foi inaugurado em nove de janeiro. Trata-se de uma placa colocada provisoriamente em um espaço privado, com o objetivo de, posteriormente, ser afixada na praça. Entretanto, a ideia agora é colocá-la na entrada do imóvel adquirido.

Vitor Taveira

A universidade, explica Vander Antônio Costa, um dos organizadores do Seminário de Humanidades, que busca valorizar a história das lutas camponesas em Cotaxé, não seria vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Seu objetivo será oferecer cursos sobre questões populares, estabelecendo parcerias com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), escolas agrícolas, entre outras instituições de ensino.

A universidade também estará aberta para movimentos sociais, coletivos e pessoas que queiram contribuir, não sendo descartada a possibilidade de, além de atividades presenciais, serem realizadas também as virtuais.

"Estamos construindo esse projeto coletivamente, com grupos de Vitória e de Cotaxé", explica Vander, que vê na aquisição do imóvel uma possibilidade de proporcionar aos pesquisadores que procuram a região para fazer seus estudos um local onde possam se hospedar gratuitamente. "É importante tornar possível a essas pessoas o acesso a uma casa onde tenham cama, geladeira, fogão, um pouco de conforto", diz.

No que diz respeito ao museu, a ideia é fazer uma campanha de doação de peças antigas dos moradores locais, além de contar com apoio de profissionais como museólogos.

"São iniciativas que servem de instrumento para atrair a atenção para Cotaxé, uma comunidade longínqua em relação à Capital, que foi palco de uma luta camponesa, a mais importante do Espírito Santo. Queremos chamar atenção para a história dos vencidos, que lutaram contra as forças do Estado, contra os grileiros. O povo sempre se levantou contra a tirania. Cotaxé é a capital das lutas camponesas no Espírito Santo", ressalta Vander.

No início da década de 1950, sob liderança de Udelino Alves de Matos, lavradores, posseiros e sem-terra se uniram contra os latifundiários para lutar pelo acesso à terra na região de Cotaxé. A luta foi fortemente debelada por militares e jagunços e levou à fuga e morte vários camponeses e lideranças, fazendo valer os interesses de fazendeiros e madeireiros da região.

A insatisfação da população seguiu, porém, e novamente se organizou, anos depois, já sob liderança do Partido Comunista do Brasil (PCB), um conflito que se estende até os primeiros anos da ditadura civil-militar iniciada em 1964.

Com a terra nas mãos de poucos, Ecoporanga teve o início de sua economia moderna com a extração madeireira, seguida pelo café, que com a política de erradicação, foi sendo substituída pelo gado leiteiro e de corte, que hoje ocupa grande parte do território, em sua imensa maioria desmatado, com uma população humana que decresceu ao longo das décadas enquanto a população bovina crescia e a superava. Mais recentemente, a indústria de mármore e granito também vem ocupando destaque na economia, com base no extrativismo mineral.

Mas esse histórico não fez desaparecer as lutas pela posse das terras, retomadas com força a partir da década de 1980 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que conquistou alguns assentamentos na região. Há 10 anos, o movimento luta para a criação de um novo assentamento, no atual acampamento Derli Casali.

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Comentários: 3

Vander Antônio Costa em Segunda, 14 Fevereiro 2022 20:58

Quero aqui agradecer mais uma vez o jornal Século Diário, na pessoa da jornalista Elaine Dal Gobbo, por mais esta matéria, que muito contribui em dar visibilidade ao nosso trabalho.

Quero aqui agradecer mais uma vez o jornal Século Diário, na pessoa da jornalista Elaine Dal Gobbo, por mais esta matéria, que muito contribui em dar visibilidade ao nosso trabalho.
MAURINO FIDELIS DE OLIVEIRA em Terça, 15 Fevereiro 2022 06:35

Parabéns, Vander Costa, pela luta incansável! Agradecimentos à Elaine dal Gobbo e ao Jornal Século Diário pela visibilidade ao projeto e, de modo muito especial, à Tânia Araújo, nosso baluarte das lutas sociais no Espírito Santo, pela aquisição do imóvel em Cotaxé.

Parabéns, Vander Costa, pela luta incansável! Agradecimentos à Elaine dal Gobbo e ao Jornal Século Diário pela visibilidade ao projeto e, de modo muito especial, à Tânia Araújo, nosso baluarte das lutas sociais no Espírito Santo, pela aquisição do imóvel em Cotaxé.
Doriedson Alves de Almeida em Sexta, 04 Março 2022 11:02

Parabenizo essa importante ação. Epor maispero que contribua para reflexões da sociedade capixaba sobre um antigo clamor por mais Universidades Públicas no Espírito Santo. Sempre bom lembrar do saudoso folclorista Hermogenes Lima da Fonseca - Mestre Armojo - que se recusou a receber o título de Dr. Honoris Causa concedido pela UFES chamada carinhosamente por ele de Universidade das Goiabeiras. Infelizmente apesar dos Campi em Alegre e São Mateus, batizado com seu nome, tudo permanece do mesmo jeito. O Espírito Santo é um dos únicos estados da federação que só tem uma universidade pública federal e nenhuma estadual... Ou seja, as caras IFES particulares deitam e rola...

Parabenizo essa importante ação. Epor maispero que contribua para reflexões da sociedade capixaba sobre um antigo clamor por mais Universidades Públicas no Espírito Santo. Sempre bom lembrar do saudoso folclorista Hermogenes Lima da Fonseca - Mestre Armojo - que se recusou a receber o título de Dr. Honoris Causa concedido pela UFES chamada carinhosamente por ele de Universidade das Goiabeiras. Infelizmente apesar dos Campi em Alegre e São Mateus, batizado com seu nome, tudo permanece do mesmo jeito. O Espírito Santo é um dos únicos estados da federação que só tem uma universidade pública federal e nenhuma estadual... Ou seja, as caras IFES particulares deitam e rola...
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