A Polícia Federal deve estender por mais 30 dias as investigações da Operação Saqueador, que apura o esquema de lavagem de dinheiro da Delta Construções por meio de empresas de fachada. De acordo com informações da PF, uma equipe de peritos vai ficar instalada na sede da construtora para buscar “furos” na contabilidade. O objetivo é demonstrar a origem e o destino de pelo menos R$ 300 milhões, segundo os primeiros levantamentos, que teriam saído do caixa da Delta para alimentar o esquema.
O superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, delegado Roberto Cordeiro, e o coordenador da operação, delegado Tácio Muzzi, informaram que os peritos devem trabalhar no controle de custos da empreiteira, cujas planilhas servem para controle do fluxo de caixa da empresa – até mesmo do eventual “dinheiro sujo”. Muzzi explicou que a Delta fazia a transferência dos recursos para a conta das empresas de fachada e os valores eram sacados em espécie, na boca do caixa.
“Com relação a essas empresas de fachada, o que já se materializou na investigação: a sede social não é compatível com o montante de recurso movimentado em suas contas-correntes; os sócios também não ostentam capacidade econômico-financeira relativa ao volume de recurso transitado nessas contas; e a maior parte nunca teve funcionário registrado. Então, seriam esses os indícios que denotam que essas empresas são empresas de papel”, informou o delegado.
Nessa terça-feira (1º), os policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão na residência e escritórios do dono da Delta, Fernando Cavendish, e do empresário paulista Adir Assad, que seria o operador do esquema. Durante os trabalhos da CPI do Cachoeira, que deu origem à operação policial, o empresário teve o nome ligado ao conjunto de empresas identificadas como fantasmas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
No mesmo relatório, o nome da empresa Garra Transportadora e Locação, Logística de Veículos Ltda – registrada no dia 25 de outubro de 2010, no município de Viana – surgiu como uma das principais empresas de fachadas utilizadas pelo esquema. Entre janeiro de 2010 e julho de 2011, a Garra teria “lavado” R$ 23,507 milhões dos R$ 173 milhões registrados em transações feitas pela empreiteira carioca. A reportagem de Século Diário esteve no local onde funcionaria a Garra Transportadora e não encontrou qualquer indício da empresa. Pelo contrário, os vizinhos alegam que o endereço no qual a companhia foi registrada seria, na verdade, de uma residência.
TCE investiga contratos
Apontada como a principal empresa contratada pelo governo federal, a Delta Construções também tem uma presença significativa em contratos públicos no Espírito Santo, a partir do governo Paulo Hartung (PMDB). O Tribunal de Contas do Estado (TCE) investiga, desde maio do ano passado, os contratos da empreiteira carioca no Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER-ES). O pedido de auditoria partiu do governador Renato Casagrande, logo após as primeiras denúncias contra a Delta na CPI do Cachoeira.
Segundo informações da assessoria de comunicação do TCE, os trabalhos de auditoria (processo TC 2290/2012) estão em fase de conclusão pela área técnica. Os autos do processo estão no Núcleo de Estudos Conclusivos (NEC), última fase dentro da área técnica do tribunal. Não foi informado o resultado preliminar da investigação, bem como uma possível data de julgamento. Antes de ser levado para apreciação do plenário, a auditoria especial deve ser submetida ao Ministério Público Especial de Contas (MPC), que vai se manifestar sobre o caso e encaminhar os autos para a elaboração do voto do conselheiro-relator.
Entretanto, é possível antecipar que os trabalhos não devem alcançar os contratos mantidos pela Delta com a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), hoje comandada por aliados do ex-governador. Todas as relações da companhia de Fernando Cavendish com o poder público estadual remetem ao governo passado, onde a Delta foi a principal beneficiária dos primeiros contratos para obras do programa de pavimentação de estradas vicinais, batizado como Caminhos do Campo.
No período entre os anos de 2006 e 2010, a Delta faturou lucrativos acordos no DER-ES e na Cesan, que acabaram sendo incluídos no rol de contratos públicos citados nos trabalhos da CPI. Nesses dois órgãos, a empreiteira carioca faturou cerca de R$ 200 milhões. Em abril do ano passado, no auge da crise da Delta, o diretor-presidente da Cesan, Neivaldo Bragato – que foi secretário de Governo na gestão passada –, assinou um novo aditivo com a empreiteira carioca, ignorando o desenrolar das investigações em Brasília.