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Biodiversidade do Vale Encantado surpreende moradores e turistas

Socoi-amarelo (único registro da espécie em todo o Espírito Santo), Mergulhão-pequeno, Corucão (tipo de bacurau que só tem outros dois registros de ocorrência no estado, em Vitória e Conceição da Barra), Pernilongo-de-costas-negras, Pernilongo-de-costas-brancas, Papa-lagarta-acanelado, Maçarico-solitário, Maçarico-de-perna-amarela, Caracoleiro …

“Você não imagina que um lugar, no meio da cidade, possa ser tão rico em fauna e flora. E que infelizmente os governantes não estão olhando, não estão valorizando”, argumenta Andrea Faria Santos, do Clube de Observadores de Aves (COA), empresa que organiza visitas aos alagados da Lagoa Encantada. Pessoas de várias partes do Estado, do Brasil e até do exterior já se prestigiaram as belezas naturais da região.

Localizada entre os bairros Vale Encantado e Rio Marinho, os alagados se conectam parcialmente com a Reserva de Jacarenema, com grande potencial de formação de um corredor ecológico. A proteção desses ecossistemas é vital para evitar os problemas de alagamentos que tanto assolam os munícipes de Vila Velha. Porém, a área também está numa região retroportuária, próxima às rodovias Lindemberg, Darly Santos e de uma terceira, em construção, a Leste-oeste.

A comunidade local tem trabalhado junto ao Plano Diretor Municipal (PDM) pela criação de dois parques naturais, um envolvendo a Lagoa e seus 1.194.000m², e outro protegendo os Alagados do Vale, ao seu redor, numa área entre 5 e 6 milhões de metros quadrados.

Willermam da Silva Lucio, fotógrafo amador da natureza e membro do Fórum de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental do Grande Vale Encantado (Desea), conta que a maior parte da Lagoa é um antigo manguezal. E que a ideia defendida pelo fórum é criar uma área de proteção mais restrita, na lagoa, propriamente dita, e outra no entorno, que permita o uso sustentável, basicamente através do turismo educativo, científico e de base comunitária. “Estamos acompanhando as discussões do PDM, para que a criação das duas UCs seja integrada ao Plano”, afirma Willerman.

Memória afetiva

Izanildo Sabino, também integrante do Desea, conta que um relatório sobre a importância ambiental da região já foi entregue à comissão da prefeitura responsável pelo PDM. Gato-mourisco, tamanduá, tatu, árvores raras, só avistadas, no Espírito Santo, no Vale Encantado, além das aves, já mencionadas. Definitivamente, a região possui atributos ambientais suficientes, que justificam sua proteção oficial.

A militância envolve outros movimentos sociais, como o Coletivo Mudando o Cenário, formado por jovens dos bairros Vale Encantado e Rio Marinho (e quatro crianças, filhas dos integrantes), que trabalha com arte urbana e cineclube, produzindo ações e eventos junto ao Desea. O teatro de bonecos é a nova linguagem adotada pelo grupo, que fez sua primeira apresentação no dia 30 de julho, cujo temática foi a natureza local. “A lagoa e os alagados estão muitos ligados ao nosso imaginário”, conta Carol Couvre, comunicadora social, cineasta e articuladora comunitária.

Os jovens membros do Coletivo, mesmo os que não nasceram nos bairros, vivem lá desde a infância, quando a poluição menos intensa ainda permitia banhos e brincadeiras nas águas encantadas. Havia, porém, os que preferiam não se arriscar, em virtude das lendas envolvendo bichos e monstros terríveis. “É a parte afetiva do nosso imaginário, do nosso laço com a comunidade e com nosso próprio território. É também uma questão de qualidade de vida. Não podemos vivemos só cercados de concreto”, reivindica Carol.

Os próximos dois eventos já agendados pela comunidade acontecem nos dias 10 e 25 de setembro. No primeiro, será discutida a Região IV no PDM de Vila Velha, junto com o Fórum Popular em Defesa de Vila Velha, na Escola Benício Gonçalves. E, nos primeiros dias de primavera, acontece a V Caminhada Ecológica da Lagoa Encantada. 

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