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Casa abandonada no Centro de Vitória vai virar espaço de produtos da reforma agrária

Espaço da Casa Verde será utilizado pelo MST para vendas e realização de atividades culturais

Ainda neste ano, uma casa histórica abandonada no Centro de Vitória ganhará vida com a inauguração do Espaço de Comercialização de Produtos da Reforma Agrária, uma iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A Casa Verde, como é popularmente conhecida, fica na rua Dionísio Rosendo, perto da Catedral Metropolitana, e passa por uma série de reformas, preservando seu aspecto histórico.

A diretora do MST e representante do Estado no movimento nacional, Eliandra Rosa Fernandes, afirma que não se trata de um Armazém do Campo, empreendimento que já existe em outros estados, como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, mas que, futuramente, pode vir a ser. “O Armazém do Campo tem uma complexidade maior, precisa de um capital grande para investimento”, explica.

Eliandra ressalta ainda que no Armazém a amplitude é maior, pois produtos de vários estados são comercializados para clientes de todo o Brasil. O Espaço de Comercialização que será inaugurado no Centro não comercializará para clientes de outras unidades federativas e, embora esteja prevista a venda de produtos de cooperativas do sul do País, o foco principal serão os produtos fabricados nos assentamentos e acampamentos capixabas.

Na Capital, as pessoas terão acesso a produtos alimentícios de todo o Estado. Do norte do Espírito Santo, mais precisamente de municípios como Pedro Canário, Conceição da Barra, Pinheiros e Montanha, ela destaca, por exemplo, farinha de mandioca, polvilho, pães e biscoitos. Do sul, melado de cana, açúcar mascavo e macarrão caseiro. Das cooperativas do sul do Brasil, suco de uva e arroz orgânicos.
Foto: MST

Tanto o suco quanto o arroz orgânicos do sul do Brasil já são comercializados por meio das cestas que o MST entrega na Grande Vitória quinzenalmente, por meio de delivery durante a pandemia do coronavírus, que contém também produtos dos agricultores capixabas.

Segundo Eliandra, essa iniciativa permitiu maior acesso dos produtos da reforma agrária na região metropolitana, inclusive em meio à classe média. A diretora estadual do MST recorda que, antes, o Movimento realizava a Feira da Reforma Agrária anualmente, na Praça Costa Pereira, no Centro, e muitos questionavam como adquirir os produtos no decorrer do ano.

“Como ofertar nossos produtos na Grande Vitória sempre foi um gargalo, agora, o Espaço de Comercialização vem agregar à oferta na Capital. Ter um espaço desse sempre foi o nosso sonho”, diz Eliandra.

De acordo com ela, a inauguração na Casa Verde permitirá o acesso a uma diversidade de produtos que não é possível garantir por meio das entregas quinzenais. “Não se trata somente de geração de renda para os agricultores. A venda dos produtos dialoga com a luta pela terra, pela reforma agrária popular, pela preservação ambiental, plantio de árvores, agroecologia”, enumera.

O Espaço também estará aberto aos movimentos sociais e culturais, com a realização de atividades como saraus de poesia e rodas de conversa. “Vai ampliar a relação campo e cidade, na perspectiva de um projeto popular no Espírito Santo”, comemora.

Mais prédios abertos ao público

Outros prédios históricos do Centro que estavam com suas portas fechadas estão sendo colocados a serviço da população. O prédio do antigo Hotel Majestic é um deles. A Associação Alef Bet já iniciou a reforma do espaço, onde serão realizadas diversas atividades culturais e oficinas para geração de emprego e renda.

A entidade, que não tem fins lucrativos, recebeu o imóvel por meio de uma concessão do Estado, através da chamada pública nº 02/2019. “Estamos muito felizes de fazer parte desta entrega para a cidade de Vitória”, diz a gerente de projetos da associação, Vanessa Abreu de Souza.

Prédio do antigo Hotel Majestic. Foto: Alef Bet

A Alef Bet, informa Vanessa, é de identidade judaica. Funciona provisoriamente em uma sinagoga do Centro e foi criada em 2016. Entre as atividades desenvolvidas pela associação está o Chai Vida, iniciado durante a pandemia da Covid-19. Por meio desse projeto, são distribuídas refeições de segunda a quinta para idosos em vulnerabilidade social cadastrados na entidade. Esse público também participa de rodas de conversas todas as terças e de oficinas de inclusão digital às quintas.

O projeto de distribuição de refeições será um dos primeiros a ser colocado em prática no antigo Majestic, que se chamará Casa Ayalon, palavra que em hebraico significa “abrigar a muitos”. A comida será preparada na Cozinha Escola, que funcionará no primeiro andar, espaço que está sendo reformado pela Fundação Banco do Brasil e pela Alef Bet. Ambos também são responsáveis pelos projetos arquitetônicos. As reformas dos outros três andares dependem do fechamento de novas parcerias por parte da associação.

Projeção da Casa Ayalon. Imagem: Alef Bet

Na Cozinha Escola, cuja previsão é de funcionar já este ano, serão realizadas ainda oficinas de culinária. No segundo andar, a associação tem como plano realizar as oficinas socioprodutivas, que já oferece, como as de artesanato, crochê e cachos afro. No terceiro, o objetivo é fazer um núcleo artístico e pedagógico, com espaços como biblioteca e sala de informática. O último andar será destinado para as oficinas de música, que são ofertadas para crianças e adolescentes.

“Será um prédio multifuncional, com muitas oficinas e projetos”, diz Vanessa. Ela explica que uma das missões da Alef Bet é a tsedaka, que em hebraico significa justiça social. “Por meio desse trabalho, queremos transformar vidas, tanto as de quem se voluntaria nos projetos, de quem oferece, quanto as de quem recebe”, ressalta. 

Melpômene Vermelho

De Hotel imperial para “Triplex do Lula” e, futuramente, Melpômene Vermelho. O prédio que fica em frente à Praça Costa Pereira e ficou abandonado durante muitos anos, tornou-se ponto de encontro da esquerda e espaço para realização de atividades culturais. No local já aconteceram iniciativas como cine clubes e clube do vinil.
Foto: Divulgação

A ideia, como aponta o integrante do conselho gestor do espaço, Perly Cipriano, é estruturar o prédio e denominá-lo de Melpômene Vermelho, em homenagem ao extinto teatro Melpômene, localizado no Centro de Vitória e demolido em 1925. “Queremos fazer dele um centro cultural e de articulação dos movimentos sociais. Vai valorizar o Centro de Vitória, dar espaço e voz para os movimentos”, afirma. Um dos projetos a serem desenvolvidos no prédio é o de uma biblioteca comunitária.

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