Sábado, 27 Abril 2024

Festa celebra regeneração de comunidades atingidas pela Samarco com a aroeira

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Arquivo pessoal

Um encontro festivo para celebrar e refletir sobre o potencial da aroeira ou pimenta-rosa na promoção de saúde física, mental e econômica das comunidades atingidas pelo crime da Samarco/Vale-BPH no litoral norte do Espírito Santo. Esse é a proposta da Festa da Aroeira, que acontece no próximo final de semana (4 e 5) em Regência Augusta, balneário localizado na Foz do Rio Doce, em Linhares.

O convite é aberto principalmente para as pessoas que residem na chamada Rota da Aroeira – que envolve a Planície Costeira do Rio Doce e se estende, ao sul, até Aracruz e, ao norte, até Conceição da Barra – e que já trabalham ou têm interesse em trabalhar com a planta.

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"Na nossa lógica de trabalho, primeiro a gente desenvolve tecnologias populares em saúde, tecnologias em saúde comunitária, pesquisa e entende qual o papel da aroeira no cuidado da saúde das comunidades atingidas e como também pode promover regeneração financeira", explica Hauley Vallim, mobilizador da Rota e da Festa da Aroeira.

"Pomada, óleos de massagens, sabonetes xampus, artesanato...a própria aroeira para alimentação e condimentos...o grupo desenvolve pesquisa e fomenta a aroeira como riqueza nativa e comunitária e não como commoditie", pontua. "A gente oferece não são só produtos, mas serviços também. Vivências, experiências, oficinas, transferência de tecnologia de processamento da aroeira e também uma rota de turismo de experiência", acrescenta.

"O objetivo é diversificar a oferta de aroeira e de derivados da aroeira. Quanto mais processamento for feito na comunidade, melhor, porque ganha valores agregados".

Um exemplo é o Sítio São José, do agroecologista Jerônimo Nunes Coutinho. "Antes ele vendia o quilo a R$ 10 e hoje consegue uma renda melhor vendendo o óleo que ele mesmo extrai. Como commoditie a aroeira tem baixo valor, mas como matéria-prima para medicamentos, é outra coisa", compara.

Conhecido carinhosamente como S. Jerônimo, o agroecologista conta que começou mais intensamente o trabalho com agricultura orgânica há cerca de dez anos, depois de fazer um curso na área promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Mateus, financiado pelo ator e produtor orgânico Marcos Palmeira.

"Sou admirador dele e ele pagou para o sindicato de São Mateus dar um curso de agricultura orgânica. Eu me apaixonei. Sempre gostei de orgânico, não gosto de veneno, isso é atraso de vida. Tenho que fazer coisa que aumente minha saúde e, para isso, preciso de uma comida, um remédio orgânico. Mas foi depois do curso que aprendi mais técnicas, o trabalho ficou melhor".

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Especificamente com a aroeira, S. Jerônimo conta que a colheita já era feita por sua família há trinta anos, na natureza. "Na natureza ela dava sem nenhum problema, as plantas se beneficiam uma com a outra, os insetos...eu achei muito bonito, a gente colhia muito, muito mesmo. Depois a gente foi aprendendo que tinha aroeiras mais produtivas, que se protegiam mais dos insetos, mas 'apanhamos' muito", relata.

A primeira descoberta foi de uma variedade chamada de peludinha, que produzia mais, porém, não se protegia bem dos insetos, então "tinha que bater muito veneno". Avesso aos agrotóxicos, ele decidiu observar mais e "aprender com a natureza". "Vi que era melhor plantar na lua nova, porque é quando as plantas ficam mais resistentes. E minha planta produziu bem. Quem colocou veneno, produziu também, mas na hora de fazer o óleo, a minha dava mais óleo, 22 ml por quilo, enquanto a do agrotóxico, produzia 12 ml por quilo".

Em relação aos insetos, S. Jerônimo compartilha a descoberta de que um besouro mais comum nos plantios de aroeira atacava as plantas quando saía o sol depois de um período de chuva. "É um besouro grande e eu inventei uma maneira de pegar. Ele é sensível, só balançar o galho ele cai. Coloco um balde com gordura embaixo, sacudo o galho e ele cai ali", ensina.

"Penso que não podemos fazer nada com a química [agrotóxicos], porque prejudica a saúde da gente e faz a planta produzir menos, menos óleo. Porque a planta também não gosta de veneno, ela também sente, é um ser vivo. E passei a entender também que ela precisa de um consórcio, então coloquei pasto no meio das aroeiras e soltei um gado, pouco, que não come a aroeira, mas faz um xixi que é bom, porque o xixi da vaca é um inseticida natural e o inseto não gosta".

A qualidade do seu óleo tem trazido um alívio nos impactos financeiros do crime da Samarco/Vale-BHP. "Eu não vendo mais para atravessador. Fiquei com poucas plantas, por causa da Samarco. Antes eu produzia duas toneladas e agora só 300kg", lamenta. "A Samarco acabou com minha vida, minhas criações de peixe, vacas...a fauna e flora acabou. Eu produzia melancia, abóbora, feijão, mas não produz mais, porque as abelhas morreram todas. A Samarco não me indenizou e eu vivo assim".

Nesse processo de reconstrução da vida, ou regeneração, como é dito na Rota da Aroeira, S. Jerônimo está recuperando parte do gado e consegue manter uma horta de subsistência, com hortaliças e verduras, e algumas galinhas, tudo para consumo da família. "Até minha pasta de dente eu faço, com EM [microorganismos eficientes,na sigla em inglês]", acrescenta, deixando claro que procura produzir de forma orgânica o maior número possível de itens utilizados pela família no dia a dia.

Mas a renda vem mesmo agora apenas com a venda do óleo, trabalho que tem apoio da esposa e filho, envolvido no cultivo, colheita, processamento e venda. "E vendo com preço bom, porque é um produto muito bom, orgânico, que cura várias doenças".

A expectativa, afirma, é melhorar cada vez o valor agregado e o preço do produto. E, sincronicamente, melhorar a saúde. "Eu quero passar Matusalém, viver 150 anos", gargalha. "E com saúde, não adianta ficar velho sem saúde. E para a saúde, em primeiro lugar, é o que entra pela boca".

Serviço

Mais informações sobre a Festa da Aroeira no instagram do Regenera Rio Doce.

Para encomendar óleo orgânico de Aroeiro com o S. Jerônimo, o telefone é 27 99706-1542

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