Renata Oliveira e Nerter Samora
O Papo de Repórter desta semana analisa as principais movimentações do mercado político. Entre os principais destaques dessa semana está o retorno das férias do governador Renato Casagrande, que mira uma virada social até o final deste mandato. Já a semana da classe política foi marcada por uma forte movimentação das principais lideranças municipais.
Nerter – Esta foi a primeira semana completa em dias úteis do ano e no cenário político já dá para fazer algumas análises sobre as movimentações da classe política para 2013. A semana foi rica de acontecimentos e por isso, acho que podemos separar alguns pontos para avaliar seus contextos. Que tal começarmos com a posse dos novos deputados estaduais na segunda-feira (7). O fato que mais chamou a atenção foi a polêmica em torno da posse de Paulo Roberto (PMDB) em uma vaga que, segundo o vereador de Colatina, Olmir Castiglioni (PSDB), pertence à coligação. Coligação da qual o PMDB não fez parte em 2010.
Renata – Quando conversei com o vereador, ele destacou um ponto que deixou muito claro o que está acontecendo. Disse que acreditava na Justiça, mas tinha medo das manobras políticas por trás desse jogo. De fato, Paulo Roberto é ligado ao ex-governador Paulo Hartung (PMDB), foi seu líder de governo, após chegar a Assembleia também em uma manobra para tirar o indesejado pelo Palácio Anchieta, Jardel dos Idosos. Agora, com o retorno de Euclério Sampaio (PDT) e ainda diante de uma possível entrada de Max Mauro (PTB) na Assembleia, Hartung precisa de um aliado de confiança para combater seus adversários. Por isso, a manobra a qualquer custo para manter Paulo Roberto na Casa.
Nerter – Um grande indício desse movimento é que o grande articulador de tudo isso é o novo amigo de infância do ex-governador, o Theodorico Ferraço (DEM). E por falar em Ferraço, o que foi essa sessão de posse dos suplentes? Parece que ele articulou a solenidade para dar visibilidade ao projeto da tarifação do petróleo, mas não conseguiu, não é?
Renata – Pois é. Enquanto o Rio de Janeiro conseguiu projeção nacional da matéria, o Ferraço, que parece mesmo ter aberto espaço para o filho, o senador Ricardo Ferraço (PMDB) tirar a má impressão que causou no episódio dos royalties, em Brasília, assim como a bancada capixaba de maneira geral. Mas o espetáculo não surtiu muito efeito, não.
Nerter – Já o governador Renato Casagrande continua vivendo seus momentos de altos e baixos no governo do Estado. Altos pela movimentação política e baixos pelo desempenho nas questões administrativas. Politicamente ele conseguiu finalmente encaixar Esmael Almeida (PMDB) na Casa Civil, mandando de volta o petista Rodrigo Coelho para a Assembleia e acomodando o também petista Helder Salomão na Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos. Mas ele começa a deixar a coisa correr frouxa na área da segurança e isso pode custar caro.
Renata – Sim. Na terça-feira, ele chamou os prefeitos para conversar sobre a questão da segurança e saiu no site da prefeitura de Vila Velha que Rodney MIranda (DEM) foi chamado para avaliar o programa Estado Presente. Olha só, o Rodney está criando uma situação completamente desfavorável ao governador, deixando a impressão que sabe muito mais do que o governo sobre o assunto. Esse tipo de discurso sorrateiro gruda, dá certo. E para melhorar, Casagrande não quer admitir a inoperância dessa área, mantendo dois secretários que são ligados ao Rodney: Herkenhoff (Segurança) e André Garcia (Ações Estratégicas).
Nerter – Casagrande parece ter adotado a Saúde como o caminho a seguir para imprimir sua marca de gestão e se credenciar para 2014. É um caminho acertado, porque tem efeito imediato na população, mas se deixar a coisa da segurança de lado, vai abrir um espaço para que seus adversários possam enfrentá-lo. E esse é um problema também: o fato de o governador ter criado uma base política ampla não significa que tenham jogadores de outro time infiltrados em sua equipe. E quando a gente observa a movimentação de determinados aliados dele, ou até mesmo, membros de sua equipe, isso fica muito claro.
Renata – Além de tentar legitimar uma excelência na área de segurança, que ele não tem. Outra movimentação do prefeito de Vila Velha foi a de tentar prejudicar o futuro político de seu antecessor. Naquela linha do que vale é o que se fala primeiro, Rodney, que agora tem espaço na mídia, diferentemente de Neucimar, tem feito questão de mostrar uma desorganização na gestão anterior e a esperança de que ele vai dar jeito. O tradicional bota-fora de aliados do antecessor virou uma vitrine de moralidade, mesmo sendo apenas uma retirada dos antigos para abrir espaço para os seus 900 cargos comissionados. Deu na mesma, mas quem ficou com a fama do cabide de emprego foi Neucimar.
Nerter – Mas diferentemente de Sergio Vidigal (PDT) que deixou um rombo de R$ 200 milhões, como alega o sucessor, e o fato de ter sofrido uma derrotada pesada para Audifax Barcelos (PSB), Neucimar recebeu uma votação alta. Uma massa de votos que o levou para o segundo turno e tem capilaridade para disputar em 2014. Mas isso não quer dizer que vai ser tão fácil assim. Pelo visto, o caminho está livre para Rodney tentar colar aquele velho discurso do “bem contra o mal”, quase a repetição daquele velho discurso do velho e do “Novo Espírito Santo”.
Renata – Enquanto isso, a disputa para o Palácio Anchieta segue sem grandes novidades, com o governador pavimentando o caminho para a reeleição…
Nerter – Verdade. Mas para isso, o governador vai continuar tentando vender essa “mudança de hábito”. Já que o ano de 2013 tem a ver com a necessidade do socialista para o eleitor a imagem de bom gestor, que ainda falta ao seu governo.
Renata – A questão e que ele tem menos de dois anos para isso. Precisa convencer a população da necessidade da continuação de seu governo para garantir avanços na área social, pauta pela qual foi eleito.
Nerter – Ninguém quer saber se ele foi um articulador político qualificado ou não, mas se foi um bom governante.