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???Como vamos falar em ir para um governo que bate em Dilma????

Rogério Medeiros e Renata Oliveira

Fotos: Leonardo Sá

 
Neste sábado (15) o PT se reúne para começar a discutir o futuro do partido no Estado depois das eleições. No mercado político, duas teses são consideradas pelas lideranças: aderir ao projeto do governador eleito Paulo Hartung (PMDB) e ajudar na interlocução com o governo federal ou construir um projeto alternativo para o Estado.
 
O grupo do presidente regional do partido João Coser defenderia a primeira tese, mas há dentro do partido insatisfeitos com a aliança. Filiado histórico do partido, Perly Cipriano defende que o PT busque as alianças com os movimentos sociais e com os partidos mais à esquerda.
 
Ele entende que não há como fazer aliança com o PMDB no Estado depois das críticas do governador eleito ao governo Dilma. Nesta entrevista, que excepcionalmente Século Diário publica nesta sexta-feira (14), Perly explica os motivos dessa impossibilidade e aponta os caminhos para o partido no Espírito Santo.

 
 
Século Diário – Na semana passada, o coordenador da campanha de Dilma no Espírito Santo, Tarciso Vargas – em entrevista a Século Diário – ressaltou a necessidade de o PT capixaba não retomar as mesmas alianças que estabeleceu nos últimos 12 anos e elaborar um projeto mais à esquerda e que esse teria sido o recado das urnas para o partido. O que acha disso?
 
Perly Cipriano – A votação de Dilma se deu às políticas públicas do governo federal no Espírito Santo, que o PT muitas vezes não entende muito bem. Não fez a divulgação devida e tampouco compreendeu o papel das políticas públicas. Os programas eleitorais de TV influenciaram e também parte da militância que assumiu a campanha. Acho que muita gente avaliou equivocadamente o potencial de votos de Dilma no Estado. Acho que daqui para frente o partido tem de estar em sintonia, de fato, com as políticas públicas em nível nacional. Tem que ter compreensão de que lideranças políticas ditas expressivas no Estado estavam do outro lado, governador, senadores, prefeitos, mesmo assim Dilma teve uma votação muito grande. Mostra que não são essas pessoas que conduzem os votos. Acho que são dois recados: sintonia com a política nacional e a aproximação com os movimentos sociais.
 
– Tarciso destacou também que os bônus desse projeto nacional não são capitalizados pelas lideranças petistas no Estado e o ônus de quando alguma coisa não vai bem vai todo para o PT. O que dificulta essa capitalização? Falta um projeto para o Estado alinhado com a nacional? 

 

– O PT tem dificuldade em divulgar aquilo que realiza. Todos os projetos de relevância e que atingem a população temos dificuldade em mostrar que são do governo federal e que o PT é um grande avalista. Esse é um problema que o PT vai discutir nacionalmente. Temos vários órgãos federais no Espírito Santo. Temos que nos perguntar quais são esses órgãos que estavam de fato em sintonia com o governo federal, que estavam defendendo as políticas federais. O órgão não é atrelado ao PT, mas a política tem de ser atrelada ao governo federal. Em alguns casos, esses órgãos estavam do outro lado. Quando acontece alguma denúncia, como no Dnit, por exemplo, o PT não tem influência lá dentro, mas fica com o ônus.

 

– Já que o senhor falou no Dnit, lá está um aliado do senador Magno Malta. A indicação é do PR, mas o senador não está mais no palanque de Dilma. 

– Essa é uma contradição que precisa ser enfrentada. O PT precisa de muitos partidos em sua base em nível nacional, mas é preciso que nos estados esses órgãos estejam ligados àqueles que estão alinhados com o governo. Temos que evitar que isso ocorra. Quem está fazendo oposição nos estados não pode nomear cargo federal, o partido sim, mas não uma indicação que não esteja afinada com o governo federal, porque o governo tem um programa e é preciso que haja essa sintonia. Isso é difícil porque algumas lideranças acham que são donas dessa vagas. Nas prefeituras e nos governos estaduais  acontece isso também, muitos equipamentos e programas são entregues e são passadas como se fossem apenas locais, não se reconhece a participação do governo federal. Exemplo disso foi a antecipação dos royalties no início do governo Paulo Hartung [em 2003], que foi importantíssimo para o Estado e poucas vezes se reconheceu isso.  

 

– Voltando para a discussão interna. Durante os oito anos do governo Paulo Hartung, o PT se afastou dos movimentos sociais, os retirou das ruas, Hartung recebeu o dinheiro e fez de conta que não recebeu, criou-se um discurso, corroborado pela mídia corporativa de que o governo federal nada fez pelo Espírito Santo. Veio o governo de Renato Casagrande, o PT continuou ligado ao governo e mais uma vez em silêncio diante das críticas. O PT foi omisso nessa defesa em favor da aproximação com esse grupo palaciano. As justificativas de que fez dois deputados federais e três estaduais não convencem, porque perdeu na majoritária e saiu enfraquecido. A discussão é interna. 

 

– Alguns petistas fazem uma certa confusão. O PT tem três frentes de atuação: uma na estrutura do partido, fazendo funcioná-lo; outra frente é dos movimentos sociais, que foi a origem do PT e às vezes alguns se esquecem; e a terceira frente é na institucionalidade. Ninguém pode virar deputado, senador ou mesmo presidente e não estar presente, não estar alinhado com os movimentos. A minha opinião sobre isso, já emiti isso no partido, é que nós pecamos. PT teve muito pouca ação externa, com o movimento social e precisa voltar a isso. Essa é a fonte da energia do PT. Ninguém pode apoiar o governo, seja ele quem for, e deixar de lado os movimentos sociais. Toda vez que fizer isso é um erro e toda vez que houver conflito de interesses do governo com o movimento social, temos que fazer a opção pelo movimento social. Fiz essa crítica externa porque o partido estava muitas vezes próximo de ficar imobilizado por causa do papel no governo. Elegemos dois deputados federais e três estaduais, mas o importante é daqui para frente. Ninguém foi eleito sozinho. Eles têm o compromisso de se voltarem para os movimentos sociais e fazerem a defesa do governo Dilma. Houve falha. 

– Qual a sua avaliação da carta da Articulação de Esquerda e qual o efeito dela dentro do partido?

 

– Eu li a carta. Algumas coisas eu concordo, não concordo plenamente, porque o PT não começou a entrar no governo Paulo Hartung em 2006, foi em 2003. Mas a carta é boa. Fazer esse debate é bom. O debate está só começando. No dia 15 vamos começar a discutir isso. Eu  vou dizer, por exemplo, que eu vi gente que não fez campanha para Roberto Carlos, que teve gente que não fez campanha para João Coser e que teve gente que não fez campanha para Dilma. Portanto, alguma coisa estranha, absurda e berrante estava acontecendo. Como podemos ter um candidato a governador que a militância não estava defendendo? Quem era o candidato a senador? João Coser. Tinha divergência? Tinha, mas foi definido e tínhamos que fazer a campanha para ele. E Dilma também. Algumas pessoas acharam que Dilma teria desgaste no Espírito Santo e não fizeram a campanha. Se equivocaram. Todos aqueles que não fizeram campanha para Roberto Carlos, João Coser e Dilma cometeram um erro e não é um erro de avaliação apenas, é contra o partido e temos que rever isso. Eu inclusive defendo e o governo federal está propondo que a gente crie um comitê em favor da democracia.

 

– O PT nacional também está indo nesta linha de reaproximação com os movimentos sociais.

 

– No próximo dia 29 vamos ter um encontro para discutir isso e chamando não só os eleitos, mas os movimentos para participar. Temos que criar um movimento em favor da democracia, porque estamos vendo pessoas indo para a rua pedindo o retorno da ditadura e dos militares. Essas pessoas não têm noção que na última segunda-feira completou 45 anos do decreto de Médici proibindo que os jornais citassem negros, índios, guerrilha, grupo de extermínio, esquadrão da morte.
 
– Neste sábado (15) o partido vai para o debate do diretório com duas propostas na mesa: ir para o governo de Hartung ou não. De um lado, há João Coser com interlocução constante com o governador eleito e do outro lado, correntes como a sua CNB e a Articulação de Esquerda, que são contra, mas são minoria. Como se dará esse debate?

 

– Acho que neste sábado não se discute e não se decide isso. Será uma análise de conjuntura. O PT tem essa característica. Costumo dizer que nem Cristo se entrasse no PT teria unanimidade. Acho que falar em levar o PT para o governo Paulo Hartung seria levar o partido para uma briga interna extremamente grave. Como vamos falar em ir para um governo que bate em Dilma? 

– Há uma outra questão aí, Quando Coser articulava essa aproximação com o Paulo Hartung, inclusve durante o processo eleitoral, ele tinha um capital político maior, acreditava-se que ele seria o senador. Agora, ele sai derrotado das urnas, terminando em terceiro lugar, isso pode refletir para dentro do partido também…

– Todo mundo diz que o PT se reúne muito e não decide, mas acho que tem que se reunir muito e cada vez as decisões tem de ser mais coletivas. Acho que aqueles que equivocadamente não seguem esse procedimento, acabam se desgastando. Acho que João, eu particularmente, achava que ele tinha muita condição de ser o senador. Ele já fez uma avaliação, outras avaliações serão feitas, mas possivelmente cometeu erros, senão teria essa chance. É preciso conversar isso internamente e externamente, porque algumas pessoas fizeram corpo mole na campanha do João…

– Mas isso reflete uma insatisfação…

 

– Da mesma forma que vi gente que não fez campanha de Roberto Carlos e de Dilma. Não estou dizendo que isso é um fator determinante, mas revela uma insatisfação.

– Isso reflete a movimentação do processo eleitoral, o PT queria ficar com Casagrande, João tentou levar para o Paulo Hartung e acabou que o PT ficou sozinho…

 

– A candidatura de Roberto Carlos, neste sentido foi importante para nós, porque senão correríamos o seguinte risco: essas pessoas iriam fazer campanha do Paulo Hartung ou do Renato. Tendo um candidato nosso, as pessoas poderiam dizer que ele é nosso candidato, poderiam até não fazer campanha para ele, mas teriam vergonha. Seria uma coisa que deixaria o partido muito fragilizado. 
 
– Mas o que se comentou na campanha foi outra coisa. A candidatura de Roberto Carlos foi colocada como uma candidatura laranja, que teria sido definida depois de um encontro dele, intermediada por Coser no escritório de Paulo Hartung… 

 

– Eu sou minoria dentro do PT capixaba, mas já defendi muitas vezes que o partido deveria ter candidatura própria porque aí você pode discutir com os aliados. O partido demorou a discutir eleição com aliados. Discutimos pouco.

 

– Mas havia a candidatura de Iriny Lopes que disponibilizou o nome e o PT fechou as portas para ela.

 

– Não foi exatamente assim. Haviam os nomes e em um dado momento o PT definiu uma conversa com o Casagrande, depois definiu fazer uma conversa com Hartung e depois, lamentavelmente ficamos em uma situação difícil, porque nem o Hartung queria mais e nem o Casagrande, sem entrar nos méritos dos motivos deles. Então, um projeto de candidatura que seria discutido bem antes, estruturada, ficou fragilizada. Mas acho que deveria ser uma coisa mais discutida, com um projeto de governo.

– O PT passou 2013 inteiro falando que precisava fazer um programa de governo, isso durante a discussão do PED, mas o PT não fez…

– Teve uma iniciativa interessante. Fizemos reuniões em várias regiões e definimos as diretrizes, mas esse teria de ser o grande instrumento para discutir com os outros partidos. 

 

– Mesmo com o início da discussão no dia 15 indicar que essa definição vai demorar um pouco. Acha que é possível o realinhamento com Paulo Hartung?

 

– Eu vou emitir só a minha opinião inicialmente. Eu acho que não deve. Mas essa é uma decisão que as instancias do partido devem tomar. É preciso avaliar quais os compromissos com o Estado e com o governo federal, mas acho que essa é uma avaliação que o PT tem de fazer com urgência.

 

– Então, o que começa a ser discutido neste sábado?

 

– Acho que será uma avaliação. Já existe o documento da Articulação de Esquerda e vão surgir outros documentos, na minha avaliação. No dia 29 vai ter essa reunião da nacional que vai definir como será nossa posição, vai ser uma orientação.  Tivemos forças que são críticas ao governo Dilma, como bancários, os servidores dos Ifes, forças do PSol e do PCO que diante do embate e das ameaças que surgiram apoiaram o governo. São com essas forças que o partido tem de dialogar agora, no sentido de fazer uma aliança mais à esquerda.

– Neste sentido, sua opinião e a de Tarciso Vargas se afinam…

– Sim. Eu li a entrevista dele. Achei centrada, firme e propositiva. Acho que essa resolução do PT nacional é uma virada. Vamos ter que fazer avançadas de defender a democracia e fazer essa ligação com os movimentos, porque não são as lideranças tradicionais que definem a eleição, as urnas mostraram isso. 

 

– Essa aproximação dos movimentos sociais se deu por uma questão pontual, pelas circunstâncias da eleição. Mas o PT esteve afastado dos movimentos sociais todos esses anos, vocês falam em diálogo com esse grupo, mas como fazer essa reaproximação? 

– O PT tem inserção nos movimentos até por sua origem, tem feito conferências nacionais que são fantásticas. Aqui, se você fizer essa relação, seja a CUT, movimentos sociais, comunitários, o PT tem inserção em todos eles, não somos os únicos, mas temos. Mas temos que aperfeiçoar o debate, ouvir mais, as críticas também. Muitas vezes as pessoas burocratizam seus cargos, devem ouvir mais a militância e os movimentos. O movimento de junho e julho do ano passado não veio querendo mudar, veio pedindo alteração de comportamento ético e moral e o partido tem de rever isso. O PT sofreu muitos desgastes, não só na mídia, mas por muitos interesses e isso precisa ser revisto. 

 

– O partido pode seguir o caminho de Coser e intermediar a relação do governo do Estado com o governo federal e a relação com a Câmara dos Deputados estão exigindo coisas dessa natureza e Paulo Hartung tem a maioria da bancada. O PT tem dois deputados, Helder Salomão que tem relações com Hartung e Gilvaldo menos, mas transige. O seu grupo fala em aproximação com os movimentos, mas o grupo de Coser tem a maioria.

 

– Hartung se elegeu criticando Dilma, mas está no PMDB que tem o vice-presidente Michel Temer…

 

–Mas convidado para o jantar do Temer, Hartung não apareceu…

– Eu sei, mas o que vamos cobrar desses partidos é que tenham coerência com a política nacional. E se não tiverem vamos constituir uma articulação com os movimentos, temos que construir uma alternativa para o Espírito Santo. 

 

–  Além dos dois deputados federais que são próximos de Hartung a bancada estadual também é uma incógnita. Rodrigo Coelho foi reeleito e é um dos reféns do controle que Hartung já tem da Assembleia por meio do Paulo Roberto; o padre Honório não tem o DNA petista e Nunes vem do movimento sindical, mas não se sabe qual será o comportamento dele na Assembleia. 

 

– Helder é um deputado que não dependeu de ninguém para se eleger, porque tem sua votação em Cariacica garantida e Gilvaldo circulou o Estado todo e tem condições eleitorais boas, vai ser um bom deputado. Rodrigo Coelho teve uma boa votação em Cachoeiro. O Padre Honório teve o apoio da igreja e dos movimentos sociais na região noroeste e Nunes vai também representar o partido. Cabe ao partido cobrar dessas lideranças o diálogo com os movimentos sociais e com seus próprios mandatos  e seus mandatos têm de estar em sintonia com o governo federal e quem não fizer isso vai dar com os burros n’água. Acho que o PT  teve uma votação boa e são pessoas que vão desempenhar bons mandatos. E ninguém vai controlar o PT

 

– Coser tem a maioria…

– A nacional está acompanhando e vamos ter que fazer esse partido funcionar melhor, vamos ter que fazer o diálogo com os movimentos sociais e fazer os mandatos em defesa da Dilma e seus programas. 

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