domingo, fevereiro 16, 2025
22.9 C
Vitória
domingo, fevereiro 16, 2025
domingo, fevereiro 16, 2025

Leia Também:

Onda da mudança chega ao PMDB, mas pacto pela continuidade está selado

Nerter Samora e Renata Oliveira

 

Para não entrar em atrito com o ex-governador Paulo Hartung, o governador Renato Casagrande deve garantir reeleição do deputado federal Lelo Coimbra na presidência do partido. 

 

Nerter – Neste fim de semana, os filiados ao PMDB foram às urnas para escolher os presidentes dos diretórios municipais de olho na eleição da estadual, que acontece no próximo mês. Mas, além dos rumos do partido, a partir da eleição da estadual, está em jogo também o tabuleiro político do Estado. O presidente estadual da sigla, Lelo Coimbra, mantém o PMDB nas mãos do ex-governador Paulo Hartung e lhe dá um instrumento político para tentar se recolocar no cenário de 2014, depois do desgaste provocado pelas derrotas nas eleições deste ano. Se outro nome for escolhido, o ex-governador perderá o controle do partido e aí ficará muito difícil para ele se recolocar no jogo. 
 
Renata – A insatisfação da base do partido com a gestão de Lelo Coimbra é conhecida já há algum tempo. Ao chegar ao comando do PMDB, o deputado federal entregou o destino da sigla aos interesses do grupo do ex-governador Paulo Hartung. Isso trouxe muitos atritos internos, sobretudo, com os chamados peemedebistas históricos. Lelo não fala para dentro do PMDB, e quando fala, deixa claro seu interesse em advogar em favor de Hartung e do senador Ricardo Ferraço, o que nem sempre atende aos interesses das demais lideranças do PMDB. Ao começar a movimentação da eleição no partido, o primeiro nome a se colocar a disposição para bater chapa com Lelo, foi a deputada federal Rose de Freitas, o que era natural, já que ela é a voz mais forte contra a hegemonia do grupo que hoje comanda o partido. 
 
Nerter – Sim, mas essa solução também não atende aos interesses da base peemedebista. Rose é uma deputada municipalista, trabalha em favor do fortalecimento de um grupo de prefeitos a ela ligados, mas não são todos do partido. Esse perfil de Rose voltado para as lideranças e não para o partido também não resolve o problema. Então, caso fosse eleita Rose, seria mais uma presidente que falaria em favor de interesses que vão além da sigla. 
 
Renata – Não é isso que os peemedebistas querem. Eles querem fortalecer o partido… 
 
Nerter – Com certeza. Não é de hoje que o PMDB vem atuando como força auxiliar no jogo político do Estado. Tem a maior bancada da Casa, um senador, já teve o governo, uma boa porcentagem de prefeitos e vereadores, mas não se firma como força política. Hartung era o líder político, mas ele nunca foi um nome partidário. Pelo contrário, até. Sua liderança não puxava com ele a força da sigla. 
 
Renata – A solução pretendida pela base não vai se concretizar, o nome do líder do governo na Assembleia, deputado estadual Sérgio Borges, era o sonho de consumo da base peemedebista, mas ele não vai se candidatar, não vai se meter nisso, até porque é leal ao Palácio Anchieta, que também se meteu na história. Nesta necessidade de Renato Casagrande em não entrar em atrito com seu antecessor, vai intervir na disputa interna do PMDB, para garantir a reeleição de Lelo Coimbra e com isso, manter o que resta do capital político de Paulo Hartung.  
 
Nerter – O governador vai se movimentando de forma habilidosa. A não candidatura de Borges poderia forçar uma migração de votos para Rose de Freitas, como forma de protesto dos insatisfeitos com a gestão de Lelo. Mas que o clima no partido não deve ficar muito bom, isso não vai ficar mesmo. Basta olharmos um pouco para trás. Foi o vice-presidente da República, Michel Temer quem manteve Lelo Coimbra à frente do PMDB até 2013. 
 
Renata – Mas foi a Nacional quem determinou a realização das eleições no Espírito Santo…
 
Nerter – Esse é um momento de reconfiguração do partido. Não apenas aqui, mas no restante do País. É claro que o recado implícito nesta história toda é de que seria essa a hora da mudança dentro do partido. Mas pelo andar da carruagem, mas uma vez quem vai decidir isso não vai ser a base do partido e sim a cúpula. 
 
Renata – De qualquer forma, esse é o único caminho para Hartung. A ideia era a de fortalecer o PSDB, vencendo a disputa em Vitória, para que ele e seu grupo pudessem retornar ao ninho tucano, com um trunfo na mão, já que a Capital é uma grande vitrine política. Isso daria musculatura para que Hartung chegasse em 2014 com o capital político recuperado, mas isso não aconteceu e hoje o PSDB é um partido que não tem mais condições de dar a Hartung o fortalecimento que ele pretendia. Como já criou dificuldades em vários partidos pelos quais passou, o que resta é tentar fortalecer o PMDB para permanecer nele, mas se perder o controle do partido, ficará sem saída. 
 
Nerter – O saldo das eleições passadas para o ex-governador não foi dos melhores. Por isso, os movimentos de Hartung para conquistar espaço na se resumem ao PMDB. Seus emissários começam a ventilar, ainda que timidamente, uma possível entrada do ex-governador na disputa ao Senado. Evidentemente, Hartung não entraria em uma disputa para fora do Espírito Santo. Sabe que seu poderio político não ultrapassa os limites do Estado, mas a sua predileção pelos balões de ensaio já são conhecidos da classe política. A ideia, seria lançar essa bravata para tentar limpar o campo dessa disputa e depois decidir qual seria o melhor caminho. A possibilidade de ele disputa a eleição já inibiria uma entrada da deputada Rose de Freitas e minaria de vez as pretensões de Guerino Balestrassi. Só não tiraria da disputa a deputada Iriny Lopes, caso o PT entenda que ela deva disputar a vaga ao Senado.
 
Renata – Parece que Iriny está se especializando em virar uma pedra no sapato de Hartung. É claro que a ideia é absurda, mas imagine os dois brigando por uma única vaga ao Senado em uma eleição em que falamos em cerca de dois milhões de votos, não seria uma briga boa? Confesso que gostaria de ver Hartung disputando uma eleição de verdade, com um adversário de peso, que tenha condições de rivalizar com ele, promovendo um debate amplo, político, democrático. Mas acho que isso nunca vai acontecer. 
 
Nerter – Mas o que vai acontecer já foi costurado e dá para entender muito bem, quando analisamos o cenário futuro. Casagrande, apesar de ter se consolidado como liderança política, continua sendo a estrela maior de um partido pequeno. Sendo assim, precisa do apoio de sua base política para consolidar sua reeleição. Neste contexto, não quer desfazer a aliança com um partido forte como o PMDB. Usando e abusando do jogo se cintura, ele vem acomodando os aliados, ocupando os espaços e fazendo as articulações de forma muito cautelosa para evitar conflitos. Assim, ele vai se fortalecendo e abrindo o caminho para construir seu palanque em 2014. 
 
Renata – Como Casagrande de bobo não tem nada, tem atuado de forma a evitar um conflito com Hartung que, apesar do desgaste causado pelo processo eleitoral deste ano, sempre é um perigo, seja no enfrentamento direto ou nas movimentações de bastidores. Por isso, é melhor mantê-lo como aliado. Até porque não há nada, até aqui, que mostre uma intenção de Hartung em disputar o governo ou o Senado. O que ele quer é estar no jogo político, compartilhar com Casagrande o poder de decisão sobre o mercado. 
 
Nerter – Mas, em se tratando de Paulo Hartung é sempre bom ficar com o pé atrás. A ideia de tê-lo por perto é mais do que uma forma de não criar incompatibilidade com o antecessor. Vamos conferir qual será a carta na manga do governador.

Mais Lidas