“Não é porque um estudante vai conhecer a história dos índios, dos ciganos ou do nazismo que ele vai se tornar índio, cigano ou nazista”. A posição é do diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado (Sindiupes), Gean Carlos Nunes, ao lamentar o posicionamento de vereadores na Grande Vitória sobre a ideologia de gênero nos Planos Municipais de Educação (PMEs).
Em Vitória, os vereadores modificaram o projeto, tirando a discussão do plano. Já na Serra, Guto Lorenzoni (PPS) e Jorjão (SD) apresentaram projetos para retirar a discussão do plano, que já havia sido aprovado no legislativo municipal.
Para o diretor do sindicato, os vereadores não querem que as informações cheguem até os estudantes, porque isso cria consciência crítica. “É lamentável a postura dos vereadores, que são pagos pela população para exercer o mandato, e são pagos também pela população LGBTT. Isso é preconceito puro”, disse.
Gean Carlos também criticou a posição da igreja, que orientou pela retirada da discussão do plano. “Essa postura vai de encontro à orientação do Vaticano. O papa já se manifestou, dizendo ‘quem sou eu para julgar os homossexuais’. Nós que tanto criticamos a Argentina, agora tomamos uma lição dos nossos vizinhos, não só no futebol, mas também nessa área”.
O arcebispo de Vitória, Dom Mancilia Vilella divulgou recentemente uma carta em que afirma que “como muitas famílias não sabem bem o que é [ideologia de gênero], não conseguem avaliar e se defender diante do perigo que este 'veneno ideológico' pode causar no meio familiar, escolar e na boa convivência entre os cidadãos de bem”, afirmou.
Mas não é só a Igreja Católica que vem se mobilizando contra o debate de gênero nas escolas. No último fim de semana, o senador Magno Malta (PR) participou de um evento em Aracruz, no norte do Estado, contra a inclusão de gênero no Plano Municipal da Educação. Para o senador, essa discussão tira da família a responsabilidade de educar os filhos quanto à sexualidade, passando para o professor a responsabilidade de orientar crianças sob a opção sexual.
Na discussão do Plano Estadual de Educação (PEE) também houve tentativa dos líderes religiosos de discutir a questão com os deputados estaduais, mas como o projeto foi aprovado a toque de caixa, não houve tempo para essa articulação. Nada impede, porém, que algum deputado tente retirar a questão, por meio de projeto de lei.
Para os meios políticos, essa pressão da igreja, não só católica, mas também evangélica, faz com que os legisladores atuem pela retirada da discussão do plano. A proximidade do processo eleitoral de 2016 também influi na discussão, já que muitos têm como base eleitoral uma fatia conservadora da sociedade.