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Cesan autoriza coleta de esgoto para estudo sobre Covid-19 após dois meses de espera

Metodologia que analisa presença de fragmentos genéticos é utilizada com sucesso na Europa e outros estados brasileiros

Josué Damacena/Fiocruz

Após dois meses de incompreendida espera, finalmente a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan) autorizou a coleta de amostras de esgoto pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para a realização de estudos sobre presença de fragmentos genéticos do novo coronavírus (SARS-CoV-2) – metodologia já utilizada com sucesso em alguns países da Europa e em estados brasileiros. 

A informação foi transmitida pela direção da empresa Serra Ambiental ao professor Ricardo Franci, coordenador do Núcleo Água do Departamento de Engenharia Ambiental da Ufes e integrante da equipe multidisciplinar que executa dois projetos utilizando a ferramenta de detecção da prevalência da Covid-19 a partir da análise de esgoto.

Engenheiro civil e sanitarista, Ricardo Franci conta que a equipe está muito feliz com a aguardada notícia e que as coletas começarão tão logo detalhes logísticos sejam definidos em uma reunião com as concessionárias Serra e Vila Velha Ambiental.

Ambas já havia concordado com o projeto universitário desde junho, mas, devido à Parceria Público-Privada (PPP) estabelecida com a Cesan, precisavam da autorização da companhia para permitir as coletas nos efluentes solicitados.

Outras duas instituições também já aprovaram a iniciativa, liberando financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundo de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).

Pressão parlamentar

A informação da autorização pela Cesan aconteceu pouco depois da reunião virtual da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa realizada na manhã desta terça-feira (18), onde o microbiólogo e coordenador do Laboratório de Análises do Centro de Pesquisa e Inovação e Desenvolvimento (CPID) da Ufes, Sérvio Túlio Alves Cassini, apresentou o projeto e pediu apoio dos parlamentares para vencer a “resistência de algumas pessoas que comandam essas instituições [hospitais e empresas] no sentido de permitir o acesso ao esgoto despejado na rede pública”.

Segundo noticiado pelo legislativo, o professor afirmou que o objetivo dos estudos não é fazer denúncia contra nenhuma instituição específica, mas mapear para o governo estadual o grau de contaminação por Covid-19.

Na reunião, os deputados Doutor Hércules (MDB) e Dr. Emílio Mameri (PSDB), presidente e vice da Comissão de Saúde, respectivamente, disseram que iriam intermediar uma reunião entre os pesquisadores e o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, para expor o problema da resistência de alguns setores na autorização de coleta do material necessário ao estudo.

“Queremos que o secretário tome uma medida, pois isso dificulta muito a realização dessa pesquisa que é muito importante no enfrentamento dessa pandemia”, disse Doutor Hércules. O deputado tem uma agenda nesta quarta-feira (19) com o secretário, onde irá abordar o assunto.

Calibragem

Com a demora na liberação pela Cesan, a equipe do projeto voltado a identificar a prevalência de Covid-19 entre a população da Grande Vitória e de algumas cidades do interior – o outro projeto é voltado à prevalência da doença em pacientes de dois hospitais que tratam de Covid-19 na região metropolitana – iniciaram tratativas com Serviços Autônomos de Água e Esgoto (Saae) e fizeram uma primeira coleta no canal da Costa, em Vila Velha.

Sobre esse material, estão sendo feitos ajustes na metodologia. “Ainda não temos resultado válido. A metodologia é complexa e precisa ser calibrada em laboratório”, explica o professor Ricardo Franci, referindo-se à adaptação da metodologia à realidade do canal da Costa. A princípio voltado a efluentes de esgoto bruto, o método requer calibragem para o estudo de um corpo híbrido, onde há diluição do esgoto, mesmo se tratando de um corpo hídrico com elevada concentração de esgoto como é o canal da Costa.

Grosso modo, a metodologia é semelhante à dos testes PCR feitos em muco humano no Laboratório Central (Lacen) e que são uma das principais formas de confirmar a contaminação no Estado, cujas notificações são inseridas no Painel Covid-19. Para cada tipo de material, é preciso um método específico de análise.

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