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Taxa de transmissão já mostra risco extremo e alto em todo o ES, alerta epidemiologista

MPF recomenda inclusão do indicador na Matriz de Risco, com base em nota técnica do Núcleo de Estudos Epidemiológicos

Hélio Filho/Secom

A Grande Vitória já está com risco extremo e todo o interior do Espírito Santo com risco alto de contaminação pelo novo coronavírus. O novo Mapa de Gestão de Risco só ainda não mostra essa realidade porque a Taxa de Transmissão (Rt) ainda não foi incluída na Matriz de Risco Ampliada. 

A afirmação é da epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e integrante do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que subsidia tecnicamente a Sala de Situação de Emergência em Saúde Pública do governo do Estado. 

O motivo é que a taxa atual, de 1,84, é muito elevada, indicando um crescimento exponencial muito perigoso e a necessidade imediata de adoção de medidas mais duras de restrição de interação social.“Sem uma vacina, a única forma de romper a cadeia de transmissão do vírus é impedir o contato entre as pessoas”, explica a epidemiologista. 

No mapa de Gestão de Risco mais atual, que passará a vigorar neste domingo (24), nenhum município capixaba está com risco extremo, doze estão com risco alto, 48 com risco moderado e 18 com risco baixo. A inclusão da Rt pintaria todo o interior do Estado de vermelho e a Grande Vitória de roxo, descreve Ethel. 

A inclusão do indicador na Matriz de Risco Ampliado foi recomendada pelo Ministério Público Federal (MPF), que deu prazo até a próxima quarta-feira (27) para que o governo se manifeste, seja argumentando o porquê da não inclusão, ou de que forma irá proceder com a medida, detalhando ainda as providências que serão tomadas nesse sentido. 

A recomendação se baseou na Nota Técnica 02/2020 do NIEE, onde os especialistas narram a evolução da Rt desde o início da pandemia. Na semana do dia 16 de março, quando as primeiras medidas de restrição de interação social começaram a ser decretadas pelo governador Renato Casagrande (PSB), a taxa estava próxima de 3. 
Passadas sete semanas de medidas de controle, a taxa baixou quase pela metade, chegando a 1,57. Os dados, enfatiza o MPF, “demonstram que as medidas de distanciamento social implementadas, inicialmente, foram eficazes, ocasionando desaceleração do número de internados e de pessoas que poderiam ir a óbito”.

A taxa continuou aumentado e, segundo a nota técnica, saltou rapidamente de 1,64, para 1,84 nos últimos dias. “O que demonstra que o distanciamento social mais flexível adotado recentemente, não possui a mesma eficácia do modelo anterio”, acentua o MPF.

Ponto irreversível

Ethel enfatiza que é somente abaixo de 1,0 que a Rt indica a redução da velocidade de transmissão do vírus e que é preciso alcançá-la urgentemente. Chega um momento em que que não se consegue mais retroceder. Quando o vírus começa a circular numa velocidade muito alta, não tem como voltar. É o que aconteceu nos EUA, na Itália, na Espanha. Se você perde o momento de romper essa cadeia de transmissão, não consegue mais voltar”, alerta, ressaltando que esse ponto crítico está muito próximo de acontecer nesse fim de maio.

As ferramentas para reduzir a Rt até um patamar seguro envolvem medidas de governo e mudança de comportamento individual das pessoas, acredita a epidemiologista, com base na análise da taxa nas últimas nove semanas. 
A redução significativa aconteceu durante a vigência do fechamento amplo do comércio na Grande Vitória, num período em que os especialistas e a população pensavam que a pandemia seria de menor duração, com apenas um pico de contaminação.

“A gente está aprendendo. No início achava que se prepararia para uma pandemia que duraria dois meses e as pessoas aderiram muito mais. Quando começamos a aprender ao longo do caminho que não é bem assim, as pessoas foram relaxando nas medidas de distanciamento”, descreve. “Com uma prevalência [percentual da população que já teve contato com o vírus] de 2,1%, a gente sabe que ela se estender por longo período”.

Atualmente, com o funcionamento alternado do comércio de rua nos municípios de risco alto e a obrigatoriedade do uso de máscaras, deveria, teoricamente, estar havendo uma redução gradual da taxa, mas não é o que acontece. “Alguma coisa está acontecendo. Apesar dessas medidas, não está sendo suficiente”, observa.

O fechamento do comércio já se mostrou uma medida eficaz, mas no atual cenário de consciência da longa duração da crise, do cansaço das pessoas em se manter distantes e isoladas e com a dificuldade financeira enfrentada pelos mais pobres, será que a medida teria a mesma efetividade? É preciso um esforço maior. 

Apoio financeiro

Nas periferias da Grande Vitória, os pequenos comerciantes não possuem condições financeiras de manter a subsistência com o fechamento de seus negócios, o mesmo acontecendo com os trabalhadores informais e uberizados.

O auxílio do governo federal é insuficiente e o fundo de aval disponibilizado pelo governo do Estado não chega a quem mais precisa pelo excesso de exigências burocráticas dos bancos executores, Bandes e Banestes. “O Estado tem que garantir que as pessoas possam aderir à quarentena de forma digna. Sem crédito é muito difícil pra essas pessoas que são micro”, roga.

Pacto social

Em paralelo, um pacto social precisa ser formado, unindo lideranças religiosas, comunitárias e de classe para orientar a população nos bairros, no sentido da disciplina para o distanciamento social e medidas de higiene. “Isso é urgente”, exclama, ressaltando o papel dos técnicos e equipes de governo em mobilizar essas lideranças para que auxiliem a encontrar as estratégias de comunicação mais apropriadas para fazer com que as informações sejam compreendidas e implementadas pelos diversos públicos.

Um bom exemplo nesse sentido, destaca, vem de Água Doce do Norte, no noroeste do Estado, onde o prefeito, Paulo Márcio Leite Ribeiro (DEM), decretou lockdown e reuniu todas as lideranças locais, convocando-as para o cumprimento da medida extrema.

Constrangimento

Por outro lado, entre as classes mais abastadas, expõe a especialista, há a falta de sensibilidade em sacrificar atividades de lazer em prol do conjunto da sociedade, como vem apontando o próprio governador Casagrande.

Há casos em que basta uma informação mais qualificada sobre a gravidade da pandemia e há outros, reconhece, em que “é preciso causar constrangimento em quem aumenta a interação social”, afirma. Independentemente do extrato social e da linguagem necessária para atingir cada público, o fato é que a tarefa está nas mãos de cada um de nós, governos, lideranças, cientistas e população, para o bem de todos.

‘Nosso maior erro tem sido reagir e não agir’, aponta epidemiologista

Para Ethel Maciel, faltam saúde básica nos municípios e apoio econômico às famílias. ES tem 7.693 casos e 325 mortes

https://www.seculodiario.com.br/saude/nosso-maior-erro-tem-sido-reagir-e-nao-agir-aponta-epidemiologista

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