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Pesadelo sem fim: falta de insumos e de profissionais se perpetua no Himaba

Funcionários exaustos e pacientes angustiados fazem a rotina do Hospital Infantil de Vila Velha

Sesa

Depois de chegar até a véspera de Natal de 2020 sem garantia de pagamento do 13ª salário, os funcionários do Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba) são submetidos agora a atraso no pagamento dos salários, ao mesmo tempo em que, como uma onda pandêmica, voltam a sofrer com novo aprofundamento da já comum falta de insumos básicos, o que dificulta ainda mais o trabalho cotidiano, cronicamente sobrecarregado com o quadro insuficiente de profissionais em diversos setores.

Mantido pelo governo do Estado, o Himaba é administrado desde novembro de 2019 pelo Instituto Gnosis, por meio de um contrato de gestão firmado com a Secretaria da Saúde (Sesa), substituindo a OS anterior, o Instituto de Gestão e Humanização (IGH). Ambas possuem diversas denúncias de corrupção em seu currículo no Espírito Santo e outros estados onde atuaram.

As denúncias, desta vez, chegam por técnicos de enfermagem. “O salário de fevereiro não saiu até o quinto dia útil. Faltam luvas, polivitamínico, fósforo quelato, fralda descartável. Não tem equipo, as crianças podem morrer!”, relata uma profissional, que pediu anonimato, com medo de represálias por parte da direção do hospital.

Em coro, uma mãe de criança internada desde o final de dezembro para recuperação de uma cirurgia cardíaca, relata as ausências que têm percebido: “faltam seringa, aquele caninho que leva soro pras crianças, não tem medicamento. Até comida! O leite com café vem até a metade do copo agora, antes vinha cheio!”, descreve. “Estou igual a presidiária aqui. O banheiro está só minando água, para tomar banho estou usando o banheiro de funcionário, que também é ruim, mas em comparação com esse é até chique. Isso tá errado”, lamenta.

As entrevistas ocorrem em um momento de expectativa sobre a abertura do processo de contratação de uma nova Organização Social (OS) para administrar o hospital. Há uma promessa para que a renovação aconteça até o final deste mês, mas até agora os funcionários não receberam qualquer garantia de que, finalmente, isso irá acontecer.

“Já tem um ano e três meses com o Gnosis. Eles queriam ficar só um ano, mas o Estado obrigou a ficar mais por causa da pandemia do coronavírus. Eles renovam o contrato automaticamente. A Sesa alega que em função da pandemia está sendo prorrogado assim”, descreve a técnica de enfermagem. “Não tiramos férias há mais de um ano. Só algumas pessoas que conseguiram tirar por 20 dias”, diz.

“O Himaba é referência em cardiopatia no Estado, mas os funcionários pediram demissão recentemente. A enfermeira estava desesperada, sem técnicos de enfermagem pra trabalhar!”, conta, acrescentando mais uma fragilidade de funcionamento do hospital.

“Nós queremos tranquilidade. Essa OS veio pra ficar seis meses e está há um ano e três meses. Os seis primeiros meses andaram corretamente, mas há bem mais de um mês que está faltando esses materiais. A gente quer uma posição. Não vão sair agora? Vamos ter que rasgar o aviso novamente?”, pergunta.

No primeiro cancelamento de aviso prévio, em novembro, a técnica conta que uma pessoa de nome Fabiana falou em nome da Gnosis que não seria feito qualquer tipo de pagamento extra em função da manutenção dos funcionários em atividade. Em janeiro, foi comunicada a emissão de um segundo aviso prévio em fevereiro, para a troca de OS em primeiro de março. Mas até o momento a medida não foi confirmada nem pela Gnosis, nem pela direção do hospital, nem pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Reincidências

O quadro relatado pela mãe e técnicos de enfermagem tem sido recorrentemente noticiado por Século Diário, que chegou a publicar, com exclusividade, o caso de morte de quase trinta bebês internados na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (Utin) em menos de três meses, entre outubro e dezembro de 2017.

Satisfação

Mas a situação contrasta frontalmente com o resultado de uma pesquisa contratada pela direção do Himaba e que revelou, no último dia 10 de fevereiro, uma satisfação média de 95,77% dos usuários, com o atendimento recebido.

Segundo a Sesa, 980 pessoas foram entrevistadas entre novembro e dezembro de 2020 e janeiro de 2021, e responderam a questões relacionadas à agilidade no atendimento, cortesia/clareza dos médicos, limpeza, alimentação e conforto, entre outros.


Sobre os resultados da pesquisa, a diretora técnica do Himaba, Cristina Abreu, evidenciou: “Estamos sempre nos empenhando para a melhoria da qualidade no atendimento, lógico que, o excelente, o 100%, estará sempre como uma meta nossa. A busca é incessante, seja nos processos de melhorias internos, que são realizados com afinco, na qualidade na assistência, no comprometimento profissional e nos treinamentos”, declarou.

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