Para se conhecer bem uma pessoa, ou duas, é preciso comer um quilo de sal juntas, diz um provérbio mineiro. Os casais A, B e C, todos mineiros, moram no mesmo edifício, vizinhos porta a porta e como não poderia deixar de ser, eram muito amigos. Convivência de longa data, visitavam um ou outro, saíam junto para um cinema ou um restaurante, essas coisas. Um dia Aurea, do casal A, teve a grande ideia de fazerem um cruzeiro marítimo. Por que não? pergunta Bete, do casal B, e os demais concordam, Sim, por que não?
Transatlântico escolhido, viagem programada, roteiros definidos, passagens tiradas, e tudo correu bem, com clima perfeito, sol e vento brando, cardápio excelente, boas atrações a bordo e nas escalas. Mas no segundo dia de viagem, Aurea e Aldo, do Casal A, começaram a brigar. O que está havendo? Vocês nunca brigam, estranhou Beto, do Casal B. Isso não é briga, é acerto de rota, explica Aldo. O tal acerto de rotas foi perdendo a direção a cada dia, ou pior, a cada hora.
Aldo dizia que a esposa era mandona – “Não sou mandona, apenas sei o que você deve fazer”, meu marido é que gosta de briga. “Não estou brigando, só estou explicando porque estou certo”. Entre um certo e dois errados, a temperatura foi se aquecendo e ninguém aguentava mais. Casais B e C ou saíam às escondidas dos dois, ou simplesmente se trancavam em suas cabines, jogando baralho ou assistindo televisão
Vendo sua cara viagem desperdiçada por causa de problemas alheios, Caio, do Casal C, chama os dois para uma conversa, explicando que um passeio de tal nível é para relaxar e desfrutar, em vez de se tornar uma arena para crise conjugal. Não estamos em crise, mas todo casal tem reajustes para definir responsabilidades, diz Aldo. Caio se espanta, Então foi sempre assim? Aurea e Aldo também se espantam, Foi sempre assim, vocês não perceberam?
Eram amigos há muito tempo, mas nunca ficaram juntos por tanto tempo. As brigas continuaram e nem eles se aguentavam mais, era cada um em seu canto. Os Casais B e C juraram nunca mais sair com eles, mas seriam discretos, sempre se pode arranjar uma desculpa ou outra. Não queriam ferir sentimentos ou arranhar a boa convivência entre eles. Afinal, quando não brigavam, eram boa companhia. Deixando o transatlântico, Caio, responsável pelo transporte da turma, vai pegar o carro que deixou no estacionamento.
Enquanto esperam por ele, Aurea pergunta aos demais se gostaram da viagem, e Cassia, do Casal C, resolve ser franca, Poderia ser melhor, se vocês não brigassem tanto… Aldo diz que as brigas são necessárias para limar as arestas., Limando as arestas vocês estragaram nossa viagem. Por que não se separam? sugere Beto, do casal B. Chocados, Aurea e Aldo dão meia volta e pegam um táxi, pondo um triste fim na longa amizade entre eles. Mas o casamento continua firme.
